Entenda como o 5G vai transformar de vez a economia e o mundo em que você vive

George Abdul Hak - 9 mar 2021
George Abdul Hak, líder de research na Bain & Company e responsável pelas pesquisas de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações.
George Abdul Hak - 9 mar 2021
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Se você se lembra das aulas de Química do Ensino Médio, deve estar familiarizado(a) com o conceito de catalisador

De maneira simplificada, um catalisador é um elemento que tem a capacidade de acelerar uma reação química sem alterar a composição dos reagentes.

O 5G tem o potencial de funcionar de maneira semelhante, como um catalisador que vai tornar mais veloz a Nova Economia. Assim como a eletricidade acelerou a Revolução Industrial, o 5G vem para acelerar a Revolução Digital

Mas embora se fale muito sobre o tema, será que todo mundo sabe mesmo o que é o 5G?

O QUE, AFINAL, É O 5G? (E COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI?)

Basicamente, o 5G é uma tecnologia de rede móvel de telecomunicações. 

Em outras palavras, o 5G é a versão mais atual de uma rede que liga uma série de equipamentos capazes de processar (computadores), transportar (cabos de fibra ótica) e entregar (antenas, no caso da rede móvel) as informações de um terminal conectado — que pode ser um smartphone — a outro.

A primeira tecnologia de rede que deu acesso à internet na palma das mãos, para o público em geral, foi o 3G. 

Antes, conexões móveis não tinham capacidade suficiente para transmitir informações que exigissem mais dados do que uma mensagem de texto. Com o 3G, a transmissão de conteúdos multimídia —  música, imagens e vídeos curtos gravados — se tornou viável. 

Porém, foi apenas com o 4G, a primeira tecnologia dentro do grupo Long Term Evolution (LTE), que a experiência do consumidor comum com a internet móvel se tornou o que é hoje. 

Com um tempo menor e melhor estabilidade para transmissão de um volume mais robusto de dados, o 4G permitiu que não apenas tenhamos acesso, mas possamos usufruir dE serviços que usamos no dia a dia – por exemplo, chamadas e streamings de vídeo.  

Atualmente, a massificação do acesso a essa geração de rede e o desenvolvimento de aplicações cada vez mais exigentes em termos de dados estão levando o 4G próximo do seu limite 

Na prática, isso representa mais lentidão para a transmissão da informação e uma experiência menos positiva para os usuários.

QUE BENEFÍCIOS PODEMOS ESPERAR DO 5G?

Para dar conta dessa “nova demanda” por dados, os fabricantes de tecnologias idealizaram e já estão colocando no mercado equipamentos para a 5ª geração de redes móveis. 

Basicamente, esses são equipamentos que conseguem operar em frequências de onda de rádio mais altas, viabilizando os seguintes aspectos:

– Maior velocidade: Espera-se que as velocidades viabilizadas pelo 5G cheguem a 100 Gbps (gigabits por segundo) ou, em outras palavras, 100x mais rápido do que o 4G. Na prática isso significa que um filme em HD que você demoraria cerca de 1 hora para baixar poderá ser baixado em cerca de 10 minutos

– Capacidade: O 4G suporta cerca de 4 mil dispositivos conectados simultaneamente por quilômetro quadrado. O 5G, por sua vez, suporta aproximadamente 1 milhão de dispositivos.

– Economia de energia: O gasto de energia dos aparelhos ao buscar e fazer uso de redes móveis pode cair em até 90%, segundo estimativas. A vida útil das baterias também pode aumentar em cerca de 10 anos.

– Estabilidade: Em qualquer lugar que a conexão ocorrer, o 5G promete entregar, pelo menos, 100 Mbps (megabits por segundo).

– Latência: Diferente da velocidade, que é representada pelo tempo que demora para execução de uma tarefa completa na internet, a latência representa o tempo de comunicação entre um aparelho e outro. O 5G fará com que esse tempo, que era de aproximadamente 200 milissegundos, se aproxime de algo em torno de 1 milissegundo. 

Esses aspectos, em conjunto, asseguram uma experiência de conexão mais robusta, confiável e segura.

MAS O QUE TUDO ISSO VAI SIGNIFICAR, NA PRÁTICA?

