Fazer móveis exclusivamente para pets é a aposta da Beijo de Focinho

Dani Rosolen - 29 set 2017Silvia e Sandra criaram a Beijo de Focinho com foco no mercado de alta decoração.
Silvia e Sandra criaram a Beijo de Focinho para que os donos dos pets não tenham que esconder a caminha do bicho quando chega visita.
Dani Rosolen - 29 set 2017
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Que os pets são tratados como integrantes da família, a gente já sabe. Que há 52 milhões de cachorros e 22 milhões de gatos nos lares brasileiros, o IBGE nos informa. De olho nesse mercado, a designer Silvia Grilli, 53, e a publicitária Sandra Martins, 50, apostam em um negócio de nicho bem específico: criar móveis e enxovais exclusivamente para “filhos de quatro patas”, como dizem as fundadoras da Beijo de Focinho. A proposta da marca é integrar o cantinho pet com a decoração da casa do dono. As sócias contam que há empresas de móveis que fazem peças para pets, assim como empresas de acessórios para pets que fazem móveis, mas que somente elas fazem exclusivamente isso. O negócio tem dez meses de operação e mantém uma média de 15 projetos executados por mês, com faturamento médio de 25 mil reais.

A meta atual é levar os produtos para vários marketplaces e assim atender a um número maior de clientes, um público bastante exigente. Não, aqui não se trata dos animais, que se contentam com uma boa ração e carinho, mas de seus donos: gente que faz questão que a mobília (camas, colchões e até brinquedos) dos bichinhos não destoe do resto da decoração da casa.

O cantinho pet é pensado como uma extensão do resto da casa.

O cantinho pet é pensado como uma extensão do resto da casa.

Silvia e Sandra se conheceram em uma distribuidora de insumos para marcenaria e indústrias de móveis. Na época, Silvia desenvolvia projetos para a Léo Madeiras e Sandra cuidava do departamento de marketing. Alguns anos depois de deixarem a empresa, as duas decidiram empreender juntas.

O conhecimento da designer em projeto de móveis e a experiência da publicitária em vendas (para o setor madeireiro e para a área de moda) pareciam ser a combinação perfeita para o que propunham. Silvia fala do que motivou a aposta no nicho:

“Notamos que, na maioria das casas, quando chega alguém a caminha do animal é escondida por ser feia, infantilizada ou destoar do ambiente ao redor”

Durante a fase de pesquisas, elas coletaram na internet diversos depoimentos de tutores lamentando não encontrar nas lojas algo mais bonito para seus bichinhos. A observação de uma demanda reprimida foi o empurrão que faltava para se lançarem, como conta a designer: “A ideia é oferecer um móvel para o pet que sirva como uma peça de decoração, compondo o ambiente, como mais uma mesa ou uma cadeira da casa”.

MUITO MAIS DO QUE UM PRODUTO PET

Para testar a proposta, a dupla começou a desenvolver enxovais (isso mesmo). “O investimento era menor e ficava fácil de transportar para mostrar para os clientes”, diz Sandra. O kit com lençol de elástico para forrar a cama, outro para cobrir, mais a fronha e uma mantinha feitos com tecido 100% algodão e antialérgico (a partir de 150 reais) fez sucesso. Tanto que teve cliente que encomendou um jogo idêntico ao do animal para a própria cama.

O sofá foi o primeiro móvel desenvolvido por Silvia para a marca.

O sofá foi o primeiro móvel desenhado por Silvia para a marca.

Com a validação, as sócias decidiram partir para os móveis. Investiram 80 mil reais no desenvolvimento de uma coleção completa, a Pet Premium. A primeira criação foi um modelo de sofazinho (este, da foto ao lado). Depois vieram divãs e caminhas, disponíveis em cinco cores e três tamanhos (a 580 reais cada), além de artigos complementares, como tapetes, quadrinhos e pelúcias. Tudo é desenhado por Silvia, enquanto Sandra cuida do atendimento e das negociações com parceiros e fornecedores.

Apesar de os produtos da Beijo de Focinho atenderem indiretamente os pets, a fundadora gosta de frisar que não faz coisas para cães e gatos, mas sim itens de alta decoração: “Os nossos clientes gostam do animal na mesma medida em que valorizam a casa”.

Para conseguir atingir o público desejado, elas começaram a vender a ideia da marca para arquitetos de decoração — em especial, aos que se dedicam a criar quartos de bebês. “É uma maneira de eles se destacarem no mercado, agregando valor aos seus projetos por um custo baixo e ainda terem um faturamento maior”, diz Silvia, que também oferece a chance de os clientes customizarem as peças com tecidos fora de sua cartela.

Os produtos da Beijo de Focinho são vendidos para esses profissionais pelo preço de varejo e, depois, eles colocam o lucro que quiserem em cima. Um projeto completo de ambientação do cantinho pet, por exemplo, sai por aproximadamente 2 mil reais. As sócias acreditam que o valor cobrado pelo serviço não é caro em um setor em que um sofá — para pessoas — pode custar 15 mil reais.

