Ex-jornalista, Carolina hoje acolhe os refugiados que chegam ao Brasil: “O objetivo é que a pessoa possa se reinserir”

Cristiani Dias - 26 set 2023
Carolina Nunes, gerente de operações da Refúgio 343.
Cristiani Dias - 26 set 2023
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O Brasil é um dos principais destinos de refugiados e imigrantes de vários países do mundo, principalmente da Venezuela. Essas pessoas chegam ao país sem suporte ou bens e precisam de ajuda de ONGs, além do Governo Federal, para reconstruírem suas vidas em solo brasileiro.

Nascida em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, Carolina Nunes, 39, largou uma carreira estabelecida em comunicação para se juntar ao Refúgio 343, uma organização dedicada à reinserção socioeconômica de refugiados e migrantes. Ela atua como gerente de operações e novos negócios, e trabalha com o acolhimento e formação dessas pessoas, que envolve deslocamento, vaga de emprego, educação e suporte na saúde. 

Fundado em 2019 por Fernando Rangel e Laura Fatio, o Refúgio 343 foi eleito no ano passado a melhor ONG do Brasil, prêmio realizado pelo Instituto Doar em parceria com O Mundo Que Queremos, e que tem apoio da Ambev. A organização já atendeu 3 836 refugiados e migrantes em 236 cidades brasileiras, ao longo de quatro anos de atuação. Desse número, 88% dos atendidos já são independentes.

Em conversa com o Draft, Carolina detalha a dinâmica do trabalho, além de contar um pouco sobre sua jornada, do jornalismo ao trabalho social:


Pode contar um pouco sobre sua trajetória? Como você entrou para o universo do trabalho social?
Minha mãe é argentina e meu pai era brasileiro. Eles se conheceram na Argentina mesmo, pois minha foi estudar medicina lá. Se casaram e resolveram voltar para o Brasil, em Petrópolis, onde vivi até os 13 anos. 

Depois, eles se separaram e resolveram cada um ir para um lugar. Minha mãe quis voltar para a Argentina, em Rosário, que é a cidade natal dela, e eu fui também. Fiquei três anos na Argentina, entre os 14 e os 17 anos. 

Lá, me deparei, acho que pela primeira vez, com essa situação de ser migrante. Por mais que eu tivesse toda a estrutura, já que minha mãe é argentina, foi a primeira vez que eu tive contato com esse tema, digamos assim

Eu sempre me remonto a essa fase, a essa época da vida, para entender as dificuldades que uma pessoa tem quando precisa migrar do seu país.

Depois eu voltei para o Brasil para estudar, porque achei que seria melhor por conta da língua. Meu pai já estava morando em Nova Friburgo, no interior do Rio de Janeiro, e fui fazer faculdade [de jornalismo] lá. Fui muito migrante na vida. Depois transferi a faculdade para Niterói e fui morar no Rio de Janeiro. 

Trabalhei com jornalismo em vários formatos, em vários veículos diferentes. Trabalhei em jornal, em TV, em assessoria de imprensa, em site. 

Trabalhei no jornal O Dia, no Rio de Janeiro, trabalhei também na Band, Record e em algumas assessorias de imprensa. Experimentei todas as possibilidades – até descobrir que aquilo não era o que queria fazer  

Por último, resolvi fazer um MBA em sustentabilidade na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e me encantei com a possibilidade de trabalhar com outra coisa, que eu pudesse fazer algo com um pouco mais de propósito. Depois dessa pós-graduação, fui trabalhar na Transpetro, que é a agência da Petrobras, para distribuição de energia e de petróleo e fiquei dois anos por lá. 

Conheci meu atual marido em um samba no Rio. Depois de dois anos juntos, a gente resolveu que um dos dois precisava se mudar – e eu vim para São Paulo. 

Aqui, trabalhei na área de sustentabilidade da AES Brasil, que era a responsável pela geração e distribuição de energia elétrica do estado de São Paulo, na época. Fiquei responsável por todo o investimento social privado da empresa. u cuidava de quase 20 milhões de reais em recursos, tanto incentivados como próprios.

E essa foi a primeira vez que você trabalhou nesse segmento mais social?
Não, na Transpetro eu já tinha trabalhado, era uma área de responsabilidade social e patrocínio. A minha transição de carreira aconteceu lá atrás, em 2011. 

Depois da AES Brasil, fui trabalhar na Fundação Bunge. Lá, eu cuidava de um programa de revitalização de espaços de leitura, eram mais de 30 espaços de leitura em todo o Brasil, e também cuidava do programa de voluntariado. 

