Foi da transformação de calças jeans em bolsas costuradas manualmente que nasceu seu apetite empreendedor de Bridilla Gobbi. “Na juventude, enquanto muitas amigas buscavam seguir as tendências da moda, eu preferia transformar peças antigas da minha avó ou reaproveitar calças velhas para criar algo novo”, afirma.
Nascida e criada em Barueri, na região metropolitana da capital paulista, Bridilla estudou moda na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo. Sua trajetória empreendedora, porém, acabaria tomando um rumo diferente. Hoje ela está à frente da Pacco, uma marca de garrafas, copos, bolsas e acessórios térmicos.
“Comecei a minha jornada criando bolsas com calças jeans femininas de amigas minhas, da marca Guaraná Brasil”, diz Bridilla, rememorando seus primeiros passos no empreendedorismo.
Além das encomendas das amigas, Bridilla vendia as bolsas no Mercado Mundo Mix. “Disso, fui aprimorando, fiz alguns cursos de modelagem, costura e materiais.”
A empreendedora criou então uma marca própria para fabricar e vender suas bolsas femininas, elaboradas com uma proposta sustentável:
“Muitas delas foram feitas com material reciclável, de garrafa PET e algodão reciclado, e de tecidos reaproveitados de estofados, como estofamento de carro, cortinas e almofadas”
Bridilla passou também a desbravar o B2B, de olho no filão de brindes e presentes corporativos: “Comecei a fazer bolsas, carteiras e malas para atender às demandas dessas empresas e agências que queriam presentear colaboradores ou clientes.”
O AVÔ ACABOU SERVINDO DE INSPIRAÇÃO NA HORA DE NOMEAR A EMPRESA
Nessa época, Bridilla começou a costurar uma parceria com sua primeira sócia, uma amiga e cliente que lhe pediu para produzir uma bolsa térmica.
“Achei a ideia muito legal. Venho de uma família preocupada com alimentação saudável, então tenho a consciência de levar um lanchinho para cima e para baixo”
Por falar em família, o nome que batizaria a nova marca surgiu da interação de Bridilla com o avô materno, que sofria de Alzheimer. Ao topar pela manhã com a neta manuseando as encomendas corporativas, ele se intrigava e perguntava o que era aquele tanto de pacote (pacco, em italiano).
“Eu havia dito que quando tivesse outra empresa, ela se chamaria Pacco. E casou com essa solicitação da minha amiga, que queria uma bolsa minha, só que térmica: Pacco, o pacote onde você leva saúde, onde você leva amor.”
Ali, em meados de 2013, diz Bridilla, estava nascendo “um novo comportamento de wellness e saúde”:
“O Instagram ganhava força, influenciadoras que falavam sobre treino e alimentação saudáveis apareceram, a nutricionista ficou bem vista e todos queriam passar pela profissional…”
Esse contexto, segundo ela, favoreceu a Pacco: “A gente estava no lugar certo e na hora certa, com um produto que não existia: lancheiras térmicas que não parecessem lancheiras, para você levar suas refeições.”
Independemente do timing, empreender é sempre é um desafio:
“No início tudo dependia só de mim, pois eu quem tirava as fotos, fazia o site, subia o HTML, tratava as fotos no Photoshop, realizava as vendas, emitia notas fiscais, passava por todas as áreas…”
A amiga, explica Bridilla, permaneceu como sócia por um “período curto”. Quando ela saiu, a empreendedora resolveu trazer outra pessoa a bordo:
“Apesar de eu ter boa desenvoltura com a parte criativa e relacionamento de marketing, eu precisava de alguém me assessorando e me ajudando na parte comercial e de estratégia”
Assim, Bridilla convidou sua irmã, Bárbara Gobbi, para tocarem juntas a empreitada. “Ela é formada em educação física, mas sempre teve seu próprio negócio e era boa em relacionamento interpessoal.”
Algum tempo depois, em 2018, numa viagem à Califórnia, as duas despertaram para uma tendência local:
“Começamos a ver muitas lojas, tanto de departamento como lojas de luxo, com uma garrafinha reutilizável — de vidro, porcelana ou inox. A gente achou aquilo muito legal e que poderia acrescentar ao nosso portfólio”
As garrafas acabariam se tornando o item principal do portfólio. E para chegar a esse produto, elas recorreriam mais uma vez à família.
