Até 2012, cuidar de plantas era apenas um hobby para Carol Costa, 39. Jornalista com passagens pela TV Record, Folha de S.Paulo e Editora Abril, deixou a profissão para virar jardineira em tempo integral com o site Minhas Plantas que, a princípio, era apenas uma maneira de compartilhar dicas de cuidado com plantas. Só depois de perder muito dinheiro e precisar dar alguns passos atrás na transição de carreira, que vai contar a seguir, ela encontrou uma forma de fazer florescer o negócio, que além de criar conteúdo também conecta o mercado de serviços de jardinagem ao consumidor final.
Hoje, um dos principais trabalhos de Carol é responder diariamente as cerca de 150 mensagens que recebe de seus leitores. A partir daí que ela pensa em novos projetos, cursos e pautas. É também a partir desses questionamentos que ela bola as apresentações de tendências do mercado que oferece a grandes empresas como Carrefour, Cobasi e também para produtores de plantas. “Usei a amostragem de cinco anos do meu site para fazer essa apresentação. A pesquisa mapeia sete macrotendências e, em cima disso, caminhos que cada estabelecimento pode adotar para se alinhar a elas”, conta.
Carol também dá cursos de jardinagem, treinamento para funcionários de empresas de varejo, faz Lives no Facebook e no Youtube para marcas (usando sua base de clientes ou a da própria marca), tem uma coluna na rádio Band News FM há quatro anos, é garota propaganda da Stihl Ferramentas Motorizadas no Brasil, participou de duas temporadas do programa Mais Cor, Por Favor, do canal GNT, e escreveu três livros sobre jardinagem.
Manter o contato próximo com seus leitores e seguidores é a chave para todos esses trabalhos. Por isso, ela nem pensa em repassar a função de responder a tantas mensagens. “Eu posso contratar pessoas para preencher minhas notas fiscais ou comprar passagem aérea, mas não para tirar dúvidas de leitores. Meu público é ouro para mim”, diz.
Para ela, empreender com a Minhas Plantas não significou apenas montar um negócio, mas também mudar de carreira. Para tanto, foi em busca de formação na área de botânica e jardinagem. Fez diversos cursos, leu muito e está para concluir uma pós-graduação em Agricultura Biodinâmica. Ela fala da razão de correr tanto atrás desses novos aprendizados:
“Tive muito receio de acharem que eu não estava legitimada para falar de plantas. Mas fiz tanto curso e leitura que perdi o medo”
O caminho para transformar a ideia de trabalhar com plantas em uma empresa sustentável foi longo. Depois de 15 anos como jornalista, ela estava cansada da rotina de redação e ar-condicionado, embora gostasse de trabalhar em uma empresa, ser funcionária e ter chefe. O que faltava, diz, era o brilho nos olhos. Autora de um blog de variedades desde 2007, Carol percebeu que escrevia cada vez mais sobre plantas e decidiu criar o site, que entrou no ar (olha só!) na primavera de 2012.
Pouco tempo depois, em dezembro, ela pediu demissão da Editora Abril. “Estava entediada de fazer sempre as mesmas coisas e perceber que as possibilidades de crescimento na minha área eram pequenas”, diz, e prossegue: “Por mais que eu crescesse dentro da empresa, fosse elogiada pelos meus pares, tivesse plano de carreira, estabilidade e segurança, achava que não tinha motivo para sair da cama e ir trabalhar.”
ELA QUERIA TUDO NA NOVA CARREIRA… AÍ DEU TUDO ERRADO
Saiu da Abril com o dinheiro do FGTS e a ideia de ganhar a vida com plantas, mas sem saber exatamente como. Logo de cara contratou uma repórter, dois designers e um programador para ajudá-la no site. Carol conta que sonhava fazer algo grandioso, que seguisse o padrão dos grandes veículos e fosse bancado por anunciantes: “Eu queria ser o UOL das plantas”.
