Como foi a aula 1 da Academia Draft

Phydia de Athayde - 23 mar 2016
Adriano Silva entre as muitas cores do ProjectHub, inaugura oficialmente a Academia Draft.
Phydia de Athayde - 23 mar 2016
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ProjectHub fica numa rua pequenininha, perto do metrô Sumaré, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. É um sobrado, e à frente do portão preto de metal, na noite da última segunda, dia 21, havia uma hostess, ladeada por um segurança. Podia ser uma balada, mas era outra coisa.

Tratava-se da aula inaugural da Academia Draft. O convidado, com nome na lista, entrava e era conduzido, pelo burburinho, pela lateral da casa, por um declive, até o fundo do jardim. No caminho, algumas velas dentro de lanternas de vidro. Lá embaixo, ainda ao ar livre, em cima de uma mesa colocada perto de um muro de hera, havia uma bandeja cheia de maçãs, uvas geladas e uma caixa cheia de embalagens plásticas com nomes coloridos. Podia ser qualquer coisa, mas eram snacks orgânicos da Farofa.la, parceira da Academia.

Antes da entrada da sala onde aconteceria o evento — para cada convidado, uma cadeira e uma brochura com o material da aula, junto com caneta e material para anotação — havia um isopor cheio de gelo, com água mineral, refrigerantes e cerveja. Podia ser um happy hour qualquer, mas era a primeira vez que o Draft recebia pessoas em carne e osso para um evento presencial.

Vinte e duas pessoas rapidamente se acomodaram na sala, com as cadeiras em círculo. Nas paredes coloridas, sob uma luz cênica, um painel da Mari Mats. Ao fundo, atrás do telão no qual a aula seria projetada, os tons de rosa, amarelo e laranja do Nove faziam uma engraçada composição com a camisa quadriculada e colorida do palestrante. Ah, sim. O professor da aula inaugural era Adriano Silva, publisher do Projeto Draft e curador da Academia Draft. Antes dele subir ao tablado, Lu Ferreira, a COO da Academia, fez uma breve introdução do que se pretendia ali.

“Essa não é uma aula comum. Essa é uma experiência de troca, que pede interação. A Academia Draft é um espaço para que quem tem o que dizer possa dizê-lo a gente que está interessada em ouvir – do jeito mais acessível, informal, e menos mediado possível”

Em casa, assistindo à aula em tempo real, via streaming, havia outras 10 pessoas. Entre nós, na aula presencial, umas dez pessoas que trabalham na área de mídia e comunicação, dois administradores de empresas, um profissional financeiro, duas educadoras, uma empresária que emprega “três mil funcionários”.

Alguma coisa uniu toda essa gente. E os trouxe para cá essa noite: “Alguns de vocês, pelo que conversamos há pouco, estão em um momento de disrupção, na carreira ou na vida”. Muitos acenos positivos de cabeça.

Antes de entrar no assunto, “Nova Economia – um mergulho na Cultura Maker”, Adriano se descreve como “esse índio, alto, com o microfone na mão”. Ele conta da sua própria trajetória — jornalista, MBA no Japão, 10 anos de Editora Abril, e criador de uma série de títulos de revistas por lá, passagem pelo Fantástico, mergulho no empreendedorismo com uma empresa que trouxe blogs como o Gizmodo ao Brasil, dois anos de espera até poder empreender novamente em mídia para criar o Projeto Draft e, agora, a Academia Draft.

CICLOS RÁPIDOS

Eu não tinha assistido ainda a essa aula do Adriano. Uma apresentação que ele diz ter montado a partir do que aprendeu – e desaprendeu – com a janela que o Draft lhe abriu para a Nova Economia. Foi, para mim, que também lido com o Draft desde a sua estreia, uma experiência interessante ver o Adriano falando todas aquelas coisas (que eu resumo abaixo), e cruzando com as minhas próprias percepções, com as minhas próprias aprendizagens e desaprendizagens.

A aula é dinâmica. Sangue nos olhos. Uma ideia bacana. Swoosh. Uma provocação. Tapa na cara. Já foi. Próximo conceito. Próximo business. Próximo tudo.

Entender a Nova Economia implica em perceber o quanto a “velha” economia está “ferida de morte”. Algumas verdades, que funcionaram bem no último século, passam a fazer cada vez menos sentido. Ciclos longos, carreiras estáveis, monopólios de informação e conhecimento, tudo isso tem data para acabar. Ou já acabou. Perceber isso ajuda a entender a nova organização do mundo e, também, como se colocar diante disso, dentro disso.

 “O único jeito de a gente permanecer vivo e relevantes é mudar sempre. A alternativa a isso é a morte – seja ela real ou metafórica”

Sair da zona de conforto. Experimentar novas carreiras e novas possibilidades, mesmo sem a garantia de que todas as mudanças serão para melhor. Nem sempre são. Mas ficar parado, imobilizado por uma ilusão de segurança, é ainda pior.

Adriano fala da crise, da convulsão e histeria social e política que estamos vivendo. Fala da crise do jornalismo, que ele coloca num patamar específico: “Estamos vivendo uma crise de modelo de negócio, mas não de demanda”. Nunca fez tanta falta, sobretudo nesse momento, um jornalismo bem feito, equilibrado que esteja interessado em buscar a verdade, e não em construir uma versão. Informação em vez de proselitismo. Cadê? Quem faz? Olhaí a oportunidade de negócio. Olhaí o oceano azul.

FAZER O QUE NINGUÉM ESTÁ FAZENDO

Antes mesmo do termo “Nova Economia” se tornar conhecido, uma gente antenada começou a ocupar espaços em mercados consolidados com produtos que eram ao mesmo tempo melhores, mais rápidos e mais baratos — a trinca que define a inovação e o espírito hacker.

