E se o xixi do seu pet escoasse direto pelo ralo? Conheça a Weasy, empresa que fatura milhões vendendo sanitários para animais

Dani Rosolen - 11 ago 2021
Lara Lorga e Fábio de Carvalho, o casal de empreendedores da Weasy, com as mascotes Pepa (à esq.) e Lili.
Dani Rosolen - 11 ago 2021
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Quem tem cachorro sabe: quase tudo o que eles fazem é lindo, as carinhas, as brincadeiras, os truques, as lambidas. Mas também tem a parte chata, como os pelos espalhados pela casa e o cheiro do xixi e do cocô.

Foi para resolver esse segundo problema, em especial o odor da urina de Pepa e Lili (duas Golden Retriever), que o engenheiro Fábio de Carvalho e a publicitária Lara Lorga criaram, em 2015, uma engenhoca para fazer o xixi das cachorras escorrer direto para o ralo.

Nascia assim o protótipo do que seria o Weasy, o primeiro “banheiro inteligente” para cachorros, que posteriormente ganhou versões para gatos e roedores.

Fundada em 2017, a empresa (que leva o mesmo nome do produto) faturou 7,5 milhões de reais no ano passado. Um crescimento de 34% em relação a 2019, que Lara atribuiu ao maior tempo dos tutores em casa por conta da pandemia.

SE NÃO TEM UMA SOLUÇÃO, FAÇA VOCÊ MESMO

Fábio e Lara moravam em um apartamento em Niterói (RJ) e tinham dois meses de casados quando Pepa veio para a família, em 2014. Os dois trabalhavam na General Electric. Mesmo naquele tempo pré-pandemia, Lara já tinha a flexibilidade de fazer home office. Achou, então, que era o momento ideal para realizar um sonho antigo: ter uma Golden Retriever.

Foi aí que a questão com o xixi começou:

“O banheiro dela era na sacada. Quando via que a Pepa estava saindo do escritório para fazer xixi, já me levantava para passar o rodo, porque senão a casa ficava cheirando”

Para dobrar o trabalho (mas também o amor), sete meses depois, o casal ficou sabendo que outra Golden estava sendo doada e resolveram adotar a Lili.  “Ela chegou em casa com 7 meses [de vida], extremamente dominante e ainda por cima no cio. Toda noite fazia xixi na cama da Pepa, subia no sofá, foi um caos”, lembra.

Com o tempo, o casal conseguiu ensinar Lili a fazer as necessidades no lugar certo. “Só que daí eram duas para eu ficar atrás de limpar xixi”, diz Lara. “Percebemos que poderia haver uma solução para evitar esse trabalho mecânico e nada inteligente de empurrar o líquido para ralo.”

Como não acharam nada no mercado, os dois partiram para o faça-você-mesmo.

“Compramos uma tábua de madeira, fizemos os lados levantados para o xixi não cair para o lado, colocamos pezinhos para ficar inclinada, envolvemos com plástico para impermeabilizar”

As cachorras se adaptaram e o problema ficou resolvido. Mas os tutores não se contentaram com a primeira versão.

TROPEÇANDO NO PRÓPRIO NEGÓCIO

No começo de 2016, o casal se mudou para São Paulo depois que Fábio aceitou um emprego na Dafiti. Escolheram dessa vez um apartamento com uma sacada bem maior para servir de toalete para as mascotes. E, claro, aprimoraram o banheiro delas.

“O Fábio mandou dobrar uma placa de alumínio, encaixou uma mangueira ligada à torneira que direcionava o xixi para o ralo, colocou um tapete de borracha e uns pés que ele fez com durepox”, conta Lara.

O Weasy para cachorros machos.

Era tudo muito simples. O problema do xixi estava resolvido. Os tutores só precisavam recolher o cocô. Os amigos dos dois viram aquilo e acharam que o casal deveria patentear a ideia. Lara, no entanto, ainda não estava certa se o produto era vendável. Ela queria aprimorar a criação para que fosse mais atrativa.

Na época, a empreendedora estava grávida. Após o nascimento de Bento, o casal aproveitou o tempo em casa (a licença-paternidade de Fábio durou 15 dias) para desenvolver um modelo de fibra de vidro, com mais jeito de produto final, que ficou pronto em outubro de 2016.

Em seguida, criaram um site para divulgar o banheiro. Começava ali, meio “sem querer querendo”, a jornada empreendedora do casal. “A gente sempre teve a ideia de buscar algo para empreender — e acabamos ‘tropeçando’ no negócio”, diz Lara.