O aspecto mais direto é que teremos uma considerável melhoria na experiência dos usuários dos serviços de comunicações e aplicações móveis. 

Entenda-se: menos quedas de conexões, menos travamentos, carregamento mais rápido, respostas mais eficientes aos comandos devem ser notados quase que de imediato. 

Há, contudo, um avanço mais significativo. Algo que vai demorar um pouco mais para se espalhar — mas que deve promover uma verdadeira transformação nas sociedades e economias de todo o mundo. O 5G deve ser a chave para destravar o potencial pleno da Internet das Coisas

Esse conceito (Internet of Things, ou IoT, em inglês) descreve nada mais do que a conexão de objetos à rede mundial de computadores. Assim como o smartphone que um dia foi só um telefone, diversos objetos se tornarão “inteligentes” e conectados

Hoje, além dos celulares, alguns relógios e televisores já estão conectados. Em breve, geladeiras, fogões, chuveiros, aparelhos de ar-condicionado e o seu carro, por exemplo, também deverão “ganhar vida” e tornar o nosso dia a dia mais eficiente.

Fora de casa, a nova tecnologia móvel também viabilizará aplicações massivas com benefícios que extrapolam a esfera individual.

Um exemplo são as cidades inteligentes, que compreendem soluções que necessitam de conexão móvel, eficiente, em tempo real e sem falhas, para garantir serviços de mais qualidade aos cidadãos. 

São exemplos de aplicações dentro deste grupo o gerenciamento de vagas públicas de estacionamento, o monitoramento e gerenciamento de tráfego e acidentes, a identificação de incidentes de segurança ou de problemas derivados de ameaças naturais (furacões, enchentes etc.).

Outro segmento que fará intenso uso do 5G será a indústria. 

A Indústria 4.0 será alavancada pelo 5G e pode dar origem a novos padrões e métodos de produção, que trarão não só mais segurança aos trabalhadores, mas informações em tempo real sobre todos os aspectos do processo produtivo (necessidade de manutenção de máquinas, problemas na esteira de produção etc.), gerando aumentos de produtividade e de qualidade dos produtos finais. 

De acordo com um estudo da Bain & Company, esse incremento produtivo pode chegar a 20% do padrão mundial atual (desconsiderando a queda de produção por conta da Covid-19). Para o Brasil, isso pode representar economias em torno de 80 bilhões de reais por ano, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI)

Em ambos os casos, o impulso não é apenas no que já existe. Abre-se, também, um mar de possibilidades para corporações e empreendedores criarem novas soluções que atendam demandas específicas geradas por esses novos movimentos. 

Cria-se, portanto, uma Nova Economia, que de acordo com estimativas do Fórum Econômico Mundial deve gerar um incremento de 13,2 trilhões de dólares no PIB mundial.  

E O QUE FALTA PARA TERMOS 5G NO BRASIL?

Em teoria, nós já temos 5G desde julho de 2020. Mas não é esse 5G que promete transformar as relações sociais e econômicas. 

Trata-se do 5G DSS (sigla em inglês para Dynamic Spectrum Sharing), que faz uso da infraestrutura de redes anteriores, como o 4G. Na prática, isso significa que esse 5G não conseguirá entregar todo seu potencial. Servirá para que tenhamos uma experiência melhor em funcionalidades que já usamos atualmente — mas ainda não serve para promover mudanças significativas nas conexões móveis. 

Para essa transformação digital, precisamos ter o que muitos chamam de “5G puro”, que ainda deve demorar um pouco

No último dia 25 de fevereiro, depois de sucessivos adiamentos e atraso de mais de 1 ano em relação ao cronograma inicial, a Anatel aprovou o edital com as regras para realização do leilão das frequências de 5G no Brasil.

Neste documento está previsto que o leilão ocorra em 2021. As primeiras implementações da rede – em capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes – devem ser realizadas até 31 de julho de 2022, com cronograma se estendendo até 2030.

A chegada da experiência completa do 5G no Brasil, portanto, está nas mãos do Governo Federal e das empresas que estarão envolvidas no leilão. O que nos resta agora é aguardar e torcer para que não ocorram mais atrasos.

 

George Abdul Hak é líder de research na Bain & Company Brasil e responsável pelas pesquisas dos segmentos de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações.

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