Car10: A história dos irmãos que resolveram digitalizar a funilaria

Thadeu Melo - 27 nov 2018
Fábio, Fernando e Renato Gimenez usaram o conhecimento adquirido na empresa de vistoria de seguro do pai para criar um app que conecta motoristas a oficinas, facilitando a elaboração de orçamentos.
Thadeu Melo - 27 nov 2018
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“Alguém conhece um funileiro bom e barato aqui perto?” Você já deve ter ouvido essa pergunta algumas vezes em redes sociais ou grupos de mensagens. Imagine a família Gimenez, que há 23 anos trabalha no ramo de vistoria de seguro de carros, fazendo a ponte entre oficinas e seguradoras. Foi para responder a essa dúvida comum de forma rápida e certeira, e aproveitando o conhecimento que já possuem na área, que os irmãos Fábio, 39, Fernando, 37 e Renato, 34, criaram o sistema e o aplicativo Car10, que facilita a localização de oficinas e a elaboração de orçamentos com uma sacada: a partir de fotos (sem ter que levar o veículo pessoalmente ao estabelecimento!).

Com sede na capital paulista, a startup intermedia cerca de 1 000 reparos por mês em todo o Brasil, e prevê faturar de mais de 1 milhão de reais este ano. No ano passado, a Car10 gerou 6 milhões de reais em negócios para as oficinas parceiras. Além do trio de irmãos fundadores, a startup tem como sócio o irmão mais velho, Ricardo, 41, e o pai, José Gimenez, 64, que ainda seguem liderando o antigo negócio da família, a reguladora de sinistros AutoReg.

Fundada em 1995 por José e mais dois sócios, a AutoReg é considerada hoje a maior empresa no ramo de regulação de sinistros automotivos no país e, desde 2011, pertence a uma seguradora belgo-francesa. Fábio, diretor comercial da startup, fala mais sobre a participação dos irmãos na primeira empresa familiar:

Todos nós passamos pelo mesmo caminho: fomos office boy, depois, trabalhamos no operacional e, então, chegamos à parte tecnológica, administrativa e técnica

Único dos quatro filhos a ter experiência profissional também fora da AutoReg, Fábio é engenheiro químico, pós-graduado em Administração e Gestão Estratégica de Negócios e trabalhou no ramo petroquímico por cinco anos antes de voltar a se unir ao clã para criar a startup, que só não envolve a mãe, Miriam, professora de inglês.

MUDANDO A ENGRENAGEM: DE EMPRESA TRADICIONAL À STARTUP

A família Gimenez sempre foi a referência dos amigos para dar dicas de funilaria. Todos respondiam às perguntas com a maior gentileza do mundo, até que perceberam que as dicas eram mais valiosas do que imaginavam e que poderiam render frutos. Unindo este conhecimento à tecnologia de georreferenciamento e à fotografia digital, os três irmãos desenvolveram, a muitas mãos, a ideia do sistema. Desenhado por Fernando e Renato, ele nasceu como um site responsivo, no início de 2015, já com quase todas as funcionalidades do aplicativo, que viria a ser lançado no final daquele ano, após um investimento próprio, de 700 mil reais.

Graduado em Ciências da Computação, Renato, diretor de TI do Car10, acumulou expertise sobre o funcionamento da relação entre seguradoras e oficinas, participando de todo o processo de digitalização do trabalho da ex-firma do pai, que começou com dez funcionários e foi vendida quando tinha quase 1 000 pessoas na equipe e faturamento anual acima dos 100 milhões de reais. A startup tem, hoje, 16 funcionários.

Sob a supervisão do primogênito, o caçula, ainda estudante na época, acompanhou a compra dos dez primeiros laptops e câmeras digitais para substituir as fotos em papel que eram usadas nos relatórios de vistoria e validação das seguradoras, no final do século passado. “Eram mais de 5 mil rolos de filmes de 36 poses revelados a cada mês, e a gente era obrigado a arquivar por dois anos”, conta.

Pelo app, o cliente manda a foto do veículo  e a oficina envia o orçamento do serviço requisitado.

“Hoje, falar em máquina de foto digital é um negócio tão banal, mas na época, uma Mavica de disquete custava mil reais”, lembra Renato, responsável pela digitalização das 25 filiais que a AutoReg possuía. “Quando a gente saiu, tínhamos um parque tecnológico bastante robusto, com servidores e integração de dados entre as filiais, fornecedores e clientes.”

Fernando, graduado em Marketing e diretor dessa área na startup, conta que o insight, que os levou a digitalizar o serviço oferecido como gentileza para amigos, surgiu durante uma das visitas a uma feira de reparação para oficinas em Las Vegas, nos Estados Unidos, a NACE Expo. “Lá, em 2011, a gente viu um site com um catálogo digital de oficinas. Era só uma listagem, sem interação, mas que deu a ideia para pensarmos em como disponibilizar essas informações aqui no Brasil.”

O site acabou não vingando, saiu do ar, mas a iniciativa foi o o suficiente para o trio entender que a ideia funcionava. “A gente já sabia que podia entregar uma jornada mais completa, que era o que fazíamos quando algum conhecido ligava perguntando de uma oficina. Indicávamos o estabelecimento, íamos junto, mandávamos um perito para ajudar, fazíamos um acompanhamento bem particular, uma curadoria boa do processo e do atendimento”, completa Fábio.

