“A síndrome do pânico me fez entender que a minha visão de sucesso era sinônimo de fracasso. Hoje, sou dono do meu tempo”

Daniel Pereira - 30 dez 2021
Daniel Pereira, fundador da LUZ e autor do livro "Tempo é o Melhor Negócio".
Daniel Pereira - 30 dez 2021
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Uma vez, lendo algumas newsletters acumuladas na caixa de entrada do meu email, me deparei com um artigo que falava sobre os principais arrependimentos relatados por pessoas em seu leito de morte.

O que eu li ali me abalou profundamente e iniciou uma profunda transformação em como eu conduzia a minha vida. Especialmente, a profissional.

Eu não sei se você já teve a oportunidade de ler algum desses estudos sobre os principais arrependimentos das pessoas na reta final de suas vidas. Existem inúmeros, feitos por diferentes instituições ou pessoas e em diferentes épocas.

Por já ter lido muitos deles, posso te dizer que independente de qual você ler, as listas de arrependimentos são sempre muito semelhantes.

A mais recente que li, foi feita por Bronnie Ware, uma enfermeira australiana que dedicou inúmeros anos de sua vida cuidando de pacientes em suas últimas 12 semanas de vida.

Bronnie registrava conversas com seus pacientes e acabou criando uma lista com os 10 maiores arrependimentos da vida deles. Preparado? Aqui vão eles:

1) Eu gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida mais verdadeira comigo mesmo;

2) Eu gostaria de não ter trabalhando tanto;

3) Eu gostaria de ter tido coragem para expressar meus sentimentos;

4) Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos;

5) Eu gostaria de ter me permitido ser mais feliz;

6) Eu gostaria de ter ficado mais tempo com minha família;

7) Eu gostaria de ter sido mais cuidadoso com quem foi cuidadoso comigo;

8) Eu gostaria de ter sido mais presente na vida dos meus filhos quando eles mais precisavam de mim;

9) Eu gostaria de ter escutado mais meus instintos;

10) Eu gostaria de ter seguido minha paixão.

É difícil não ser tocado por essa lista. E por um simples fato: você deve ter se identificado com alguns dos itens dela.

Talvez não somente alguns, mas muitos. Chega a ser assustador, não é mesmo? Pelo menos, para mim, foi.

E eu sinto que preciso reler de tempos em tempos essa lista para me lembrar do que é realmente valioso em nossas vidas.

QUANDO MAIS É MENOS. OU: COMO DESENVOLVI SÍNDROME DO PÂNICO E QUASE PIFEI

Apesar de aos 40 anos, eu considerar que ainda tenho um bom caminho para me livrar de alguns itens dessa lista, a maior parte deles eu tenho total tranquilidade de que não me perseguirão ao final da minha vida.

Mas não era bem assim antes. Existiu uma época em que eu era dono de uma empresa de consultoria, de um coworking, sócio de uma aceleradora de startups, sócio de outras três startups e até mesmo de uma ótica de bairro. E ainda tinha o “pezinho” em mais outras inúmeras iniciativas.

Minha visão nessa época se resumia a: mais é mais. Quanto mais iniciativas, quanto mais eu trabalhasse e aproveitasse minha capacidade profissional, mais foda eu era, e maiores as minhas chances de sucesso

Apesar de viver cansado e questionar minha felicidade nisso tudo, o reconhecimento da sociedade desse “semi-sucesso” deixava esses problemas em segundo plano.

Mas foi pisando cada vez mais fundo no acelerador que, em 2013, acabei dando com a cara na parede. Desenvolvi a chamada síndrome do pânico. E passei a travar uma longa e dolorosa batalha com a minha mente e minhas emoções.

Me faltava o que hoje eu chamo de margem de manobra. Tempo livre, liberdade para não fazer nada se assim eu quisesse, quando e onde eu quisesse.

EU NÃO TINHA VÁRIOS NEGÓCIOS, MAS VÁRIOS PROBLEMAS…

Quando sua cabeça não para de pensar na lista de tudo o que precisa ser feito e você ainda não conseguiu fazer… e a lista só aumenta… tem algo errado aí. E tinha. 

Ao mesmo tempo em que lutava com pensamento de que eu tinha algum tipo de doença física e que eu ia morrer — pois assim é o pânico — eu tentava achar uma saída para esse inferno astral de um estilo de vida que eu mesmo tinha criado. Em busca de um sucesso que a sociedade tinha definido por mim…

No meio de um turbilhão de emoções, o pouco que consegui raciocinar me permitiu entender que eu não tinha vários negócios, eu tinha vários problemas. E o sucesso que eu almejava não era sucesso algum. Segundo a lista da enfermeira Bronnie, era o mais puro fracasso

Eu tinha problemas que sugavam todo o meu tempo e me aprisionavam. Todos com a possibilidade de em algum momento no futuro dar retorno financeiro. Futuro. Retorno. Financeiro. Uma versão mais sexy da aposentadoria.

TINHA CHEGADO A HORA DE IR CONTRA A MEDIDA DE SUCESSO IMPOSTA PELA SOCIEDADE

Foi no meio desse caos que voltei no tempo, e lembrei da minha infância, dos meus pais cansados, com pouco tempo para si mesmos e saco para quaisquer outras coisas. Aquele tempo em que uma lâmpada queimada lá em casa podia levar semanas até ser trocada.

A verdade é que eu havia esquecido disso tudo e estava mais do que na hora de relembrar e criar uma realidade diferente para minha vida.

