Por que desisti de ser dono de uma agência digital

Chico Montenegro - 9 mar 2015Chico Montenegro vendeu sua participação na agência Social Tag para seguir seu coração – dentro dele batia uma missão: ajudar as pessoas a também seguir o que seu coração lhes diz
Chico Montenegro vendeu sua participação na agência Social Tag para seguir seu coração – dentro dele batia uma missão: ajudar as pessoas a também seguir o que seu coração lhes diz
Chico Montenegro - 9 mar 2015
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Por Chico Montenegro

 

Empreender nunca foi um bicho estranho para esta cara aí da foto. Nordestino que veio para São Paulo aos 3 anos, quando seus pais resolveram mudar de vida, os desafios já estavam presentes desde essa época. Filho de pais analfabetos, pai zelador de condomínio e mãe doméstica, sempre trabalhei com o que aprendi no dia a dia com minha mãe e com o que sempre amei fazer: ajudar pessoas a serem mais felizes.

Já tentei ser jogador de futebol profissional, vender iogurte em condomínios da periferia, fui office-boy no centro de São Paulo e, aos 22 anos, abri minha primeira empresa, a Pluga Web, uma agência de design focada em pequenos negócios. Tive quatro funcionários e, dois anos depois, vendi a empresa.

Empreendi como consultor, tive uma empresa de alarmes automotivos, a Sevemcar, que faliu, e, em 2009, criei o primeiro blog coletivo dedicado a redes sociais e comunicação digital do Brasil, o Coletivo Mídia Boom. Vendi o blog cinco anos depois. Em 2010, sonhei entrar definitivamente para o mercado de marketing digital, buscando me tornar um dos melhores profissionais da área no país.

Tentei trabalhar em diversas agências, mas por não ter experiência como trabalhador registrado, não fui aceito em nenhuma delas. Até que um dia um dos entrevistadores, numa agência, me disse: “Chico, já que ninguém te contrata, cria a sua própria agência!”.

Eu ouvi aquele cara. E em 2011 fundei a Social Tag, que já atendeu clientes como Sagatiba, Claro, Cless, Eurobike, entre outras grandes marcas. Permaneci à frente da agência durante quatro anos, junto com meus sócios Beto Tercette e Rafael Nunes.

Fui feliz? Acho que sim. Mas algo batia forte em minha cabeça, todas as noites antes de ir dormir. O pensamento inquieto de “será que esse trabalho é realmente o que eu quero fazer da minha vida?”.

Em 2014, resolvi mudar e tomei a decisão de empreender em uma área que estudava e sobre a qual escrevia, por paixão: o desenvolvimento pessoal, profissional e o empreendedorismo.

Vendi minha parte na agência para um dos seus sócios. Os motivos foram muitos. O principal talvez seja a constatação de que aquele sonho de trabalhar com comunicação, conforme a gente incensa desde a faculdade, quando iniciamos o curso de Publicidade e Propaganda, nem sempre se revela verdadeiro. Bem, nenhum mercado vende a sua realidade, mostra como as coisas acontecem no do dia a dia. Aí os jovens acabam entrando meio iludidos em áreas que não têm de fato a ver com eles. Ou então alimentam, como eu, aquela ideia de virar o mais novo e desejado profissional de comunicação do Brasil. E isso não leva a lugar nenhum.

Desisti de ser dono de agência também por outros motivos: queria voltar a empreender em algo que realmente sentisse tesão em fazer. E há uma dificuldade enorme de crescer na área de comunicação digital no Brasil. (Embora o mercado esteja crescendo com o uso da internet, dos aplicativos, das compras online e da educação sem fronteiras crescendo de forma desenfreada, quem vende esse tipo de serviço sofre com a falta de entendimento da maioria das empresas sobre as necessidades e benefícios do mercado digital. Ainda há entre nós muita ignorância sobre o real poder da internet.)

Ainda me lembro quando produzia sites e os clientes acreditavam que um site era apenas um folder online. Isso acontece também na área de conteúdo: empresas querem apenas divulgar seus produtos e serviços. Esquecem, ou desconhecem, ou preferem ignorar, que as redes sociais, bem, são sociais. E que, do outro lado das telas, existem pessoas interessadas em conteúdo, em conversa, gente de quer ser ouvida e dialogar com as marcas e empresas que admiram. E que vender e comprar deve sempre ser a consequência, e não a motivação, do relacionamento digital.

Quando a decepção com o mercado digital amadureceu em mim, eu tinha duas opções. Ou ficava ali, infeliz, fingindo ser um dono de agência bacana, ou resetar o jogo e buscar de novo o empreendimento em algo que realmente acreditasse, em que enxergasse valor. Optei pelo segundo caminho, montado na velha máxima: “Trabalhar com o que você não gosta dá muito mais trabalho”.

Em janeiro deste ano, também conhecido como mês retrasado, mergulhei de cabeça, corpo, alma, quase nenhum dinheiro e um home office no projeto Olhe Fora da Caixa – um site destinado a ajudar as pessoas a descobrir suas possibilidades e a encontrar, por meio de conceitos, ferramentas e informações relevantes, o trabalho e a vida que desejam ter. Nossa primeira oferta é o eBook Mude Seus Hábitos, disponível para download gratuito.

Esse novo voo parte da seguinte questão: eu não consigo entender como as pessoas acreditam ser normal odiar sua vida cinco dias por semana, reservando somente o sábado e o domingo para serem felizes. Não entendo como alguém pode levantar todos os dias, tomar banho, engolir um pão com manteiga, um café com açúcar e correr para um escritório onde ela não deseja estar. Que carreira é essa? Que vida é essa?

Com essa ideia de transformação na mente e no coração, abracei como missão, com a Olhe Fora da Caixa, mudar a visão – e a crença – de muitas pessoas de que é impossível viver fazendo o que se ama e que tudo no mundo no trabalho é apenas uma questão de exercitar a resistência em lugares e situações de trabalho insuportáveis, cercado de gente muitas vezes igualmente insuportável. Discordar dessa visão não é ingenuidade, é lucidez.

 

Chico Montenegro, 32, é empreendedor, publicitário, palestrante, escritor e instrutor em cursos sobre marketing digital e empreendedorismo. Fundou o projeto Olhe Fora da Caixa e é co-fundador do movimento e evento online #VáMaisLonge.

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