Um exemplo é a Box 1824, “que chegou e arrebentou o mercado de pesquisa no Brasil”, reinventando o processo de captação de tendências de comportamento.

Outro é a Perestroika, uma escola que não é escola, pois não olha para a educação como aquela coisa chata e obrigatória que se faz para os outros, mas como algo eletivo e divertido, e que se faz para si, a vida toda. Adriano diz: “Sem a disrupção da Perestroika, que inventou o segmento de cursos livres no Brasil, não haveria Academia Draft”.

Outro é o case que impressiona pela simplicidade da ideia: Laranjas Online, ou sobre como a herdeira de um laranjal passou a entregar, em 72 horas, a laranja colhida, do pé, direto ao comprador, graças a uma plataforma digital.

Estamos falando de inovação, o ingrediente básico da Nova Economia. E, se você nunca pensou nisso dessa forma, é interessante diferenciar, por exemplo, a Inovação Incremental (que melhora algo já existe) da Inovação Disruptiva (que cria uma forma totalmente nova de fazer algo). “Toda vez que algo disruptivo aparece, ou o mercado te rejeita, e você morre rápido, ou ele te aceita e mata líder que estava estabelecido”, ele diz. E da plateia pipocam as palavras “aplicativo de taxi”, “Uber”, “Airbnb”, “Netflix”! Cases que já vão ficando clássicos.

“Você não está a salvo da revolução, mesmo se for o revolucionário”

A inovação disruptiva é um dos pilares da Nova Economia. O outro é a busca do trabalho com propósito. “Esse é um termo que já está ficando desgastado, mas que ainda é a melhor forma de dizer que aquela antiga divisão entre trabalhar e ser feliz, na qual você era um profissional em horário comercial e só podia se divertir fora do expediente, aquele jeito velha economia de dividir a vida, está com os dias contados.” Business as a lifestyle, empreeendedorismo como um estilo de vida.

É MAIS DO QUE SER CRIATIVO

A aula prossegue. Adriano abre a nossa categorização — que está longe de ser a única ou a definitiva — dos tipos de negócio que compõem a Nova Economia: Negócios Criativos (“Aquele negócio que é para viver, e não para vender”), Negócios Sociais (“Não é ONG, não é filantropia, é um business que gera lucro ao mesmo tempo em que se promove algum impacto positivo na sociedade”), Startups (“Negócios, geralmente digitais, feitos para escalar rapidamente e serem vendidos”), e Corp Innovation (“Não é preciso ter um CNPJ para inovar. Alguns dos caras mais corajosos e inovadores do mercado são os executivos de grandes empresas que atraem fornecedores disruptivos para dentro do seio geralmente conservador da corporação”).

De tempos em tempos, o Adriano olha para a lente da câmera e fala “com o pessoal de casa”. No fundo da sala, um cameraman acompanha os movimentos dele no palco e, também, quando se aproxima de alguém na plateia, para captar um comentário no microfone.

Em seguida, outro slide apresenta também uma proposta para se entender os públicos da Nova Economia: Makers, Movers e Watchers.

Maker é o que cara que faz. Não é só o que está no FabLab, na marcenaria, no Arduino, mas o empreendedor que se arrisca em um negócio disruptivo. Mover é aquele que pode vir a empreender ou não, que está se informando e se instrumentalizando para um dia se tornar maker. Watcher é alguém que pode nunca vir a empreender na Nova Economia, mas se atrai por essas histórias, quer conhecer esses códigos e acompanhar sua evolução”, diz.

Mal nos damos conta, mas já são 21h15. A aula vai até 22h e Adriano sugere um break antes de entrar nas considerações finais. Engraçado, mas o break não acontece exatamente, já que o pessoal prefere fazer perguntas e ficar para ouvir as respostas, puxando novos comentários e perguntas.

De vez em quando, é possível ouvir o zunido distante do metrô, que nos lembra de que estamos em São Paulo, de que é noite, é segunda-feira, há um mundo lá fora. O que levar daqui hoje?

APRENDER A DESAPRENDER

Na sequência final, de 14 slides com (des)aprendizados e dicas, para levar no bolso, excertos da Nova Economia para uso prático:

Quer inovar? Abra espaço para os hackers.
Onde estão os inovadores? Procure os insatisfeitos.
Ideas are free. O que conta é a execução.
Makers make. Comece agora, faça o que pode, com o que tem. DIY.
O melhor jeito de aprender é fazer. Sem medo do erro.
O dinheiro é um meio de realizar e construir coisas, não é o fim.
Não precisa fazer sozinho. Fazer junto é muito melhor.
Hardworkers, não necessariamente workaholic. Muito trabalho, muita diversão.

Penso que tudo isso passa por ser um pouco mais otimista, no fim das contas. Acreditar no novo, não ter medo de tentar fazer diferente. Sabendo que pode dar errado, e que isso não é o fim.

Já passava das 22h, hora combinada para o término da aula. São 22h10. Todos pareciam relaxados, como se estivessem entre amigos. Conforme se levantavam para ir embora, os ânimos se reenergizaram e começaram bate-papos, trocas de cartão, conversas laterais, promessas de almoços e novas conversas. De repente, o corredor lateral do ProjectHub ficou mais estreito, cheio de vozes. E as cervejas foram sendo devidamente utilizadas, bem com os snacks da Farofa.la.

Podia ser uma balada, podia ser uma aula comum, podia ser qualquer coisa. Mas era a Academia Draft, começando a existir. Vem mais por aí.

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