Estamos em um momento de transformações no comércio exterior, algo que pode ser observado com clareza pela busca do entendimento do processo de fabricação ou cultivo dos produtos comercializados internacionalmente. É possível ver um aumento dessa demanda no último ano, algo que está se mantendo em 2023: nos últimos anos, tem havido um aumento significativo na conscientização sobre as questões sociais relacionadas à sustentabilidade. Enquanto a discussão sobre clima e biodiversidade tem sido o foco principal das preocupações ambientais, agora há uma compreensão crescente de que as questões sociais também são críticas para alcançar um futuro sustentável.
Diversidade, equidade e inclusão, bem-estar do trabalhador e outros temas sociais têm recebido cada vez mais atenção, tanto do público em geral quanto das empresas e organizações. Mas como isso tem impacto direto no Brasil? Um dos pontos principais está relacionado ao nosso agronegócio, que tem se adaptado às transformações mundiais. Esse é o caso da necessidade de rastreabilidade.
Hoje, alguns dos mercados mundiais, como a Europa, afirmam a necessidade de rastreio em todo o processo produtivo antes da importação dos produtos (principalmente alimentos): algo que é necessário e importante, mas que precisa ser observado com atenção, principalmente pelos altos custos para os pequenos produtores.
Recentemente, a União Europeia também proibiu a importação de produtos criados em terras desmatadas e essa regra poderá ser replicada em outras nações do mundo. O certo é que, com um olhar mais crítico dos consumidores, o mercado tem se adaptado e buscado novas formas de produzir, pensando principalmente no mercado externo que tem reagido de forma cada vez mais proativa em relação às questões ESG. Grandes instituições financeiras internacionais têm pressionado as empresas a adotar práticas mais sustentáveis. Esses investidores estão usando seu poder de voto nas assembleias de acionistas para exigir que as empresas adotem políticas que reduzam o impacto ambiental e social e melhorem a governança corporativa.
Esta tendência não é exclusiva para os produtos produzidos no Brasil, mas é algo global. E a movimentação neste sentido tem se intensificado em virtude da emergência de crises ambientais, sociais e econômicas, que têm afetado diretamente a reputação das empresas.
Empresas que não cumprem com as exigências ESG são cada vez mais vistas como de alto risco pelos investidores, e isso tem refletido diretamente na cotação de suas ações.
Além disso, também devemos destacar a importância dos consumidores nesse processo. É clara a relação entre demanda e oferta de produtos com as preocupações relacionadas ao ESG. Esse movimento do mercado está atrelado, principalmente, ao olhar dos consumidores: cada vez mais conscientes sobre a necessidade de clareza sobre esses processos. Consumidores que também valorizam mais os produtos que são produzidos com consciência social e ambiental. E, com isso, mesmo que esses produtos possam ser mais caros, até pelo investimento necessário na cadeia produtiva, eles contam com maior valor agregado.
Esse aspecto também pode ser observado na demanda interna do nosso país e as empresas estão cada vez mais empenhadas em adotar práticas ESG, até mesmo nas importações. Segundo uma pesquisa da FIEP realizada em outubro de 2022, a grande maioria dos consumidores brasileiros, correspondendo a 87%, prefere adquirir produtos e serviços de empresas que possuem uma postura sustentável. Além disso, 70% dos entrevistados afirmaram que não se importariam em pagar um pouco mais pelos itens oferecidos por essas empresas.
Logo, a adoção de medidas de sustentabilidade ESG no comércio exterior pode evidenciar o compromisso com a proteção ambiental e, ao mesmo tempo, representar uma vantagem competitiva no mercado.
Deste modo, a tendência pelo ESG é algo que precisa ser analisado com seriedade por aqueles que desejam se expandir no mercado externo. As empresas brasileiras, tal como os produtores rurais, que não se adaptarem, ficarão por último nessa corrida, onde cada vez mais veremos a consciência ambiental e social como norteadora do consumo mundial.
*Fábio Pizzamiglio é diretor da Efficienza – Negócios Internacionais. A Efficienza foi fundada em 1996, com o intuito de prestar serviços de assessoria em comércio internacional, como a solução integral na área de despacho aduaneiro, logística internacional, drawback, assessoria documental de importação e exportação, dentre outros.
Como uma marca de bolsas e acessórios pode impulsionar a economia da floresta e o comércio justo? A carioca Bossapack contrata indígenas da Amazônia para pintar e impermeabilizar com látex o tecido de suas mochilas e pochetes.
Visão holística, uso combinado de tecnologias e ética nos negócios: em entrevista exclusiva ao Draft, a holandesa Marga Hoek, fundadora e CEO do think tank Business For Good, crava a receita para viabilizar o futuro e salvar o planeta.
Contra o negacionismo climático, é preciso ensinar as crianças desde cedo. Em um dos municípios menos populosos do Rio de Janeiro, a Recickla vem transformando hábitos (e trazendo dinheiro aos cofres públicos) por meio da educação ambiental.