A estratégia deu certo mas, como as vendas normalmente demoram a fechar, já que o planejamento de decoração de uma casa pode levar meses, o volume faturado ainda é baixo. “A gente começou a ficar desanimadas. Nossos fornecedores esperam uma quantidade de encomendas que justifique os pedidos”, conta Silvia.

A IDEIA NÃO DECOLOU? FAÇA AJUSTES, CRIE PRODUTOS MAIS BARATOS

Para contornar essa situação e conseguir mais escala, a primeira medida das sócias foi criar uma outra linha de produtos, a Pet Kids, com um design mais simples do que a oferecida para os arquitetos, mas com os mesmos itens e materiais. Esses produtos são vendidos em boutiques de hoteizinhos e de clínicas veterinárias. Silvia conta que os pet shops nunca foram uma opção: “Nosso cliente não frequenta esses estabelecimentos. Normalmente, manda algum funcionário comprar a ração ou outro item do dia a dia. Ele vai com seu bichinho a restaurantes, shoppings, salão de beleza, médico etc”.

A partir de outubro, uma outra estratégia para alavancar as vendas será implementada. Um dos móveis da marca, o sofazinho, será disponibilizado em lojas virtuais. As sócias querem testar a repercussão antes de construírem o próprio marketplace. Enquanto isso, o Instagram e a página do Facebook do negócio ajudam a impulsionar as vendas. Por enquanto a Beijo de Focinho só consegue atender pedidos em São Paulo. Porém, já recebeu cotações de diversas partes do Brasil (em especial, do Nordeste) e até do exterior. As empreendedoras estudam maneiras de conseguir enviar suas peças para outros estados e exportar, mas o frete ainda é uma barreira.

A caminha Bones criada em um Fablab: peça escalável.

A caminha Bones foi desenvolvida em um fab lab.

Outra mudança para ganhar escala foi abandonar processos muito artesanais de produção, como detalhes em crochê para os móveis e enxovais. “Embora a gente queira atender esse mercado de alta decoração, a padronização é muito importante. Não importa se vou fazer dez ou cem caminhas, elas têm que sair iguais”, diz Silvia.

Em busca de algo facilmente reproduzido, a dupla desenvolveu o protótipo de uma caminha em um fab lab pelo processo de fabricação digital. A peça, que ganhou o nome de Bones, hoje é produzida por uma empresa parceira e serviu de teste para as sócias entenderem que têm capacidade de atender a uma demanda maior.

A iniciativa também provou que os produtos da Beijo de Focinho podem ser facilmente copiados, pois, após o lançamento, seu design já foi imitado por outras empresas. Silvia e Sandra não se abalaram. Sabem que, com o tempo, vão aparecer outros players com a mesma proposta:

“Hoje, estamos sozinhas nesse nicho, mas podemos ser superadas, pode vir alguém que nos engula ou mesmo que queira comprar nosso negócio”

Para garantir o lugar no mercado, elas acreditam na estratégia de estar sempre lançando linhas e produtos novos, que garantam a aura de exclusividade da marca. Outra aposta é a promoção de eventos para mais arquitetos conhecerem seus produtos. Este ano, elas já organizaram uma feira de decoração do setor pet no Instituto Europeu de Design.

ENTRE LATIDOS E MIADOS: UMA VIDA MAIS LEVE

Como as fundadoras sempre trabalharam em ambientes mais formais, a experiência com o empreendedorismo no mundo animal tem sido reconfortante. “Quando a gente vai para um evento, todo mundo senta no chão, leva lambida na cara, cata cocô. É um clima mais leve, mais confortável”, conta Silvia. A possibilidade de não precisar seguir um briefing e estar engessada para criar também agrada a designer.

Na hora de conferir se os produtos ficaram bons, elas recebem o feedback em casa. A cachorrinha Mel e a gata Minhau, ambas de Silvia, são as primeiras a fazer o test-drive. “Algumas peças vêm direto para minha casa. Colocou no chão, elas já acham que é tudo delas. É um perigo!” Para além da brincadeira, a designer conta que a interação de seus animais com os móveis possibilita o ajuste de detalhes como altura, tamanho e proporção. Afinal, nada mais natural para uma marca chamada Beijo de Focinho do que ter os seus próprios focinhos, ops, mascotes garantindo a qualidade do que é produzido.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Beijo de Focinho
  • O que faz: Móveis e acessórios para pets integrados à decoração da casa
  • Sócio(s): Sandra Martins e Silvia Grill
  • Funcionários: 2 (as sócias)
  • Sede: São Paulo
  • Investimento inicial: R$ 80.000
  • Faturamento: R$ 25 mil por mês
  • Contato: contato@beijodefocinho.com.br
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