Draft ano 2 – Hoje, a plataforma de caronas Tripda não existe mais…

Camilla Ginesi - 6 set 2016O antigo country manager no Brasil, Daniel Velazco-Bedoya, agora cuida da expansão do app de transporte individual Cabify. Ele conta o que aprendeu com a experiência de empreender.
O antigo country manager no Brasil, Daniel Velazco-Bedoya, agora cuida da expansão do app de transporte individual Cabify. Ele conta o que aprendeu com a experiência de empreender.
Camilla Ginesi - 6 set 2016
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Há pouco mais de um ano, contamos a história da Tripda, na época, a maior plataforma de caronas do Brasil. A empresa já operava em 13 países – entre eles, Estados Unidos, Índia e Colômbia – e havia recebido há poucos meses um aporte de 11 milhões de dólares liderado pela financiadora alemã de companhias online Rocket Internet, com a participação de outros investidores menores. A Rocket esteve presente desde a fundação da empresa, cujos idealizadores foram os paulistas Pedro Meduna e Eduardo Prota.

Na época da reportagem no Draft, o peruano criado no interior de São Paulo Daniel Velazco-Bedoya era country manager da Tripda no Brasil. Ele entrou para o time em outubro de 2014, quando sua startup Caronas.co foi adquirida pela empresa e Daniel assumiu a expansão do negócio no Brasil. O tempo passou e, um ano e cinco meses depois disso tudo, a Tripda acabou fechando as portas e encerrou sua operação em todos os países ao mesmo tempo.

Em agosto de 2015, a Tripda apareceu no Draft (clique na foto para ler a reportagem).

Em agosto de 2015, a Tripda apareceu no Draft (clique na foto para ler a reportagem).

Voltamos a conversar com Daniel para saber como ele viveu esse processo, o que aprendeu e como está sua vida hoje. Dessa vez, o papo aconteceu por Skype. Daniel quase não tem horários livres. Já não se lembra qual foi a última noite em que dormiu mais de 8 horas. Ele viu sua rotina virar de cabeça para baixo quando decidiu encarar um novo desafio: ser country manager de outra empresa de internet, desta vez do aplicativo espanhol de transporte individual Cabify.

Hoje com 27 anos, ele continua aparentemente o mesmo: dinâmico e otimista. Mas, de acordo com o próprio, algumas coisas mudaram. Por exemplo, ele acumulou muita experiência (e alguns quilinhos) e foi morar em São Paulo. Ao reler o primeiro texto publicado no Draft sobre a Tripda antes de conceder esta entrevista, Daniel pareceu tocado:

“É engraçado pensar como tudo mudou rápido. O fechamento da empresa foi uma surpresa para todos nós”

Negócios de alto risco e dependentes de um único grande investidor são, de fato, mais suscetíveis a um final abrupto. Foi o que aconteceu com a Tripda. O comunicado oficial de encerramento das atividades da empresa, que ainda está disponível no antigo site, diz: “Dado o crescente desafio de financiar o nosso desenvolvimento, decidimos não continuar nessa carona”. Daniel falou a respeito com mais detalhes.

QUANDO A PRESSÃO DO INVESTIDOR FICA INSUPORTÁVEL

Segundo ele, a decisão de pôr fim às operações partiu da financiadora. “O nosso ritmo de crescimento era fantástico, mas houve uma mudança no critério de investimento da Rocket. A minha impressão é que a estratégia deles passou a ser investir nos businesses que tinham potencial de gerar lucro num prazo menor”, afirma. “É compreensível, pois a Rocket está sob uma pressão grande dos acionistas porque muitos dos seus negócios estão no vermelho.”

A Tripda havia recentemente atingido a marca de 70 000 usuários no Brasil, a maior parte deles moradores do estado de São Paulo. Os empreendedores por trás do negócio também já tinham descoberto qual seria a fonte de receita: cobrar uma taxa sobre cada transação entre passageiro e motorista, como faz o próprio Cabify. “No Brasil, estávamos com um plano de expansão bem agressivo. Já tínhamos confiança em como estabelecer a plataforma em várias cidades”, conta Daniel.

Daniel mudou de empresa mas segue no ramo de mobilidade e tecnologia: agora com a Cabify.

Daniel segue no ramo de mobilidade e tecnologia: agora exerce a mesma função na Cabify.

Ou seja, de uma hora para outra, todos os planos profissionais de Daniel mudaram. “Foi um momento para refletir se eu realmente queria ser empreendedor”, diz ele, que é formado em Engenharia Agronômica pela Esalq, escola de agricultura da USP que fica em Piracicaba, cidade do interior de São Paulo. Antes de criar sua startup, a Caronas.co, Daniel achava que seguiria pelo caminho do agronegócio – e essa dúvida de carreira o acompanhou por muito tempo.

“Já não me questiono tanto. Antes parecia que todas as decisões que eu tomava eram definitivas, irreversíveis. Hoje, prefiro aproveitar a minha oportunidade atual e não pensar tanto no futuro”, diz. O fechamento da Tripda também fez com que Daniel aprendesse a lidar com seu maior medo como empreendedor:

“Eu temia que meu negócio não desse certo e realmente não deu. A boa notícia é que ninguém morre disso. Saí dessa mais maduro”

Em março deste ano, Daniel recebeu um contato do Cabify pelo LinkedIn. Ele foi convidado para ser o responsável pelo lançamento do app no Brasil – e aceitou na hora. “Mudei de negócio e de posição, mas a responsabilidade é a mesma”, conta. Ele, inclusive, levou alguns profissionais da antiga empresa para a nova. Quando entrou, o Cabify estava em quatro países. O lançamento no Brasil aconteceu em abril deste ano, e o número de países em que o app, que é um concorrente do Uber, opera deve chegar a 12 até o final do ano. “O desafio é ainda maior se considerarmos a rapidez de crescimento e a agressividade do mercado”, afirma.

FALHAR, APRENDER, SEGUIR EM FRENTE

Da experiência na Tripda, ele leva muita coisa: “Lá, aprendi a gerir meu tempo. No começo, queria resolver tudo num dia, numa semana, num mês. Ficava muito desgastado. Descobri que dá para dar um pause de vez em quando para absorver conhecimento e espairecer sem perder produtividade”. Também foi onde ele descobriu a importância de prestar atenção nos mínimos detalhes. “O serviço da Tripda era tão vendável que era difícil decidir quais eram os mercados certos para ele”, diz:

“Se eu pudesse dar uma dica para mim mesmo lá atrás, seria nunca perder o foco”

Se uma parte das mudanças que Daniel empreendeu foi por experiência própria, outra foi por aconselhamento de amigos e mentores. “Nunca fui o tipo de empreendedor que lê livros sobre negócios, sempre preferi me consultar com profissionais mais experientes, inclusive empresários do agronegócio”, conta. “Muita gente acha que só o setor de internet é inovador, o que não é verdade. Eu trouxe técnicas que estão no agronegócio há anos para os empreendimentos em que trabalhei e elas deram certo.”

Agora, o plano de Daniel é consolidar o Cabify no Brasil. “É legal trabalhar com algo que eu sinto que contribui para a sociedade. Agora, é fazer dar certo, sem chance para erros”, diz. Se ele se enxerga como empreendedor para sempre? “Acho que sim, apesar de agora estar na função de executivo. A vida tem vários momentos. Este é um dos mais agitados, o último também foi. Não sei se vai mudar muito daqui para a frente.”

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