Já na fase de negociação da venda da AutoReg, os três Gimenez mais jovens buscavam formas de desenvolver o próprio negócio, visando atender o consumidor final que não tem conhecimento sobre oficina ou que não tem seguro. A inspiração no sistema que conheceram no exterior caiu, então, como uma luva, Fernando afirma:

“Nós vimos o potencial nos Estados Unidos, fizemos uma análise do mercado local para ver se tinha aderência e resolvemos desenhar um protótipo para ver se fazia sentido”

Renato prossegue: “A gente resolveu juntar as tecnologias que estavam bombando naquele momento: havia a questão do georreferenciamento bem resolvida e as câmeras dos smartphones já estavam com um nível de qualidade bem melhor”.

COMO SIMPLIFICAR O CONTATO ENTRE MOTORISTAS E OFICINAS

O que o Car10 faz é basicamente promover uma concorrência online entre oficinas, que precisam analisar as fotos enviadas pelo cliente e responder com um orçamento em até duas horas. Depois de analisar até cinco orçamentos enviados e escolher a oficina, o motorista pode acompanhar o andamento do serviço pelo aplicativo e também pagar pelo próprio sistema, como fala Fernando: “A gente focou na dificuldade do cliente de saber qual a oficina mais próxima e fazer as duas pontas darem as mãos”.

O modelo de negócio tem três formas de remuneração. A primeira é a inclusão de uma taxa variável, de cerca de 15%, no orçamento, paga pelo usuário caso ele confirme o interesse na realização do serviço. A outra é uma assinatura trimestral, de 249,90 reais, que a oficina pode pagar para ter benefícios (como prioridade no direcionamento de clientes e uma exposição maior no aplicativo). Além disso, por 29 reais, o cliente também pode contratar o Car10 para fazer uma negociação com a oficina para tentar baixar o preço do conserto. Nada como um intermediador na hora da barganha!

Renato diz que as oficinas já estavam trabalhando nesse formato com as seguradoras (de receber uma foto e fazer um orçamento bem elaborado de um sinistro mais complexo). “Apostamos que para fazer um orçamento de um pequeno dano, a oficina levaria não mais que cinco minutos”, conta o empreendedor. Surpresa: o tempo de resposta das oficinas é ainda menor.

 

O Car10 já conta com mais de 2 700 oficinas cadastradas e intermedeia cerca de 1 000 reparos por mês.

Todas as solicitações de orçamento passam pela equipe do Car10, que avalia a qualidade das fotos e a dimensão dos reparos antes de liberar a consulta para as oficinas. Com mais de três anos de operação, a startup também possui um indicador de avaliação dos prestadores de serviço, o que permite ao motorista ter algum parâmetro de comparação das oficinas, como diz Fernando:

“Às vezes, uma oficina pode parecer feia por fora, mas tem qualidade. Com o nosso sistema, o estabelecimento recebe clientes que talvez jamais passassem por ali”

Segundo os sócios, o serviço despertou o interesse dos motoristas aos poucos, com a compra de anúncios no Google. Já o contato com as primeiras oficinas para explicar o mecanismo e as vantagens foi feito diretamente pelos próprios fundadores. “Em três meses, a gente já estava com mais de 350 oficinas cadastradas”, conta Fábio, responsável por  liderar esse primeiro esforço na região do ABC Paulista e, depois, em toda a Grande São Paulo. “Quatro meses depois, já estávamos em todo o Sul e Sudeste”, conta o diretor comercial.

O OBJETIVO AGORA É VIRAR REFERÊNCIA TAMBÉM NO MUDO VIRTUAL

Com 2 780 oficinas cadastradas e ativas no sistema, os sócios dizem que o CAR10 está “promovendo a inclusão digital” de um setor que tem poucas condições de privilegiar as novas formas de comunicação e negócios. Com o cadastro na plataforma, os estabelecimentos ganham automaticamente um perfil, com fotos e informações sobre sua estrutura, equipamentos e serviços. As oficinas que optam por pagar a assinatura trimestral, cerca de 500 reais, ganham também uma URL que permite serem localizadas diretamente, tanto no Google quanto no Waze.

E a novidade está se espalhando também no boca a boca entre os funileiros. Os sócios contam que as oficinas estão usando a plataforma também para gerenciar outros processos, como meio de pagamento, acessando ferramentas que os sócios chamam de suíte de soluções.

Com o respaldo da JR3, holding familiar que entrou no começo do negócio, e com o aporte do Fundo BrStartups, que investiu 2 milhões de reais na iniciativa em 2017, o Car10 deve colocar no ar novas funcionalidades no ano que vem. Com isso, espera aumentar o tráfego de clientes e a concretização de consertos. “A pergunta que a gente faz hoje nos pitchs é: ‘O que você faz quando bate ou rala o carro?’. E a maioria das pessoas lembra do pai, do tio, do irmão, de um amigo”, fala Fábio. O Car10 pretende substituir essas figuras, pelo menos, no que diz respeito a oficinas. 

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: CAR10
  • O que faz: Facilita a localização de oficinas e a elaboração de orçamentos a partir de fotos dos veículos
  • Sócio(s): Fábio, Fernando, José, Renato e Ricardo Gimenez
  • Funcionários: 19 (incluindo os três fundadores)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2015
  • Investimento inicial: R$ 700.000 de capital próprio
  • Faturamento: R$ 1 milhão (previsão para 2018)
  • Contato: [email protected]
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