Eu saí de lá para ser mãe em tempo integral. Fiquei um ano e meio quase em casa com o meu filho. E depois voltei a trabalhar e fui para o Instituto Votorantim. Lá, fiquei dois anos cuidando de um projeto de educação também, principalmente oferecendo ferramentas de gestão para secretarias de educação, corpo técnico das secretarias de educação e também a gestão das escolas. 

Depois eu saí deste lugar, estava um pouco cansada desse universo empresarial. Queria trabalhar em ONG, queria ter uma experiência um pouco mais próxima do propósito 

A pandemia também foi muito difícil: eu estava com meu filho, na época com 2 anos, quando a pandemia começou. Fiquei trabalhando muitas horas em casa, com marido, filho, cachorro, gato. Então, quando tive a oportunidade de repensar, as coisas tinham se tranquilizado um pouco mais, sobre o que eu queria pra minha vida. 

Então eu fiz um coaching, que foi de graça, e me levaram lá pra Atibaia, fui a cobaia do rolê [risos] mas foi importante, foi bom. Eu também me reconectei com as minhas raízes, voltei pra Argentina, fui rever as minhas amigas de infância, levei meu filho, para ele também entender que eu tinha esse outro lado. 

Comecei a fazer pós em gestão pública. No início, consegui uma bolsa pelo fato de não estar trabalhando. E aí, essas coisas divinas, eu tinha participado de um processo seletivo para o Refúgio 343 no ano anterior, uma vaga de coordenação

E como a pandemia ainda estava muito latente, e meu marido, que trabalha com cinema, é autônomo, fiquei muito insegura e acabei não continuando no processo seletivo. 

Porém, um ano depois, eu mandei um e-mail pra eles e falei “olha, eu agora tô aberta a fazer algo mais alinhado ao meu propósito, com outra situação de vida, se vocês tiverem uma oportunidade pra mim, tô por aqui”. 

E isso tinha acontecido no dia seguinte que a gerente de operação tinha pedido demissão. Aqueles coisas divinas. 

Como foi o início desse trabalho no Refúgio 343?
Inicialmente, entrei como gerente de operação e novos negócios. Então, estar em São Paulo era importante porque eu ficaria responsável por promover a expansão do Refúgio para cá e também para outras praças, além de estar sempre buscando novas alternativas de negócio, oportunidades de crescimento e público. 

Eu também estava cuidando da operação em Boa Vista, buscando alternativas para melhorar os processos. 

Porque, querendo ou não, vindo desse ambiente corporativo e de institutos empresariais, o reporte para os acionistas, para os investidores, acaba sendo essencial. Você precisa ter um olhar muito claro para esse tipo de coisa, além de um reporte muito acurado.

Foi um mergulho nos processos, nos números, nos indicadores, entendendo como eram colhidas as informações, então foi bem interessante. 

Fui convidada a assumir a gestão da organização inteira e reconstruir a área de captação de recursos, que estava precisando adquirir uma sustentabilidade financeira. Agora, a gente está finalizando esse processo de construção dessa área 

Não que a captação tivesse parado, mas agora está bem mais estruturado, com uma pessoa olhando para a pessoa física, captação para pessoa física, olhando para a pessoa jurídica, emendas parlamentares, editais e crescendo também essa área.  

Foi muito importante para o Refúgio estabelecer processos e fluxos para a interiorização de refugiados e imigrantes venezuelanos. Então, a operação está muito organicamente fluindo. Está muito redonda. 

Hoje, temos processos muito claros em termos de operação. Mas a área de captação, que é o coração de qualquer organização social, não tinha sido tão estruturada, ficava muito na mão dos fundadores. Agora estamos em um movimento de profissionalizar, de fazer a organização crescer em outro nível. 

Agora podemos dizer: a operação está ok, vamos olhar para as outras áreas de suporte da organização para que a gente consiga ter uma sustentabilidade, uma tranquilidade a longo prazo.  

Conte um pouco mais sobre o trabalho do Refúgio 343, como são feitos os acolhimentos?
O Refúgio nasceu em 2019, em resposta ao desafio migratório venezuelano no Brasil. Fernando Rangel, que é o diretor da organização, teve o desejo de começar a trabalhar com a migração a partir de um momento que viu a situação acontecendo na mídia e pensou de que maneira ele poderia apoiar e ajudar esse processo. 

