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Foco nos colaboradores, nos consumidores e nas necessidades da população: a revolução digital de 2020 começou pelas pessoas

Lia Rizzo - 16 dez 2020
Trabalho em home office, reunião com filhos: o mundo, e as empresas, precisaram se adaptar abruptamente (Foto: Getty Images)
Lia Rizzo - 16 dez 2020
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Em 2020, o mundo parou. Ou não. Na verdade, em 2020 o mundo precisou ser reinventado. Se por um lado o medo fez com que as pessoas repensassem seus gastos, suas prioridades e suas rotinas, por outro, empresas atentas às necessidades de seus funcionários e às demandas do mercado conseguiram se reinventar. A transformação digital se acelerou. Mudanças que ocorreriam em alguns anos tiveram que ocorrer em poucos meses.

Todos os setores e negócios foram afetados.

De acordo com um estudo divulgado em outubro pela IBM, seis em cada dez organizações impulsionaram a adoção de novas tecnologias e recursos inovadores para responder às demandas pós-Covid.

O estudo ouviu 3800 empresas em 20 países e apontou o fator humano como crucial na condução dessas transformações.

“Houve uma preocupação genuína com as pessoas. Primeiro, para preservar a saúde física e emocional de cada uma delas. Depois, para provisionar a infraestrutura necessária para o trabalho remoto. E, então, para que com a ajuda delas, a tecnologia fosse empregada da melhor forma a cada momento”, afirma Solange Sobral, vice-presidente partner de operações da CI&T, multinacional brasileira de estratégia e desenvolvimento digital.

Passado o período de ajustes, com os times em segurança, o fator humano continuou sendo um aspecto prioritário nas decisões. “A tecnologia passou a ser mais demandada que nunca, mesmo para resolver situações triviais na vida dos consumidores”, diz Solange.

“A pandemia trouxe o que chamamos de princípio da escassez, que traz um senso de urgência muito maior para a tomada de decisão e no qual a sensibilidade dos profissionais envolvidos conta mais que sempre para entender e responder assertivamente às necessidades.”

Para Nathalie Trutmann, especialista em tendências e head de crescimento do centro de inovação Cesar, as transformações bem sucedidas deram mais protagonismo aos indivíduos, especialmente àqueles com maior capacidade de fazer conexão com seus pares e de solucionar problemas em conjunto. Ganharam, segundo ela, as empresas que souberam alavancar a inteligência coletiva de seus times.

A VIDA VIA APLICATIVO

A aceleração na digitalização dos canais de interação com clientes e na conversão de produtos em soluções e serviços online chegou a avançar o equivalente a sete anos em condições normais de temperatura e pressão, conforme apontou uma pesquisa global da McKinsey. No cenário adverso, a rapidez não foi somente garantia de competitividade, mas uma condicionante para entrada de receita.

Foi preciso identificar  e responder com agilidade às necessidades mais básicas dos consumidores, que a partir das medidas restritivas passaram a utilizar aplicativos para tudo — de alimentação a consultas médicas.

Já no primeiro mês de imposição do isolamento social, a SulAmérica Seguros sentiu a migração drástica para o ambiente digital. A seguradora oferecia opção de telemedicina desde 2018, mas o recurso era quase desconhecido dos clientes. Com a pandemia, viu o número de consultas virtuais, realizadas por meio do aplicativo Médico na Tela, saltar de 500 em fevereiro para 15 mil em abril, alcançando o pico de 60 mil consultas em junho. Em maio, a recém lançada funcionalidade de triagem online para Covid-19 já tinha chegado a mais de 280 mil acessos.

Com a liberação temporária da telemedicina, aprovada em caráter excepcional pelo Ministério da Saúde, a companhia apressou iniciativas de ampliação da capacidade de atendimento e estendeu a triagem para um canal de whatsapp. “Foi a resposta às situações singulares enfrentadas nesse período, que foram muito difíceis de lidar”, conta Alexandre Putini, Head of Digital Transformation and Innovation na Sulamérica Seguros.

PROXIMIDADE À DISTÂNCIA

Com lojas fechadas e o prolongamento das medidas de isolamento, o Grupo Boticário teve que redefinir sua estratégia para frear a queda de receita, preservar o fluxo de caixa e manter os empregos. O lançamento de novos produtos foi suspenso e priorizou-se os projetos de inovação tecnológica e a melhora da experiência online para os clientes. Para organizar as demandas, o grupo, que possui uma ampla cadeia de revendedores, franqueados e distribuidores, focou em dois pilares: o comportamento do consumidor e a comunicação com os quatro mil franqueados.

Algumas tecnologias que estavam em teste foram colocadas em prática, como vendas por chat e também via whatsapp. Para os franqueados, foi reformulado o portal de comunicação com a marca. A primeira etapa do projeto foi executada em duas semanas, a custo zero, com uso de ferramentas gratuitas de mercado. Os feedbacks e dados de acesso dos usuários ajudaram a chegar no protótipo da plataforma atual.

