A aceleração da transição energética é uma necessidade global para o combate às mudanças climáticas e para que haja uma redução significativa na dependência de fontes de energia não renováveis, como petróleo e carvão. Ter uma matriz energética limpa e com menor impacto ambiental é uma vocação e uma vantagem brasileira, já que o país conta com um potencial enorme para aproveitar as suas riquezas naturais.
Nesse cenário, em pouco tempo, será possível transformar o Brasil em uma referência para o setor, com desenvolvimento sustentável e uma importante contribuição para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa no planeta. Para que isso aconteça é preciso uma ação coordenada entre os agentes públicos e privados (empresas, governos, legislativo e judiciário).
É sabido que o país possui uma das maiores matrizes energéticas renováveis do mundo, que engloba desde a energia hidrelétrica, já utilizada em grande escala no país, até o uso de biocombustíveis, como o biodiesel e o etanol, além do crescimento no uso das energias eólica e solar.
Quero chamar aqui a atenção para um ponto que julgo ser um divisor de águas para o Brasil. Centro do debate sobre preservação ambiental, a região amazônica brasileira tem à disposição um verdadeiro “pré-sal verde” a ser explorado. São mais de 31 milhões de hectares de áreas degradadas disponíveis para serem recuperadas com o cultivo sustentável da palma de óleo, que permite a produção de biocombustíveis, biotecnologia e geração de energia renovável.
Para se ter uma ideia do potencial brasileiro no setor, precisamos voltar ao decreto federal 7.172/2010, que estabeleceu o Zoneamento Agroecológico da Palma de Óleo. A lei contou com robusto estudo conduzido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que definiu áreas para desenvolver a cultura de forma sustentável no país, de modo a proteger e recuperar a floresta amazônica.
Á área com permissão para o plantio foi demarcada por imagens de satélite, georreferenciadas, em terras degradadas até dezembro de 2007. A cultura traz uma solução ecologicamente correta para a produção de biocombustíveis, geração de energia limpa e desenvolvimento de insumos renováveis para a indústria química.
Trata-se de uma oportunidade única para mudar a face de uma das partes mais carentes do território nacional e promover, ao mesmo tempo, a preservação ambiental e a equidade social, com a possibilidade da geração de milhares de empregos.
Cada hectare é capaz de gerar matéria-prima suficiente para dar origem a um potencial produtivo de até 7 mil litros de óleo de palma. Todo o processo, do plantio à extração do óleo, é manual, o que demanda grande quantidade de mão de obra local. O modelo envolve plantar, colher e consumir na própria região norte.
As terras demarcadas pelo Governo Federal podem dar origem a aproximadamente 210 bilhões de litros de óleo de palma por ano. O volume equivale a quase três vezes toda a produção mundial de 2022, de acordo com os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos sobre a última safra.
Quando se fala em “pré-sal verde”, basta olhar para os números disponíveis. No ano passado, o Brasil extraiu 1,103 bilhão de barris de petróleo, segundo a Agência Nacional de Petróleo e Gás. Esse volume equivale a cerca de 175 bilhões de litros de petróleo, somados todos os poços no território nacional, incluindo aqueles da camada pré-sal, na costa brasileira. Ou seja: cerca de 20% inferior ao potencial de geração de óleo de palma nas áreas demarcadas pela Embrapa.
Para que todo esse potencial possa ser colocado em prática, o país precisa investir na modernização e expansão de sua infraestrutura, além de contar com financiamento para os projetos de energia renovável, em um cenário ainda de restrições fiscais e econômicas.
Toda a operação que envolve a palma de óleo une a descarbonização da Amazônia e desenvolvimento socioeconômico da região, com foco em geração de emprego e renda. É uma oportunidade que o país tem, de forma contundente, para dar a sua contribuição mundial à transição energética sem a necessidade da ampliação de áreas desmatadas em sua floresta.
**Milton Steagall é CEO do Grupo BBF (Brasil BioFuels)
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