Por um contato na ONG Fraternidade Sem Fronteiras, que trabalha com a Operação Acolhida [resposta humanitária ao fluxo venezuelano coordenada pelo Governo Federal], ele tentou entender como poderia apoiar esse processo e foi sugerido a ele acolher uma família. 

Ele fez uma vaquinha – uma “vacona”, na verdade – e arrecadou 200 mil reais. A primeira família foi interiorizada para São Paulo, numa casa de número 343, e por isso o nome da organização foi de Refúgio 343 

Em três meses, a família se tornou independente e resolveram acolher a segunda família, a terceira família. Foi sobrando dinheiro, e eles ficaram empolgados e acolheram dez famílias. E, muito rapidamente, conseguiram emprego para essas pessoas. 

Ele resolveu entender um pouco mais do contexto onde essas famílias estavam inseridas e conseguiu ótimos contatos com as outras organizações que compõem a Operação Acolhida. Tem a ACNUR, que é a Agência da ONU para Refugiados, tem a OIM, que é a Organização Internacional para as Migrações, têm as outras agências e organizações sociais como a nossa, e cada um faz um papel, representa um papel diante da Operação Acolhida. 

O Exército atua muito fortemente para poder receber esses refugiados imigrantes venezuelanos. Ele representa o Ministério do Desenvolvimento Social nesse lugar de acolhimento institucional. 

Então, existe – como se fosse – um grande “Poupatempo”, onde as pessoas chegam, passam por triagem, fazem toda a documentação, tiram o seu CPF, sua solicitação de refúgio ou migração, tomam as vacinas que precisam tomar, enfim, uma série de coisas acontecem ali 

E dentro desse espaço, que era o PITRIG, Posto de Interiorização e Triagem, que ficava em Boa Vista, conseguimos então colocar, assim como as outras organizações também tinham, divisórias de fórmica e um grande overlay por cima para começar a trabalhar ali.

A princípio, começamos fazendo todo o processo de interiorização. A OIM arca com os custos de logística para a compra de passagens. O governo também arca com esses custos de triagem e emissão de documentos. E as organizações sociais ficam responsáveis por fazer a ponte entre empresas que querem contratar refugiados e esses refugiados. 

Então iniciamos buscando oportunidades de emprego nas empresas que a gente tinha contato e trazendo esses refugiados imigrantes para fazerem seus cadastros e, se as pessoas tinham interesse em serem interiorizadas para qualquer lugar do Brasil, a gente então fazia essa ponte. Esse processo sempre foi evoluindo, né? Então, a gente percebeu que as pessoas precisavam estar mais adaptadas para poder chegar no seu local de trabalho.

Por isso, criamos uma escola, a Escola Refúgio. Lá, a gente passou a oferecer cursos, principalmente de língua portuguesa e de educação intercultural. 

A pessoa chega não sabendo muito como é a nossa cultura, não entendendo muito como ela deve se portar no ambiente de trabalho, o que é salário bruto, o que é salário líquido, por exemplo. Então, a gente foi criando parcerias e contatos com outras organizações que pudessem também nos apoiar com o que a gente não tinha 

Temos uma parceria muito forte com a UNFPA, que é o Fundo das Nações Unidas para a População. Eles são focados principalmente em populações mais vulneráveis, como pessoas com deficiência, mulheres que sofrem violência doméstica, pessoas que estão em situação de proteção, que engloba quem tem alguma doença crônica, portadores de HIV, ou até pessoas da comunidade LGBTQIAPN+.  

Essas pessoas, muitas vezes, sofrem violência dentro dos abrigos e elas acabam sendo mais vulneráveis. Então, a UNFPA quis nos apoiar, por exemplo, dentro do nosso curso de educação intercultural, oferecendo oficinas sobre essas vulnerabilidades e de que forma a gente conseguia explicar para esses migrantes e refugiados que estavam chegando, por exemplo, o que é a Lei Maria da Penha, o que significa uma situação de assédio sexual no trabalho. 

Agora, tem curso de operador de caixa, recepção e atendimento. Trazemos outras organizações que possam estar junto da gente para formar essas pessoas e oferecer mais habilidades, para que elas possam se reinserir socialmente no mercado de trabalho no Brasil. O objetivo final é sempre fazer com que a pessoa possa se reinserir. 

Os refugiados são apenas da Venezuela?
A Venezuela hoje é a população mais deslocada do mundo. Mais de 7 milhões de pessoas já saíram de lá até os dias de hoje, isso é mais de 20% da população do país. Mas também já formamos pessoas de outros países — Afeganistão e Haiti —com a Escola Refúgio, em São Paulo. 