Disponível em oito cores, as garrafas da Pacco no modelo Vyta têm capacidade para 1,2 litro. Custam entre 310 a 370 reais. Por um valor extra (a partir de 20 reais), é possível personalizar o produto, inserindo um nome e/ou um ícone.
Para entrar nessa categoria, as sócias acionaram André Baccei, marido de Bárbara. Ele já trabalhava com importação de produtos e ajudou na “curadoria” para encontrar a garrafa ideal.
“A gente definiu que fosse de inox com parede dupla, para manter a termicidade, pois atenderia o mercado do Brasil, um país tropical que tende a ser mais quente”, diz Bridilla. E explica um pouco mais o porquê da escolha pelo material:
“Há uma camada protetora que impede a oxidação do metal, garantindo que a garrafa não enferruje ou libere substâncias no líquido. Este tipo de aço também é capaz de suportar impactos e variações de temperatura sem deformações e tem uma superfície fácil de limpar, além de reter calor”
No começo, a Pacco comprava as garrafas de André e revendia com sua marca. “Conforme o volume foi aumentando e a responsabilidade e o nível de trabalho dele ficou mais complexo, a gente entendeu que faria sentido torná-lo sócio”, diz Bridilla.
Além das garrafas térmicas, a empresa tem no portfólio copos e potes, bolsas e coolers e acessórios, como um kit de infusor e talheres. Os produtos são elaborados pela equipe da Pacco – e fabricados na China.
“Algumas soluções que utilizamos ainda não são viáveis de serem produzidas localmente, tanto do ponto de vista técnico quanto logístico”, diz Bridilla. “O Brasil hoje não tem essa tecnologia e maquinário especializado para realizar fabricação dos produtos de aço inox com parede dupla e vácuo entre elas.”
Após a chegada de André ao negócio, a família Pacco seguiu crescendo. “Depois veio a Laís [Crudo], minha prima, que era responsável pela parte comercial, RH e jurídico da empresa”, diz Bridilla.
Em seguida, foi a vez do marido de Bridilla, Victor Trapp, embarcar na empresa. O investimento inicial para montar a Pacco, aliás, tinha sido feito com recursos dele: “O Victor me emprestou 30 mil reais para começar o negócio”, diz Bridilla.
Formado em administração, Victor já tinha empreendido uma corretora e hoje atua como CEO da Pacco. Segundo Bridilla:
“Entendemos que faria sentido ele ajudar a Pacco a crescer, pois estávamos com um gap muito grande de gestão e administração e ele tinha uma bagagem nessas áreas”
O último do sexteto a ingressar na empresa foi Felipe Monroy, irmão de Victor:
“Ele veio para ajudar na parte de processos, TI, e hoje toca essa área”, diz Bridilla. “O Felipe trouxe novos sistemas, reestruturou a área de logística e toda a parte operacional do negócio.”
Ao todo, a Pacco tem cerca de 100 funcionários, que se dividem entre o escritório e o centro de distribuição, ambos em São Paulo.
No ano passado, uma parceria da Pacco com o Comitê Olímpico Brasileiro levou a marca aos Jogos Olímpicos de Paris.
“A Pacco disponibilizou os produtos antes dos Jogos para todos os atletas garantirem sua hidratação”, diz Bridilla. “Assim, foram evitadas toneladas de descartes de garrafas plásticas durante os 40 dias de evento, entre 800 profissionais que consumiram em média 3,5 litros de água por dia.”
Por falar em sustentabilidade, a empresa compensa carbono com a Carbonex.
“Em 2024, neutralizamos 58,64 toneladas de CO2. Também compensamos as embalagens, mesmo sendo consideradas recicláveis e sendo de papel – porque não usamos plástico –, com a EuReciclo”
No ano passado, diz Bridilla, essa compensação incluiu 100% do papelão utilizado nas embalagens. “Foram 3 929 toneladas. Junto com a Eureciclo, projetamos alcançar 6 mil toneladas em 2025, quase dobrando nosso impacto positivo.”
A expectativa também é aumentar as vendas. Em 2024, a Pacco, segundo Bridilla, comercializou 1 milhão de produtos. A meta agora é crescer entre 25% e 30%.
“A Pacco é meu primeiro filho, prestes a completar 12 anos. Sou apaixonada pelo que faço, por poder ver [meus] produtos ajudarem a mudar comportamentos e o planeta.”