TODAS AS CATEGORIAS
A cada saída ou volta dos treinos de corrida, Gisele Violin e Corina Godoy Cunha esbarravam nos mesmos obstáculos. Gisele sofria com bolhas nos pés que se renovavam a cada quilômetro. Corina, por sua vez, penava com a pele irritada pelo protetor solar que se rendia ao suor e ao sol prolongado.
No caso de Corina, o melasma agravava a situação. A primeira saída que ela encontrou foi correr usando balaclava (também chamada de “touca ninja”) — uma solução inviável para quem busca leveza e prazer no movimento.
Formada em Farmácia e dona de uma farmácia de manipulação, Corina decidiu resolver o problema com as próprias mãos. Criou um protetor solar de alta resistência para si e as amigas corredoras.
Administradora de empresas, diretora e cofundadora da Pink Cheeks, Gisele falou sobre essa jornada em entrevista ao Draft. E lembrou o contexto do mercado naquele momento:
“Na época, os protetores eram bons, mas não voltados à performance. Derretiam com o suor, escorriam. E não havia o formato em bastão. A cera no composto dá ao produto uma fixação maior na pele”
Corina desenvolveu o protetor solar mais eficaz que conseguiu formular — alta proteção, alta resistência — para si e para as amigas de treino, as “Pink Cheeks”, como se chamavam em alusão às bochechas coradas que denunciavam o esforço.
Logo veio outro produto: um antiatrito, até então inédito no Brasil, criado para evitar as assaduras causadas pelo movimento constante e pelo contato da pele suada com a roupa justa.
“Era coisa nossa mesmo. Usávamos, testávamos e víamos que funcionava”, diz Gisele, que convenceu Corina a vender os produtos na farmácia. “Se nós precisávamos, outras pessoas também deviam precisar.”
Em 2013, Gisele, Corina e uma terceira sócia lançaram oficialmente a Pink Cheeks — nome herdado das próprias brincadeiras entre elas.
O protetor manipulado, no entanto, não podia ser vendido fora de farmácias especializadas. Com recursos próprios e empréstimos bancários, as sócias arrecadaram 2 milhões de reais e decidiram dar um passo maior. Em vez de terceirizar, compraram um galpão e maquinário para montar uma linha de produção própria em Leme, a 190 quilômetros da capital paulista.
Para divulgar a marca, fecharam parceria com uma fabricante de roupas esportivas que patrocinava corridas de rua. A ideia era patrocinar o evento, expor a marca e enviar amostras junto ao kit da prova.
As sócias abasteceram o estoque esperando vender bem, mas não saiu uma unidade. A frustração, diz Gisele, deu lugar à paciência:
“Muita gente nos conta que conheceu o produto naquele evento. Construir uma marca leva tempo”
Hoje, as corridas de rua vivem um novo auge, com calendários lotados e recordes de inscrições em provas tradicionais como a Maratona Internacional do Rio de Janeiro e a São Silvestre, com 60 mil e 50 mil inscritos, respectivamente. Mas, em 2014, o cenário já era promissor. Segundo a Federação Paulista de Atletismo, o número de concluintes em corridas de rua no estado havia crescido 15,35% naquele ano.
Sem margem para atuar no varejo, elas criaram seu próprio e-commerce e apostaram em um modelo clássico da indústria de cosméticos: as representantes de vendas. Gisele relembra:
“Não tínhamos margem para vender em lojas. As nossas consultoras eram mulheres que usavam o produto — muitas delas fisioterapeutas — e viam na revenda uma segunda fonte de renda”
Durante quatro anos, foi assim: investimento em redes sociais, vendas diretas e divulgação boca a boca. A cada nova demanda percebida entre as corredoras, surgia um novo produto.
Em 2016, além dos carros-chefe — o protetor solar e o antiatrito —, a Pink Cheeks já oferecia sabonete, shampoo, condicionador, máscara capilar, ativador de cachos e até soluções para tratar bolhas nos pés e lenços umedecidos para o corpo. Alguns produtos prosperavam; outros, nem tanto.