O Brasil está em terceiro lugar como destino mais procurado pelos venezuelanos, principalmente por conta da Operação Acolhida, já que a realidade da operação não existe em nenhum outro lugar. 

Por mais que Colômbia e Peru sejam países de língua espanhola, falam o mesmo idioma [que os venezuelanos], mesmo assim eles não têm essa operação montada, então as pessoas ficam ao léu, elas não têm um apoio como é o apoio que a gente oferece aqui no Brasil 

Mas a nossa realidade local é que temos seis abrigos em Boa Vista e dois em Pacaraima, fronteira com a Venezuela. Eles têm capacidade para acolher mais de 8 mil pessoas, mas mesmo assim estão superlotados. Existem mais de 3 mil pessoas morando sem infraestrutura básica, em ocupações espontâneas nas próprias ruas de Roraima. 

Então, é uma realidade que ainda existe lá. Temos um abrigo transitório, que a pessoa pode só dormir, um abrigo de pernoite. Mas muitas pessoas ficam nas imediações da rodoviária, por exemplo, porque chegam e ficam por ali. 

Existem lições ou melhores práticas de outros países em relação à imigração que o Brasil poderia adotar para aprimorar suas políticas e programas?
Acho importante falar o que o Brasil tem em termos de boas práticas. A Lei de Migração, que entrou em vigor em 2017, trouxe uma série de avanços significativos, como: a igualdade de direitos entre migrantes e cidadãos brasileiros em saúde, educação e trabalho; a simplificação dos procedimentos de documentação e regularização migratória; facilitação da proteção e integração de pessoas que buscam refúgio no país; e a participação social dos migrantes em conselhos e órgãos consultivos relacionados à política migratória. 

Esses avanços demonstram o compromisso do Brasil em adotar uma abordagem mais humanitária e inclusiva. No entanto, uma das principais preocupações é a implementação efetiva da lei. A aplicação prática desses direitos pode ser irregular, e os migrantes ainda podem enfrentar desafios no acesso a serviços e na obtenção de documentos

A Operação Acolhida desenvolve um trabalho fundamental na fronteira do Brasil com a Venezuela, no acolhimento de refugiados e migrantes venezuelanos. O processo de interiorização, uma das frentes da Operação, visa realocar refugiados e migrantes venezuelanos de Roraima para outras partes do Brasil e, nós, do Refúgio 343 apoiamos ativamente neste processo que também é adotado no Canadá, Austrália, Alemanha, África do Sul e Itália. 

Estes países, inclusive, apresentam abordagens diferentes e que poderiam ser replicadas no Brasil, para melhor política e programas de migração. O Canadá, por exemplo, inclui programas de formação em língua inglesa, treinamento profissional e suporte social para os imigrantes no processo de integração, além de utilizar sistemas específicos para atrair imigrantes qualificados. Isso pode ser uma abordagem eficaz para o Brasil atrair talentos estrangeiros.

Como o Refúgio 343 aborda as questões raciais em seu trabalho de integração de refugiados e migrantes, considerando a diversidade étnica e cultural desses grupos?
Todos os nossos colaboradores compreendem a importância da diversidade étnica e cultural e estão preparados para lidar com questões raciais de maneira respeitosa e inclusiva. 

Entre as 16 pessoas do nosso time, temos nativos e migrantes, brasileiros e venezuelanos, brancos, pardos e negros, representantes das comunidades indígenas e LGBTQIAPN+. As mulheres representam 67% do nosso time, com forte presença nos cargos de liderança 

Ao criar um ambiente inclusivo e sensível à diversidade, desempenhamos um papel fundamental na promoção de uma sociedade mais igualitária e acolhedora. Buscamos envolver a comunidade de refugiados e migrantes, ouvindo as vozes das pessoas diretamente afetadas pelas políticas e programas. Reconhecemos, respeitamos e valorizamos as diferenças. 

Todos os refugiados e migrantes têm igualdade de acesso a serviços, recursos e oportunidades na nossa operação. Nos cursos oferecidos pela Escola Refúgio, por exemplo, damos prioridade às mulheres, pessoas com deficiência e pessoas da comunidade LGBTQIAPN+. A maioria dos cursos é oferecido em espanhol, por uma colaboradora venezuelana, para que a compreensão seja a mais adequada.

