A menopausa é motivo de embaraço para muitas mulheres. Um grupo de jovens criou um app para acabar com esse tabu

Gabriela Salles dos Santos - 2 abr 2021
A partir da esq.: Gabriela, Débora, Letícia, Isabella, Maria e Mariana na premiação da BandTec.
Gabriela Salles dos Santos - 2 abr 2021
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As integrantes do Lody (já vou explicar do que se trata!) se conheceram no colégio, em 2017. Fazíamos o curso técnico de Informática para Internet integrado ao Médio da Escola Técnica Estadual (Etec) Jorge Street, de São Caetano do Sul, na Grande São Paulo. 

Tudo começou quando, naquele ano, Isabella e Mariana fizeram parte de um projeto da Fundação Telefônica e começaram a criar o aplicativo FarmaUBS, que serviria para mostrar em quais UBSs (Unidades Básicas de Saúde) havia os remédios que os pacientes precisavam.

Com essa ideia, elas fizeram parte do programa de pré-aceleração Startup in School, promovido pela Ideias de Futuro e pelo Google. Mas no meio do caminho, acabaram percebendo que o projeto não era viável.

Mesmo assim, não saíram do programa e decidiram criar um novo projeto, desenvolvendo a ideia do Lody (o nome vem de lady + body), um aplicativo de saúde feminina voltado para a fase da menopausa.

NOSSO FOCO É MELHORAR A VIDA DAS MENOPAUSANTES COM TECNOLOGIA

Sim, embora a gente ainda seja jovem, percebemos pelos relatos de nossas professoras que a menopausa é um assunto esquecido! As mulheres menopausantes também merecem atenção e cuidados.

No final de 2018, começamos nosso TCC e montamos um grupo feminino para trabalhar o Lody. Nessa época, éramos seis integrantes: Letícia, Maria, Gabriela (eu), Débora, Isabella e Mariana.

A ideia era fazer um aplicativo de mulheres para mulheres. Começamos as pesquisas com médicos e com menopausantes e descobrimos muitas coisas interessantes.

Um dos relatos mais marcantes e motivadores em nossas entrevistas iniciais foi o de uma professora que nos contou a história de uma amiga que chegou a raspar a cabeça de tanto calor (um dos sintomas da menopausa), pois não sabia o que fazer, nem que estava de fato nessa fase

O porquê de não se debater esse assunto, fomos descobrir logo depois: a vergonha das mulheres de se abrirem a respeito. A menopausa ainda é vista como tabu pela sociedade, principalmente em relação a aspectos mais íntimos, como o sexo nessa etapa da vida e a associação do climatério com o envelhecimento da mulher.

Durante esse caminho, no entanto, sofremos um pouco com as “brincadeiras” de pessoas que diziam que não seríamos capazes de fazer esse aplicativo, pois somos todas mulheres e jovens… Além de outros comentários desnecessários, como uma pessoa pedindo para que desistíssemos da ideia…

Ignoramos tudo isso e continuamos com nossas pesquisas, até porque percebemos que as mulheres estavam gostando do conceito, e sentíamos as dificuldades que nossas próprias professoras passavam por causa da menopausa.

UFA! CONSEGUIMOS CONCILIAR FIM DE CURSO, VESTIBULAR E APP

No final de 2018, ganhamos o prêmio de melhor projeto das turmas de segundo ano de uma feira da nossa escola. Nós não esperávamos por aquilo. Ficamos muito felizes e isso nos deu mais força para continuar.

Foi somente em 2019 que utilizamos nossas pesquisas e dados para fazer o aplicativo em si. Foi difícil, era o último ano do ensino médio, precisávamos passar em 18 matérias da escola (médio e técnico), estudar para os vestibulares e ainda fazer o nosso TCC. Mas conseguimos conciliar tudo!

No fim daquele ano, apresentamos o Lody, um diário íntimo gratuito em que as mulheres podem reportar diariamente seus sintomas (físicos e emocionais), ler textos e assistir a vídeos informativos (com conteúdo aprovado por médicos), acessar os sintomas de dias anteriores e usufruir dos gráficos mensais durante as consultas médicas.

GANHAR PRÊMIOS E ACELERAÇÕES NOS MOSTROU QUE ESTÁVAMOS NA DIREÇÃO CERTA

Ainda em 2019, participamos de uma competição de TCCs da BandTec Digital School e ganhamos como o melhor TCC de todos! Ficamos muito felizes e isso nos fez querer seguir em frente com a iniciativa.

Depois ganhamos outro prêmio, de melhor projeto do curso de informática da feira da nossa escola. No finalzinho de 2020 concluímos finalmente a pré-aceleração do Startup in School. Maria e Letícia decidiram sair do grupo por motivos pessoais, então ficamos em quatro integrantes

Nos formamos, e decidimos continuar com o Lody. Colocamos o app na Play Store em 2020, após conseguir dinheiro numa vaquinha.

A FALTA DE INVESTIMENTO AINDA É UM PROBLEMA, MAS NÃO NOS DESANIMA

Em 2020, também decidimos arriscar a entrada num programa de pré-aceleração da Samsung Ocean USP.

E adivinha? Deu certo, fomos uma das dez startups do Brasil selecionadas.

Por enquanto, o nosso principal problema é financeiro: precisamos de investimento. Outro desafio é a falta de tempo, todas as integrantes estão trabalhando e fazendo faculdade… Mesmo assim, o Lody já está disponível para download na versão Android, funcionando e ajudando mulheres

Hoje, temos 100 usuárias. No futuro, queremos superar esses obstáculos, implementar a versão iOS do aplicativo, lançar novas funcionalidades, fazer mais pesquisas, parcerias com médicos, clínicas, convênios etc.

Não sabemos quanto tempo tudo isso vai levar. Mas uma coisa é certa: o Lody é algo que amamos e ao qual pretendemos dar continuidade.

Atualmente estamos colhendo feedbacks das nossas usuárias e conversando com médicos para adquirir novos conhecimentos. E estamos com uma nova versão do app, esperando para saber quando ela chegará à Play Store.

Com o Lody, esperamos fornecer mais conhecimento para mulheres e a sociedade sobre um tema que precisa ser tratado com cuidado e respeito.

 

Gabriela Salles dos Santos, 18, é uma das programadoras e designers do Lody. Ama artes e saúde e hoje estuda Farmácia na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

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