Se me dissessem, alguns anos atrás, que um dia eu estaria fundando uma escola para mulheres empresárias, eu provavelmente teria achado improvável.
Não porque eu não acreditasse nas mulheres — pelo contrário, sempre acreditei.
Mas, na correria dos eventos que eu organizava há mais de 20 anos, eu não imaginava que seria possível mudar tanto de rota – ainda mais em meio ao caos que o mundo virou
Nasci e cresci em São Paulo. Tenho no currículo formações executivas em liderança e inovação por instituições como Harvard Business School, Stanford University e Ohio University.
Construí uma carreira como empresária no mercado de eventos e comunicação corporativa, atuando como fundadora e CEO da agência Grupo Projeto, atendendo grandes empresas e realizando eventos de grande porte.
Essa vivência prática e intensa no mundo dos negócios seria fundamental para a minha virada de chave – e a criação da EBEM.
Antes da pandemia de Covid-19, minha vida era feita de agendas lotadas, bastidores de grandes eventos e aquela adrenalina boa de fazer tudo acontecer. Eu era feliz assim.
Quando veio a pandemia, de repente o que era movimento virou silêncio. Eventos foram um dos primeiros setores a parar – e, claro, um dos últimos a voltar.
No meio daquele silêncio forçado, comecei a ouvir outra coisa: o som das minhas próprias perguntas. “E agora?”, “O que mais eu sei fazer?”, “O que o mundo precisa de mim?”. Perguntas duras, que mexem fundo
Foi nesse momento de travessia que percebi: a resposta estava naquilo que eu sentia falta 20 anos antes, quando comecei a empreender – uma escola.
Não uma escola qualquer, mas uma feita para nós, mulheres empresárias, que carregamos tantas outras responsabilidades além dos nossos negócios.
Empreender, para uma mulher, é diferente – e eu vivi isso na pele.
Nós temos menos tempo, somos as principais responsáveis pela casa, pelos filhos, pelos cuidados com outras pessoas. Muitas vezes, sentimos que o mundo corporativo não é o nosso lugar
Eu já me senti sozinha tantas vezes… e vi que muitas outras mulheres também se sentiam assim. Era hora de fazer diferente.
Assim, em 2021, eu fundei a EBEM – Escola Brasileira de Empreendedorismo Feminino, com sede no Alto da Lapa, em São Paulo.
Oferecemos formações, imersões e encontros exclusivos, além do Conexão EBEM — o maior encontro de empreendedorismo feminino do país (no Tokio Marine Hall, também na capital paulista).
Mas, como toda boa história real, não foi (e não é) um conto de fadas. O ineditismo da EBEM é lindo, mas também é um desafio
Até hoje, muita gente pensa que somos um grupo de networking. E não é isso – networking acontece, sim, e é maravilhoso, mas o que oferecemos é educação empreendedora de verdade, estrutura para negócios, formação de alta performance.
O objetivo sempre foi transformar mulheres em empresárias preparadas, que comandam seus negócios com estratégia e autonomia.
Médicas, advogadas, arquitetas, esteticistas, tantas mulheres incríveis são excelentes no que fazem, mas para liderar uma equipe, para crescer de verdade, é preciso também estudar gestão, planejamento, finanças.
Ainda existe uma certa resistência, um pensamento de que “o talento basta”. Mas eu aprendi que na verdade o talento precisa de técnica para florescer.
Aprendi também que não existe empresa lucrativa sem uma empresária bem cuidada — por isso, os pilares da EBEM envolvem saúde, gestão e liderança.
Outro ponto importante foi entender que meu papel é devolver ao mundo os aprendizados que recebeu — e que educar outras mulheres é um legado.
Mais de 10 mil mulheres já passaram por formações, eventos e experiências da EBEM desde sua criação.
O público é composto majoritariamente por empresárias de pequeno e médio porte, de diferentes segmentos (de beleza à tecnologia), com idades que variam entre 20 e 70 anos.
Um ponto comum entre elas é o desejo de profissionalizar seus negócios e alcançar mais lucratividade sem abrir mão da essência feminina de liderar.
Entre os desafios superados, o maior talvez tenha sido a quebra de padrões que limitavam o crescimento feminino no ambiente empresarial. Percebi que muitas mulheres empreendem como uma resposta à necessidade, mas sem preparo técnico ou apoio estratégico
Na EBEM, vi histórias de transformação que me emocionam até hoje.
Como a da Leda Simões, que cresceu 400% depois de fazer a nossa formação Gestão Lucrativa. No ano passado, ela faturou seu primeiro milhão com seu escritório de arquitetura.
Uma vitória dela, mas também uma vitória nossa, da rede que a apoiou.
Por falar em conquistas, quero te contar um pouco mais sobre o Conexão, nosso evento que já teve quatro edições.
Ele nasceu dessa vontade de reunir mulheres que fazem acontecer, para que aprendêssemos diretamente com quem está na “batalha”. Não é palco de teoria – é palco de prática.
Em março de 2024, tivemos uma edição em alto mar, a bordo de um cruzeiro, na semana do Dia Internacional da Mulher. Foi incrível ver como, quando mulheres se unem para aprender, o crescimento é inevitável
Combinamos conteúdo com momentos de autocuidado e celebração, em um cenário inspirador… Foi uma forma simbólica de mostrar que o empreendedorismo feminino pode e deve navegar por novos mares, com propósito e protagonismo.
A edição mais recente do Conexão ocorreu em abril de 2025, no Tokio Marine Hall, reunindo cerca de 1 mil mulheres em dois dias intensos de conteúdo, trocas e conexões.
Com o foco principal em Inteligência Artificial e negócios, o evento contou com palestras de empresárias como Bruna Tavares, Karina Sato, Ju Ferraz e Flávia Montebeller, além de mesas redondas sobre gestão e vendas e experiências de netweaving (networking com propósito).
Hoje, olhando para trás, vejo que a travessia ainda está em curso – e que bom. A EBEM impacta milhares de mulheres, gera empregos, movimenta a economia e constrói uma sociedade mais justa
E eu sigo torcendo para que, um dia, toda mulher entenda que ela merece crescer, sem precisar escolher entre o seu sonho e a sua vida pessoal.
Se você está vivendo seu momento de travessia, saiba: não existe hora certa para mudar. Existe coragem. E se tiver medo, vai com medo mesmo.
Tatyane Luncah é a fundadora e CEO da EBEM — Escola Brasileira de Empreendedorismo Feminino. Mentora, palestrante e articulista do Meio &Mensagem, IstoÉ Mulher e Revista Viva Digital, já impactou mais de 100 mil mulheres com palestras no Brasil e no exterior.
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