Seguindo esse caminho, investiu mais de 100 mil reais na empresa nos dois primeiros anos. Fechou contrato com um coworking para ter uma sala de reunião e foi atrás de inúmeros cursos de gestão. “Achei que tinha que ter investidor-anjo, missão, análise SWOT, fazer o Canvas da minha empresa. Posso dizer que isso me ensinou mais o que eu não queria fazer do que a fazer o que faço hoje.”
Apesar do grande investimento em recursos financeiros e humanos, a ideia não estava dando certo, os anunciantes não vinham e ela começou a achar que era porque estava trabalhando pouco.
Em 2013, apresentou 40 projetos que não foram adiante. Começou a trabalhar mais de 12 horas por dia na frente do computador até perceber que havia algo errado, como ela conta:
“Eu saí da Abril porque queria trabalhar com natureza, sentir cheiro de planta e, de repente, estava trabalhando na frente de um computador como uma escrava”
E prossegue: “Com a premissa de ter uma vida mais saudável, eu estava tendo uma muito pior, de mastigar sanduíche em cima do teclado como quando eu era recém-formada”.
A chave para mudar o rumo de sua trajetória foi remodelar a “ideia de sucesso” que, naquela época, ela lembra, era ganhar 10 mil reais por mês. Frustrada e endividada, buscou a ajuda de uma coach e percebeu que precisava dedicar mais tempo para fazer o que gostava, mesmo que precisasse diminuir a estrutura. “Cancelei o coworking que nunca usei, enxuguei a equipe e fiquei só com o programador. Então, diminuímos a quantidade de atualizações no site, redesenhamos a página para carregar mais rápido e custar menos e mudamos o banco de dados pra conseguir um valor mais baixo. Parei de pensar grande, em escala, e fui fazer o site de jardinagem que eu sempre quis”, diz.
Mais leve e com mais tempo para colocar a mão na terra, finalmente — e naturalmente — ela conseguiu trabalhar melhor a forma de conversar e se conectar com o seu público e, também, com as marcas. Uma das características do Minhas Plantas é traduzir os termos e assuntos da botânica em uma linguagem acessível para leigos usando a vida cotidiana, as dúvidas, medos e ansiedades de quem gosta do assunto como pano de fundo de suas histórias, sejam elas em texto ou em vídeo.
“Percebi que em vez de renegar meu passado de jornalista, podia aceitá-lo e usar isso como base para desenvolver meu trabalho”
Ela diz que sempre gostou de escrever e contar histórias e acredita que, hoje, conta histórias de pessoas e sentimentos humanos usando as plantas como canal. Essa leveza da linguagem e o contato próximo ao público transformaram o negócio no que ele é hoje: um canal de conteúdo único com uma base sólida de leitores e seguidores que legitimam os cursos, consultorias, vídeos e Lives nos quais se desdobra.
Demorou, teve prejuízo no meio e muito aprendizado na transição de carreira da jornalista para a “faz tudo” das plantas. Carol lista as conquistas de 2017. Neste ano ela consolidou a área de cursos, ministrando 89 aulas (pelas quais recebe de 2 mil a 4 mil reais). Os vídeos ao vivo, com duração de cerca de uma hora, também são muito procurados por marcas e custam 1.200 reais no Facebook (as Lives) e 2.200 no Youtube. No ano passado ela fez 20 Lives apenas para uma empresa. Para o post pago, cobra o valor de 1 mil reais, já o cachê por vídeo é de 5 mil. Os valores da Band News FM e do contrato com a Stihl ela não pode revelar por cláusulas contratuais. Para resumir, a empreendedora diz que somente em 2017 o negócio se tornou financeiramente sustentável.
Sobre o futuro, ela afirma que quer ver o Minhas Plantas crescer, “desde que possa continuar artesanal”. Em suas palavras: “Não quero chegar a um ponto em que precise parar de fazer o que gosto para cuidar de planilhas, ir a reuniões e administrar a parte burocrática. Quero um negócio que seja do tamanho da minha perna”. E, certamente, bem verde e com longos galhos.
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