O PRODUTO NÃO VENDIA ATÉ UM VÍDEO TUTORIAL MOSTRAR COMO ELE FUNCIONAVA

Apesar da empolgação inicial, Lara e Fábio se frustraram porque não houve interesse do público pelo produto. “As pessoas viam ali só uma placona branca, sem sentido”, diz ela.

Na época, chegaram a oferecer no grupo do condomínio, para amigos… E nada.

“Entendemos que se não demonstrássemos como o banheiro funcionava, ninguém iria comprar. Foi aí que tivemos a ideia de fazer um vídeo das nossas cachorras usando o banheiro”

Funciona assim: O cachorro faz xixi sobre o Weasy, o líquido escorre, cai na mangueirinha acoplada e vai para o ralo. O tutor então joga um copo de água em cima para “dar a descarga” ou usa outra mangueira conectada direto à torneira para facilitar o processo (veja o vídeo da Lili usando o Weasy e assista a uma animação ilustrativa).

Eles resolveram postar a gravação no Facebook e o vídeo de Pepa e Lili se aliviando viralizou. “Foi visto mais de 3 milhões de vezes no mundo inteiro. Eu recebi e-mail de mais de 21 países interessados no produto.”

FOI PRECISO TROCAR O MATERIAL PARA ESCALAR

Diante do sucesso estrondoso, o casal se viu obrigado a desativar o site: eles simplesmente não davam conta de atender toda aquela demanda repentina. Conseguiam produzir apenas 10 sanitários por semana em uma fábrica terceirizada, depois de investirem 5 mil reais na ideia.

Mas com o dinheiro que entrou da venda das primeiras unidades, 15 mil reais, em março de 2017 eles compraram uma fabriqueta de fibra de vidro, em São José do Rio Preto (onde moram os pais de Fábio), no interior de São Paulo, e passaram a produzir 200 banheiros por mês.

Ao perceber que o negócio estava engrenando, Lara decidiu largar o emprego, em abril daquele ano, 15 dias depois de retornar de sua licença-maternidade. Em setembro, foi a vez de Fábio pedir demissão.

Os dois se mudaram para São José do Rio Preto e substituíram a fibra de vidro pelo plástico para escalar a produção. E em janeiro deste ano, com o mesmo objetivo, mudaram a sede para Bady Bassitt, cidade a 5 km São José do Rio Preto, onde agora contam com um espaço de 1 300 metros quadrados, 18 colaboradores — e uma capacidade produtiva de 3 mil sanitários por mês.

DEPOIS DA VERSÃO PARA CÃES, ELES FOCARAM NOS FELINOS

O banheiro para cachorro era uma demanda do próprio casal. O preço do produto começa em R$ 399,90 e aumenta conforme o tamanho (P, M e G) e algumas especificidades, como a inclusão de paredes hidratantes.

A versão para gatos, com pedrinhas.

Há versões diferentes para fêmeas e machos (com uma parede que retém o xixi dos cães que levantam a pata na hora de urinar).

Com o tempo, tutores de gato começaram a pedir uma alternativa para seus bichanos. “A gente quebrou a cabeça para chegar em uma solução, porque os felinos são mais seletivos. Eles precisam cobrir o xixi e o cocô, gostam de privacidade, precisam também de um cheiro de terra para se aliviarem”, explica a empreendedora.

Criaram então, em 2018, um modelo com pedrinhas de terra feitas com argila expandida que custa a partir de R$ 499,90 (veja como funciona neste vídeo).

“Essas pedrinhas são leves para o gato conseguir manusear, absorventes, laváveis e ecológicas. O formato do banheiro é diferente, com paredes, para evitar que o gato jogue para fora as pedrinhas quando começa a cavucar”

Segundo Lara, pensando na falta de espaço em apartamentos, o Weasy de gato foi projetado para que os tutores consigam lavar as pedrinhas dentro do próprio banheiro pet. Já a versão canina só precisa ser escovada e limpa com água e um paninho.

Apesar dos formatos diferentes, o princípio é o mesmo. Lara diz que a “descarga” pode ser dada apenas no final do dia. E garante: o sistema minimiza “95% do cheiro”.