Promovemos ainda um curso de Educação Intercultural no nosso espaço. As aulas baseiam-se na metodologia Construtivista e Exposição dialogada, com intuito de desenvolver as habilidades e competências que compreendam a cultura brasileira. 

Quais são os maiores choques culturais enfrentados por esses grupos?
O idioma, sem dúvida, é um dos principais, já que na Venezuela se fala espanhol. A barreira linguística pode dificultar a comunicação, o acesso a serviços e a busca por emprego. 

As diferenças culturais entre a Venezuela e o Brasil podem ser significativas, como a comida, os costumes, as tradições religiosas, as festividades e as normas sociais. O sistema de saúde brasileiro funciona de maneira diferente: a compreensão das políticas de saúde, o acesso e a navegação podem ser desafiadores

Os desafios culturais e de integração variam dependendo da região do Brasil para a qual os venezuelanos se deslocam, bem como sua situação individual. O apoio de organizações como o Refúgio 343 desempenha um papel fundamental na ajuda aos venezuelanos a superar esses choques culturais e a se integrarem na sociedade brasileira.

Como você lida com a coleta de indicadores e avaliação de projetos em sua atuação na organização? Qual a importância dessas métricas para o sucesso das iniciativas?
O reporte e a transparência das informações sobre o impacto social da organização sempre foram um pilar muito importante para garantir a nossa governança. 

E agora estamos melhorando ainda mais a maneira como mostramos isso para os nossos investidores e doadores de forma geral. Utilizamos a metodologia PRIL Social, construída pela Ideafix, que nos ajuda a acompanhar toda a jornada do beneficiário, através da mensuração de indicadores relacionados ao Processo, Resultado, Impacto e Legado.

Temos uma equipe incrível nos apoiando na construção de dashboards, ajustando as nossas planilhas de acolhimento e educação. Conseguimos mostrar de maneira mais clara e objetiva a jornada de cada refugiado e migrante que chega até nós, até a entrega do seu certificado de independência, com emprego, saúde e educação.

Quais são os maiores desafios do seu trabalho no dia a dia?
Tenho uma série de desafios únicos e complexos no meu trabalho diário, como facilitar a integração dos refugiados e migrantes na sociedade e ajudá-los a serem economicamente autossuficientes é um dos principais desafios, bem como buscar constantemente parcerias e recursos, sejam eles por meio de doações ou pela participação em editais. 

A colaboração com outras organizações, agências governamentais e autoridades locais é essencial para garantir a eficiência do nosso trabalho. Temos parceiros em todas as esferas de atuação da organização. 

Outro desafio é o apoio no trabalho contra a xenofobia, uma preocupação séria que requer esforços significativos. Nossa ideia é reduzir as barreiras culturais e construir pontes de comunicação 

Também criamos o programa de ativistas de direitos humanos do Refúgio 343, uma rede de apoio e solidariedade que conecta refugiados, migrantes e a comunidade local. 

Por último, gerenciar uma organização que atua com refugiados e migrantes requer habilidades de empatia, sensibilidade cultural e a capacidade de tomar decisões difíceis em um ambiente frequentemente desafiador. 

Pode contar um caso de acolhimento que tenha sido especial para você?
Meu trabalho no Refúgio 343 começou em setembro do ano passado. É a minha primeira vez numa organização humanitária e com a temática de refúgio, algo que sempre me tocou profundamente e que hoje tenho a oportunidade de viver, aprendendo todos os dias. 

Além do trabalho como gerente de operação, resolvi participar também como voluntária para acolher uma família aqui em São Paulo. Trata-se do acolhimento pessoa física, uma modalidade que o Refúgio 343 oferece, dando o suporte para quem deseja acolher e apoiar refugiados em seus municípios.

Formei um grupo com seis amigas e resolvemos acolher uma família de sete integrantes (dois adultos e cinco crianças). 

Essa família estava morando num abrigo em Roraima há 10 meses. As crianças não conseguiam vaga nas escolas e o pai, apesar de qualificado, não conseguia trabalho. Eu me sensibilizei muito com a história deles e a situação em que se encontravam

Alugamos uma casa para eles e, por meio de uma vaquinha e com doações de móveis, mobiliamos a casa toda. Apoiamos o pai na revalidação da carteira de motorista e pagamos dois cursos obrigatórios para ele trabalhar na área. 

A família chegou em dezembro do ano passado a São Paulo e se tornou 100% independente em julho deste ano. Mesmo depois de independentes, mantivemos os vínculos de amizade e eu procuro estar sempre em contato com eles, visitando quando posso.

 

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