Uma realidade que valorizasse exatamente os itens da lista de arrependimentos das pessoas em seus últimos dias de vida em vez da medida única de sucesso que capas de jornais e revistas impõem. O que geralmente se resume a muito dinheiro e bens materiais de grife, não importa se você não teve tempo para seus filhos, seus amigos e nem mesmo para descansar e curtir a vida durante a sua jornada.

Mas não é fácil ir contra essa medida de sucesso imposta pela sociedade. É preciso ser forte e se questionar profundamente qual é nossa medida de sucesso pessoal

Seria viver no campo e plantar produtos orgânicos? De frente ao mar com uma pousada especializada em Kite Surfers? Fazer algum tipo de trabalho que “dizem” para você que é incerto? Pegar mais leve e trabalhar em meio período para poder se dedicar mais aos seus filhos?

Existem tantas maneiras de medir o sucesso diferente do status de cargos, empresas, dinheiro e o modelo do carro que você dirige. Você já parou para pensar qual é a sua?

PERCEBI QUE VENDER MINHAS HORAS NÃO ERA A MELHOR SOLUÇÃO PARA A SAÚDE E PARA ESCALAR

Eu tive que colocar meu ego de lado e sair me desligando dos negócios, entregando minhas cotas e encerrando outras iniciativas. Mantive apenas o negócio que tinha dado origem a tudo: a minha empresa LUZ Consultoria.

Como consultor, eu vi de perto o quanto uma empresa pode ser tóxica para o seu dono. Tive clientes que me contaram que tinham pensado em se matar, outros dizendo que tomavam três a quatro comprimidos de antidepressivos todas as noites para conseguir dormir.

A LUZ, enquanto consultoria, vivia de vender minhas horas. E isso não era escalável. Quanto mais ocupado eu fosse, mais bem-sucedido eu seria. A lógica de resultados financeiros era baseada na quantidade de horas vendidas. E isso também não era saudável

Mas a essa altura, essa empresa, já tinha se transformado na LUZ Planilhas, um e-commerce de planilhas prontas em Excel. Um modelo de negócio escalável. Um modelo de negócio que não dependia da venda de horas.

Esse era o único negócio que eu visualizava ser capaz de criar o estilo de vida que eu desejava. Um negócio capaz de escalar e rodar no automático.

COMO PASSEI A GERENCIAR MEU TEMPO AUTOMATIZANDO E TERCEIRIZANDO TAREFAS

Felizmente, com o tempo, me livrei do pânico e encontrei as estratégias necessárias para fundar empresas capazes de rodar no piloto automático.

Criei uma estrutura que permitia o trabalho remoto, a flexibilidade de horário, aprendi a simplificar, automatizar e terceirizar de forma que só cabia a mim tarefas que exploram minha capacidade intelectual e criatividade. Hoje eu me desafio quando e quanto desejo

Na LUZ, nosso escritório é online, nosso marketing é 100% automatizado, nosso financeiro é terceirizado, nossa criação de produtos é feita por freelancers especialistas, nosso suporte é 90% resolvido com documentação de ajuda e respostas automáticas.

Tudo é monitorado para manter a operação funcionando em harmonia e identificar, em pouco tempo, peças que possam ter saído do lugar.

Não é um negócio perfeito, mas é perfeito para mim. Ele permite que eu tenha um estilo de vida que sempre sonhei.

DECIDI CONTAR EM UM LIVRO MEU APRENDIZADO PARA QUE VOCÊ TAMBÉM APRENDA A GERENCIAR MELHOR SEU TEMPO

Hoje moro no Canadá, me dedico diariamente a minha família e a mim, tenho tempo de sobra para cuidar e brincar com meus filhos.

Em “Tempo é o melhor negócio”, Daniel compartilha seus aprendizados sobre gestão de tempo.

Em dias de sol, saio para correr ou andar de bicicleta. Em dias de chuva, me permito ser mais preguiçoso e dormir de tarde.

Aproveito promoções e descontos em hotéis no meio da semana, faço tudo aquilo que a não-dependência dos horários comerciais e finais de semana me permitem.

Hoje tenho três negócios que rodam com pouca influência minha, faço trabalho criativo cerca de duas horas de manhã e duas horas à tarde, em casa ou onde estiver, pelo celular ou meu laptop

Me desafio sempre que possível, me mantendo um eterno aprendiz, buscando a constante evolução profissional e pessoal, mas sem abrir mão da qualidade de vida. 

Sucesso para mim, não é sair em capas de revista, ter muito dinheiro no bolso e trabalhar horas e horas a fio, ter milhares de reuniões e e-mails para responder, ser responsável por uma folha de pagamento de centenas de funcionários, ter falta de tranquilidade e de paz.

Sucesso é ter tempo para fazer o que eu quiser, quando e onde eu quiser

Eu transformei todos esses aprendizados em um livro para poder contar às pessoas que esse estilo de vida é possível e acessível para todos nós.

O livro Tempo é o Melhor Negócio foi publicado em julho de 2021 e está disponível nas principais livrarias do país. Espero que gostem da leitura!

 

(Republicação dos posts mais lidos de 2021; artigo publicado originalmente em outubro de 2021.)

 

Daniel Pereira é formado em Administração de Empresas pela PUC-Rio. Já foi presidente da Empresa Júnior da PUC-Rio, consultor de plano de negócios das incubadoras tecnológica e cultural do Instituto Gênesis, trainee de vendas de serviços de TI na IBM Brasil e diretor-executivo na Assespro-RJ. Fundou a LUZ Consultoria, a Papaya Ventures e foi mentor e jurado em programas como Startup Weekend e Startup Farm, além de investidor, autor e professor convidado em diversas instituições.

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