No Brasil, 44 pessoas morrem por suicídio todos os dias. Uma em cada seis já pensou seriamente em tirar a própria vida.
Esses são números duros, assustadores — mas que eu tento transformar em diálogo coletivo, consumível e viral, através da criatividade.
A cada seis brasileiros, um já pensou em se matar. Quando você lê isso em um gráfico, pode passar batido. Mas quando a Ivete Sangalo ou o Whindersson falam isso para milhões, vira conversa de bar, de família, de grupo de WhatsApp. É aí que a estatística começa a salvar vidas
Hoje sou head de criação da F/Malta, depois de ter passado por agências como Ogilvy, David, SunsetDDB e BFerraz. Nessa trajetória, ajudei a repaginar marcas desafiadoras como Burger King, Citibank, Yamaha, Fiat, Jeep, Suvinil, Pepsi e CIMED.
O meu desafio sempre foi o mesmo: converter publicidade em algo nativo, palatável e que seja genuinamente absorvido pelas pessoas.
No terceiro setor, uma das minhas maiores experiências foi ter cocriado uma campanha para o GRAACC ainda nos primeiros anos de carreira.
Essa ação acabou se tornando shortlist em Cannes e conquistou prêmios no El Ojo, ECHO Awards e One Show.
O insight era simples, mas devastador: transformar o câncer infantil em um viral consumível, com um CTA claro — empatia e doação
O resultado foi tão poderoso que ultrapassou fronteiras e chegou a ser replicado por ícones globais como Mike Tyson e David Copperfield.
A publicidade só faz sentido quando deixa de ser publicidade. Quando vira conversa de gente para gente. No GRAACC foi o câncer, agora no CVV é a prevenção do suicídio.
Se consigo falar disso sem afastar, mas aproximando, então a criatividade cumpriu o seu papel.
UM COLETIVO CONSISTENTE, QUE ATRAVESSA ANOS
Banner da campanha.
A ação #UmEmCadaSeis nasceu de um coletivo de comunicadores voluntários que, ao longo de mais de cinco anos, cria campanhas impactantes em prol do CVV — sempre sem um centavo de investimento, apenas com tempo, ideias e vontade.
Na edição de 2025, mais de 120 personalidades se juntaram para ilustrar a estatística: uma em cada seis pessoas no Brasil já pensou seriamente em tirar a própria vida.
Entre elas estavam Ivete Sangalo, Luísa Sonza, Whindersson Nunes, Tiago Iorc, Fábio Porchat, Taís Araújo, Claudia Leitte, Susana Vieira, os meninos do PodPah, Luiza Possi e até o Felca.
Optamos por uma abordagem alltype e direta, para não diluir a força do choque. Dos stories às legendas, os dados mais duros foram apresentados de forma nativa. E quando artistas gigantes emprestam suas vozes a uma causa, o resultado é inevitável: conversa
Quando a Claudia Leitte posta sobre saúde mental, sua audiência para para pensar. Quando o Felca fala de adultização e conecta isso ao suicídio, o país inteiro reflete. É disso que se trata: traduzir tabu em diálogo.
Whindersson Nunes.
Uma das estrelas participantes, o Whindersson Nunes, deu um depoimento emocionante sobre a ação e a ONG:
“A gente sabe que a vida tem umas fases complicadas. Eu já passei por uns perrengues também e liguei para o CVV. Não é vergonha nenhuma pedir ajuda. A gente não é super-herói. Já usei o serviço deles e posso dizer que, quando a gente não tem pra quem falar, eles são uma mão na roda. Setembro Amarelo é pra lembrar que ninguém precisa passar por isso sozinho. Às vezes, um papo pode fazer toda a diferença.”
Além do alcance orgânico nas redes, a campanha reverberou em veículos improváveis.
Saiu no trade publicitário, mas também ganhou espaço em blogs, na coluna de Léo Dias, na Billboard e até em TVs digitais focadas na Gen Z — onde o tema foi debatido para uma audiência de centenas de milhares de jovens.
Isso é criatividade estratégica: falar o mesmo tema em diferentes idiomas. Quando o PodPah, a Ivete e o Evaristo Costa falam do mesmo dado, cada público é impactado do seu jeito. É a mesma estatística, mas traduzida em mil vozes. E isso também é ser criativo.
Peça da campanha #UmEmCadaSeis em comércio de bairro.
A campanha também ocupou as ruas, com peças de OOH espalhadas pelas capitais e favelas brasileiras.
Era preciso ser objetivo. A estatística nua e crua, sem firula. Porque às vezes é a dureza do dado que cutuca e faz a conversa sair da tela para a vida real
O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. O recorte dos 20 aos 29 é o que mais cresce no Brasil. É a vida pedindo socorro, mas em silêncio. Se uma campanha nossa faz alguém ligar para o CVV em vez de desistir, já valeu mais que qualquer prêmio.
No fim, o que fica não é apenas o impacto criativo, mas a certeza de que a comunicação, quando é feita para além das marcas, pode literalmente salvar vidas.
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Deixo o convite para você conhecer o nosso histórico dos últimos anos:
E caso queira conhecer e apoiar o CVV, é só clicar aqui.
João Lovise é head de criação da F/Malta e idealizador (com Eduardo Cabral, Thiago Ito, Bruno Simões, Fellini Conti e Gabriela Albers) da campanha #UmEmCadaSeis 2025.
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