Eu tinha tudo para dar errado! Sim, você leu certo.
Como costumo dizer, sou mais um dos improváveis brasileiros que — mesmo sem muito tempo disponível para se dedicar aos estudos, sem frequentar boas escolas ou as melhores universidades, sem estar entre os alunos destaques e tendo que conciliar trabalho, faculdade e outras atividades — foi aprovado em um concurso público.
Trabalhar no serviço público, para muitos, é o sonho realizado de crescimento profissional, boa remuneração e estabilidade financeira e de emprego.
Para mim, era a chave para poder garantir o futuro da minha família e minha aposentadoria sem preocupação.
E mesmo com a maré indo contra, fui aprovado em seis concursos, obtendo em um deles a primeira colocação para escrevente técnico judiciário do TJ-SP, com 97% de acertos (uma das notas mais altas da história desse concurso)
Mas, a minha jornada começou muito antes e de uma maneira descrente, um tanto até inusitada.
Sou de Franca, interior de São Paulo, e minha infância se passou num ambiente desfavorável para o desenvolvimento escolar.
Depois de se casar novamente, minha mãe e eu passamos a conviver com a violência doméstica e com um padrasto estelionatário.
Nos mudávamos constantemente de residência para que ele fugisse da polícia ou “renovasse” a cartela de clientes, as vítimas dos seus golpes.
Essas mudanças frequentes, aliadas ao meu desinteresse, impactaram minha rotina e desempenho escolar. No primeiro ano do Ensino Médio, aos 14, já trabalhava em período integral em uma fábrica da cidade e estudava à noite.
Não gostava de ir à escola, chegando a cabular aulas por dois meses, o que me rendeu uma reprovação pelo excesso de faltas.
Fui operário em uma fábrica de calçados até os meus 20 anos. Depois de estagiar em uma cooperativa de crédito e obter experiência em marketing comprovada em carteira, ingressei numa loja de autopeças enquanto cursava a faculdade de administração de empresas.
Em meados de 2010, enquanto selecionava currículos para a vaga de entregador nesta empresa, um em específico me chamou a atenção: era o CV de um homem de 48 anos, com cargos gerenciais na carteira de trabalho e a última remuneração de 8 mil reais.
Ele estava se candidatando para um cargo relativamente inferior, com salário de 1 300 reais, porque não conseguia trabalho e precisava sustentar a família.
Foi nesse momento que comecei a refletir o que queria para minha vida profissional e valorizar algo que fosse seguro, que pudesse oferecer conforto para mim e meus entes queridos ao longo do tempo.
Tomar a decisão definitiva de passar num concurso público me fez abdicar de coisas, tempo, amigos e lazer para conquistar algo maior.
Estudar nunca foi uma habilidade, como já contei, mas era algo necessário para conquistar a tão sonhada aprovação no concurso público.
Minha maior dificuldade, no início, foi o tempo para estudo, que eu conciliava com o trabalho e a faculdade.
Além disso, como não tinha o hábito de estudar desde a escola, comecei sem método e de maneira desorganizada, principalmente nas matérias que eu tinha severa dificuldade e eram as básicas do colégio: português e matemática.
Meu primeiro objetivo, em 2010, foi uma vaga no Banco do Brasil, um concurso de concorrência regionalizada e com conteúdo parecido com o que eu aprendia na faculdade. Logo depois, veio a preparação para o exame do INSS, em 2011.
Esse foi o projeto mais organizado que eu já tinha executado na vida — da matrícula em um curso telepresencial de preparação à programação de estudo no fim de semana e em todo meu tempo livre
Com muito esforço, foco e dedicação, comecei a colecionar aprovações, passando nos concursos de oficial de promotoria, escriturário do Banco do Brasil (duas vezes), escrevente técnico do judiciário do TJ-SP, assistente legislativo, analista do Ministério da Fazenda e fiscal de tributos.
Toda essa bagagem me levou à posição que estou hoje, de especialista em como estudar para concursos públicos.
VIREI O “BRABO DOS CONCURSOS”
Eu tinha um objetivo: ter segurança e estabilidade financeira para mim e minha família e tudo isso se tornou realidade quando fui aprovado para o cargo de fiscal de tributos da prefeitura de Franca, com uma remuneração mensal de 18 mil reais.
Mas quando não fui convocado para assumir o cargo, a frustração tomou conta de mim, ainda mais depois de muita espera pela publicação no Diário Oficial
Isso aconteceu porque, mesmo após a entrega da documentação, uma decisão judicial que impugnava as novas contratações pela administração da cidade me impediu de exercer a função.
Sem garantia de emprego e com medo de não desempenhar a função para a qual fui aprovado, vi como alternativa para gerar renda, até que eu prestasse outra prova, a criação de um canal de vídeos para ensinar outras pessoas a passar em concursos.
E o que era para ser algo temporário mudou a minha vida e me rendeu o apelido de “Brabo dos Concursos”, hoje o nome do meu negócio. Atualmente, o canal tem mais de um milhão de inscritos e quase 50 milhões de visualizações.
Trago conteúdos com bastante consistência e busco formas de me manter atualizado, tendo concluído recentemente uma especialização em neurociência.
CONQUISTEI MAIS DO QUE IMAGINAVA E ENTENDI QUE TER DISCIPLINA É ESSENCIAL
Dentre os principais acertos da minha trajetória estão a disciplina de, enfim, fazer o que precisa ser feito, e a busca por aprimoramento contínuo.
Até então eu nunca tinha sido essa pessoa e só fazia o que era necessário quando era obrigado, sempre entregando o que me foi encomendado no último minuto permitido
Quando tomei a decisão de mudar de vida, a partir de muita frustração, percebi que a disciplina seria o maior diferencial e me dediquei exclusivamente aos concursos públicos, o que me levou até os cargos que conquistei.
O que aprendi nessa jornada é que vale a pena se esforçar, que o trabalho é duro, mas tudo o que você faz é recompensado.
Muitas das coisas que eu colho hoje tem relação indireta com o concurso público. E é por isso que falo aos meus alunos que, ainda que eles não consigam o resultado que estão buscando, se tiver esforço e dedicação envolvidos, outras conquistas virão por tabela.
O Brabo dos Concursos acabou se transformando na maior plataforma educacional do gênero e se consolidou como referência para os concurseiros do país
Um dos meus próximos projetos é montar uma editora vinculada à plataforma em que os meus alunos encontrem os conteúdos que precisam de maneira fácil e completa.
Também quero continuar a fazer a diferença na vida de quem estuda para concurso público e, paralelo a isso, consolidar ainda mais a minha marca.
Acho que ver outras pessoas correndo atrás de seus objetivos e conseguindo conquistá-los é o que me move a continuar. É gratificante ser parte da transformação de tantos futuros.
Mateus Andrade é especialista em preparação para concursos públicos, à frente hoje do maior canal brasileiro sobre o tema, com mais de 50 milhões de visualizações e mais de 1 milhão inscritos, o que lhe rendeu o apelido de Brabo dos Concursos.
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