“Passamos a competir com itens de prateleira, vendidos em farmácias e supermercados, que dificilmente as pessoas trocam por outra marca. Tivemos de entender o que faz sentido para o público. Nossos produtos precisam entregar performance real para o esporte, não apenas cosmética”
As sócias decidiram concentrar esforços nos produtos realmente usados durante a prática esportiva ao ar livre. Entre os capilares, restou apenas um: o leave-in que protege o cabelo do sol, do suor e evita o embaraço durante a corrida.
Em 2017, já era possível encontrar os produtos em grandes varejistas como Centauro, Decathlon, Netshoes e Beleza na Web. O faturamento chegou a 3 milhões de reais.
Na pandemia de Covid-19, a Pink Cheeks sofreu com queda nas vendas, no primeiro semestre de 2020. Mas, conforme as pessoas migraram para atividades ao ar livre, o movimento começou a se recuperar.
“Aproveitamos o período para repensar a marca. Nossa comunicação era muito voltada para alta performance, para mulheres atletas”, lembra Gisele. “Decidimos torná-la mais aberta, unissex, mostrando que nossos produtos servem para todos que praticam esportes — até quem só caminha no parque.”
Mesmo assim, 90% do público segue sendo feminino:
“Antes, quando montávamos um estande em exposições de corrida, os homens passavam direto… Hoje eles entram. Mas ainda há muitos casos de mulheres que compram para o marido ou para o filho — dados que nem sempre conseguimos mapear”
E também de homens que simplesmente “assaltam” a nécessaire da esposa. A aposta para atrair esse público masculino deve vir em breve, com colaborações com atletas homens em campanhas que a marca já planeja.
De acordo com o Wellness Economy Monitor 2024, do Global Wellness Institute (GWI), o mercado global de bem-estar cresceu de 4,6 trilhões de dólares em 2020 para 5,8 trilhões de dólares em 2022, alcançando o recorde de 6,3 trilhões de dólares ao fim de 2023 — uma expansão anual de 9%.
A Pink Cheeks acompanhou o movimento. Em 2024, seu faturamento dobrou em relação a 2023, chegando a 50 milhões de reais. Neste ano, firmou parceria com a Maratona do Rio de Janeiro para se tornar o “protetor solar oficial” da prova. O acordo rendeu também o lançamento do produto Bronze Carioca — um multifuncional que pode ser usado como blush, sombra e batom.
Com a parceria, a marca ganhou visibilidade nos canais do evento e passou a integrar o circuito MDR, que leva provas a cidades como Recife e Belo Horizonte. Gisele afirma:
“Temos a oportunidade de trabalhar com as comunidades locais, o que nos permite ativar a marca de formas diferentes”
Para 2025, o plano é mais contido: crescimento de 25%. “Crescemos 80%, 90% e, no ano passado, 100%. Agora queremos estruturar melhor os departamentos para garantir um crescimento saudável”, diz. Mesmo assim, o ritmo de lançamentos continua — quase um novo produto por mês. Para 2026, estão previstos mais onze.
“A Pink construiu uma comunidade de clientes realmente fiéis”, diz Gisele. “Conseguimos conversar com elas de forma próxima, e isso é um grande trunfo para qualquer marca.”
“Hoje, as pessoas focam no algoritmo, desesperadas em viralizar”: os aprendizados que Bianca Andrade colecionou em sua trajetória — da juventude no Complexo da Maré ao posto de dona de holding e influenciadora mais relevante do país.
O mercado de cervejas zero vem bombando no país, mas ainda é dominado por poucas marcas. Publicitário e apaixonado por corrida, Eduardo Andrade resolveu entrar nessa briga e criou a Etapp, uma cerveja sem álcool para atletas amadores.
Cansados das opções sem graça do mercado de roupas esportivas, eles resolveram fundar a sua própria marca. A BAD RUNNING privilegia o estilo acima da performance e cria peças versáteis que podem ser usadas em vários momentos do dia.