PRATICIDADE, ECONOMIA E SUSTENTABILIDADE: OS PILARES DO PRODUTO

Essa também é a porcentagem aproximada (95%) do total que de vendas que acontecem pelo marketplace da Weasy. O restante se dá por meio de um quiosque próprio no Shopping Cidade Jardim (São Paulo) e mais 20 revendedores físicos e online, como Amazon, Americanas, Cobasi, FastShop, Mercado Livre, Petz e Petlove.

A principal vantagem do Weasy para os tutores, diz Lara, é a praticidade de não precisar lavar manualmente o xixi. A economia gerada com o banheiro é outro ponto apreciado:

“Dá para poupar no mínimo 780 reais por ano [que seriam gastos] com a compra de tapetinhos higiênicos”

A sustentabilidade é uma premissa da Weasy. Segundo Lara, os tutores geram menos lixo ao trocar o papel e o plástico pelo sanitário.

Adestrar o animal a usar o banheiro demanda um pouco de tempo e paciência.

“No caso do cão que já usa o tapete higiênico, jornal, grama ou bandeja, basta colocar o método que ele está acostumado em cima do Weasy e forrar com jornal em volta. Depois que o cachorro se aliviar, é preciso recompensá-lo com um petisco ou carinho.”

Aos poucos, afirma a empreendedora, é possível ir reduzindo a área forrada e tirar o outro método, deixando apenas o Weasy disponível.

PENSOU QUE NÃO IA TER UMA SOLUÇÃO PARA O COCÔ?

Quando os pets fazem cocô em casa, é comum que tutores descartem na privada o papel usado para coletar as fezes, o que pode entupir o encanamento. Na rua, o mais frequente é usar saquinhos plásticos, que podem levar anos para se decompor.

Pensando no número 2, Fábio e Laura criaram também o Sacocô (sim, o nome é esse mesmo!).

“A versão para passeio é feita de milho e mandioca e é 100% biodegradável, se decompondo em 15 a 30 dias sem deixar rastros, mesmo em aterros sanitários e lixões”

O Sacocô, saquinho 100% biodegradável.

O pacote com 20 unidades custa R$ 19,90. Já a versão para recolher o cocô dentro de casa é feita com película plástica 100% orgânica e se dissolve na água em 40 segundos, ou seja, o saquinho pode ser descartado na privada. O preço: R$ 39,90 por 20 unidades. Se os valores ainda são salgados, o casal espera barateá-los conforme consiga escalar as vendas.

A empresa ainda conta com um bebedouro inteligente para pets, o Weasy Oásis. “Ele é ligado a uma torneira e tem uma boia de nível e filtro de carvão ativado que garantem água sempre limpa, fresca e disponível para o animal.”

Há também acessórios, como um reservatório ecológico (para quem não tem ralo acessível ou quer levar o banheiro em viagens), arranhadores para gatos, ossos e cascos para cachorros, brinquedos e um limpador biodegradável em formato de sachê que se dissolve na água e elimina odores.

PARA ACOMODAR A FAMÍLIA CRESCENTE, SURGIRAM MAIS SOLUÇÕES

Em 2020, Bento ganhou uma irmãzinha, a Lia, segunda filha do casal de empreendedores. Pepa e Lili também ganharam novas companhias. Em 2018, a família foi “adotada” por uma gatinha de rua, a Maria. No ano seguinte, chegaram ainda dois coelhos, o Lino e a Lina.

Inspirada pelos novos membros na família, o casal lançou um banheiro para coelhos.

“As laterais são mais altas porque o coelho faz xixi para trás. Como eles se aliviam enquanto comem, o piso é mais elevado para o xixi e o cocô caírem na segunda bandeja. E junto com o banheiro, vêm potes de comida, uma vassourinha e uma pá para recolher as fezes.”

Outros lançamentos estão no horizonte.

“Estamos com alguns projetos em andamento. Um deles vai resolver nosso programa de recompra e devemos apresentar uma solução, provavelmente por assinatura, para cães que não fazem xixi em casa”, diz Lara. “Também vamos lançar um Weasy 2.0. Será automatizado e vai dar descarga sem a necessidade do tutor jogar água ou abrir a torneira.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Weasy
  • O que faz: Banheiro inteligente para pets
  • Sócio(s): Fábio de Carvalho e Lara Lorga
  • Funcionários: 18
  • Sede: Bady Bassitt (SP)
  • Início das atividades: 2017
  • Investimento inicial: R$ 5 mil
  • Faturamento: R$ 7,5 milhões (em 2020)
  • Contato: suporte@weasy.com.br
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