A rotina de acesso ao Scottish Event Campus, em Glasgow, com filas e testes de Covid-19 para os participantes está de volta nesta segunda-feira (08/11), que abre a segunda semana das negociações daCOP26. Do lado de fora, o fim de semana foi de bastante agitação e protestos.
As ruas da capital escocesa foram tomadas por jovens que pedem que seus líderes ajam com mais afinco para frear as mudanças climáticas. Com a presença da ativista Greta Thunberg, estima-se que mais de 100 mil manifestantes tenham comparecido. Muitos deles sequer eram nascidos quando a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) foi criada, em 1992. Este tratado tenta, desde então, encontrar consenso entre seus 197 países signatários.
É com essa cobrança dos jovens, que vão viver por mais tempo num planeta mais quente, que diplomatas retomam as negociações para entregar o que se esperado da conferência deste ano. Como incentivo à tomada de decisões políticas e difíceis que precisam ser acertadas, o presidente da conferência, Alok Sharma, lembrou:
“Ninguém está imune às mudanças climáticas.”
O discurso está alinhado como tema escolhido do dia: Adaptação, Perdas e Danos. A programação foi recheada com depoimentos de comunidades, especialistas e ministros sobre o impacto dos eventos climáticos extremos, degradação ambiental, aumento do nível do mar e o que precisa ser feito para que países sobrevivam a este cenário em desenvolvimento.
Críticos concordam que estes tópicos precisam de mais atenção do que receberam até agora. Por outro lado, espera-se que o debate vá além de apenas “reconhecer” a necessidade de suporte e que ajude de fato as comunidades que estão sofrendo neste momento.
São os países mais pobres – e os que menos contribuíram para o acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera – os mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Foi o que Simon Kofe, ministro de Relações Exteriores de Tuvalu, arquipélago no Pacífico, quis transmitir no seu discurso a outros líderes na COP: de terno e gravata, ele gravou um vídeo de dentro do mar, com água até os joelhos, para reforçar a ideia da ameaça que sofrem.
Tuvalu, país insular que fica na Oceania, é um dos mais ameaçados pelo aumento do nível do mar. E o ministro das Relações Exteriores, Simon Kofe, fez uma declaração de dentro do mar. Uma imagem vale mais que mil palavras #COP26 https://t.co/6pcnoQNnm2
— NetZero (@NetZerowebsite) November 5, 2021
Nas palavras de Kofe:
“Esta declaração justapõe o cenário da COP26 com as situações da vida real enfrentadas em Tuvalu devido aos impactos das mudanças climáticas e do aumento do nível do mar.”
O ano de 2021 registrou eventos climáticos extremos em nações mais ricas que chocaram seus residentes, como as enchentes na Alemanha que transformaram riachos em corpos d’água com correntes mortais. Mais de 100 pessoas morreram depois das chuvas de julho passado, que destruiu cidades históricas.
O anfitrião Reino Unido também já lida com alterações generalizadas no clima. Berço da Revolução Industrial, que iniciou a queima acelerada de combustíveis fósseis e emissões de CO2, o país, que é uma ilha, viu o nível do mar subir 16 cm desde 1900. A temperatura média do solo aumentou 1,2 °C. Os dados fazem parte de um estudo do Climate Change Committee, um órgão independente que aconselha o governo politicamente.
Para financiar as mudanças necessárias nos países que têm menos recursos, foi anunciada nesta segunda-feira a maior contribuição ao Fundo de Adaptação, de US$ 232 milhões. Os recursos vieram do Reino Unido, EUA, Canadá, Suécia, Finlândia, Irlanda, Alemanha, Noruega, Itália, Qatar, Espanha, Suíça, dos governos de Quebec (Canadá) e Flandres (Bélgica).
Barack Obama, ex-presidente dos EUA, discursou e não esqueceu de mencionar o Brasil. Foi ele que inseriu os americanos em 2015 no Acordo de Paris, recusado na sequência por Donald Trump e reinserido na agenda de compromissos do país depois da eleição de Joe Biden. Obama criticou a ausência dos líderes da China e da Rússia, e disse ainda que o mundo precisa que todos façam parte do esforço global, incluindo o Brasil.
Também esteve na COP 26 o fotógrafo Sebastião Salgado, que participou de um debate no estande Brazil Climate Action Hub. Imagens registradas por Salgado que fazem parte da exposição “Amazônia”, em cartaz no Science Museum de Londres, são exibidas no local.
#sebastiãosalgado fala durante a #COP26 no Brazil Climate Action Hub, atraindo a atenção da imprensa nacional e internacional. “Nosso Executivo hoje tem um discurso, mas o comportamento é outro. O Ibama não tem mais ação na Amazônia”, disse. pic.twitter.com/yFjpPcGqHQ
— NetZero (@NetZerowebsite) November 8, 2021
Para o fotógrafo, que registrou povos e paisagens da maior floresta tropical do mundo, a humanidade se distanciou do planeta:
“Precisamos proteger ecossistemas e as florestas que ainda existem.”
Salgado falou ainda sobre o desmatamento da Amazônia e a destruição de órgãos ambientais que fazem a fiscalização.
“O Ibama foi desativado na Amazônia. A Funai, que protegia os territórios indígenas, foi desativada na Amazônia. A Funai hoje é uma instituição que trabalha para um ‘certo’ agronegócio predatório. Esse governo tem um discurso, que aparece aqui na COP de uma certa forma, mas, na realidade, o comportamento dele é outro.”
Esta e outras denúncias renderam ao Brasil o primeiro antiprêmio da conferência. Dada pela ONG Climate Network, o “Fóssil do Dia” da primeira semana de reunião foi concedido a Jair Bolsonaro pelo tratamento “inaceitável” que o presidente dá aos povos indígenas.
Na última sexta, o Brasil levou o prêmio Fóssil do dia na #COP26 por 'tratamento horrível e inaceitável' aos povos indígenas. A escolha foi feita depois que a indígena brasileira Txai Suruí foi criticada por seu discurso na abertura da conferência. pic.twitter.com/b3Rv4L87yD
— NetZero (@NetZerowebsite) November 8, 2021
Ao explicar a escolha do país, a ONG mencionou a jovem indígena Txai Suruí, que discursou na abertura da COP. Ela foi criticada por Bolsonaro e disse ter sofrido intimidações por membros do governo brasileiro.
Enquanto isso, as ruas de Glasgow apresentam, a moradores e visitantes, os indígenas brasileiros como os verdadeiros guardiões da floresta.
Nas ruas de Glasgow, onde acontece a #COP26, indígenas brasileiras chamam a atenção de quem passa por um dos principais corredores comerciais da cidade. A arte é um alerta para a manutenção das terras indígenas, que contribuem com a preservação das florestas. pic.twitter.com/nIhM18cDsO
— NetZero (@NetZerowebsite) November 8, 2021
O bagaço de malte e a borra do café são mais valiosos do que você imagina. A cientista de alimentos Natasha Pádua fundou com o marido a Upcycling Solutions, consultoria dedicada a descobrir como transformar resíduos em novos produtos.
O descarte incorreto de redes de pesca ameaça a vida marinha. Cofundada pela oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo, a Marulho mobiliza redeiras e costureiras caiçaras para converter esse resíduo de nylon em sacolas, fruteiras e outros produtos.
Aos 16, Fernanda Stefani ficou impactada por uma reportagem sobre biopirataria. Hoje, ela lidera a 100% Amazonia, que transforma ativos produzidos por comunidades tradicionais em matéria-prima para as indústrias alimentícia e de cosméticos.