“Mesmo numa situação de distanciamento, pudemos notar o relacionamento com os franqueados cada vez mais próximo”, diz Renato Pedigoni, diretor de produtos digitais do Grupo Boticário.

No primeiro mês de pandemia, a marca registrou lucro zero, fato inédito em seus 43 anos de existência. Com a atenção dedicada aos meios eletrônicos, no entanto, já em maio houve um acréscimo de 34% na base de novos clientes do e-commerce e, meses mais tarde, um volume quatro vezes maior de vendas online.

NA CONTRAMÃO, VAGAS PARA DESENVOLVEDORES

“Não é possível prever o futuro, mas alguns comportamentos vieram para ficar. Portanto, não estamos falando em soluções temporárias”, diz Solange Sobral.

A análise da executiva encontra respaldo em pelo menos duas mudanças percebidas nos últimos tempos. A alta demanda por perfis específicos de profissionais é uma delas. Mesmo num cenário de recessão e muitas demissões, a área de tecnologia se manteve aquecida. No Boticário, foram abertas em abril mais de 70 vagas para desenvolvedores, como parte do investimento em inovação e para sustentar a modernização liderada por equipes multidisciplinares com apoio de times robustos de TI.

De acordo com o Linkedin, o mercado de TI deve ter um aumento de quase 150 milhões de ofertas de empregos nos próximos 5 anos, ainda como reflexo da digitalização pós 2020.

Entre os profissionais mais procurados estão consultores de negócios, engenheiros e arquitetos de software, desenvolvedores frontend e .Net. Ainda segundo a plataforma, possuem mais chances aqueles que aliam habilidades comportamentais com gestão de negócios, ciência de dados, comunicação, resolução de problemas, liderança e aprendizado online.

Nathalie Trutmann concorda que carreiras relacionadas à programação, business intelligence e data analisys, entre outras capacidades de desenvolvimento de e-commerce, estão em alta. “Esse conhecimento técnico, porém, precisa estar aliado à capacidade de reinvenção, de fazer mais com menos, de enxergar oportunidades pequenas, medianas ou grandes na realidade atual”, avalia.

O LEGADO DAS INCUBADORAS

A proliferação de incubadoras para fomentar inovações proprietárias é outro sinal de que o foco em tecnologia veio para ficar — e de que as oportunidades nesta área continuarão a crescer. No início de novembro, ainda que em um ano turbulento e em que investimentos estão sendo olhados e decididos com lupa, o Grupo Boticário, que já havia investido R$37 milhões em um Centro de Pesquisa e Inovação, anunciou o lançamento da GB Ventures, sua aceleradora de startups.

A tendência já era realidade no Hospital Albert Einstein. Referência mundial em assistência à saúde e também em pesquisa e inovação, o Einstein mantinha há cerca de três anos sua própria incubadora, a Eretz.bio. Antes da pandemia, a incubadora focada em healthtech contava com cerca de 40 startups em desenvolvimento. Em setembro de 2020, esse número havia dobrado. Com 80 startups incubadas, a Eretz.bio deixou de ser incubadora para tornar-se um ecossistema de empreendedorismo e inovação.

Assim como ocorreu com a SulAmérica, o hospital viu a procura por telemedicina crescer substancialmente pós-Covid.

Ter um centro de inovação dentro de casa garantiu agilidade para colocar em funcionamento a plataforma Einstein Conecta, primeiro serviço de atendimento a urgências de baixa complexidade 100% digital.

O serviço vai da triagem até a prescrição de medicamentos controlados com certificação eletrônica.

Com a mesma rapidez foram ampliados serviços de telemonitoramento no Pará para acompanhar infectados pelo coronavírus onde, de 1151 teleconsultas em sete especialidades, 99,2% dos pacientes puderam ser tratados em casa. E em especial atenção à região Norte, o Einstein ainda implementou um projeto piloto no Alto Rio Negro, terra indígena bastante afetada pela Covid-19. Com apoio dos Ministérios da Saúde e da Defesa, cerca de três mil pessoas, entre comunidades indígenas e militares atuantes na fronteira do Exército, puderam ser atendidos via telemedicina em 11 especialidades.

“Estamos vivendo um período em que a tecnologia ganhou maior relevância ao integrar o cotidiano das pessoas para promover saúde e segurança”, diz Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Por isso, muitos dos projetos da Eretz.bio foram acelerados, sobretudo os que envolviam Big Data e Inteligência Artificial, para assegurar acesso a informações primordiais para promoção da saúde. “O papel dos profissionais da saúde foi evidenciado, seja no serviço assistencial, no uso da tecnologia de suporte ao cuidado ou no desenvolvimento de pesquisas científicas”, afirma o médico.

Esse conteúdo faz parte da série “2020: A Revolução Digital dos Negócios”, produzida pelo Projeto Draft e apresentada pela CI&T.

Quer saber mais sobre transformação digital dos negócios? Veja aqui.

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