As evidências científicas atuais apontam que estamos muito próximos de um ponto de não retorno. Essa situação não permitirá a volta ao estado de sistemas naturais que se mantiveram estáveis por milhares de anos no planeta enquanto as gerações atuais existirem. As consequências já estão ocorrendo, com a morte de pessoas e animais por causa do calor extremo, e de enchentes provocadas devido a cheias de rios e volume atípico de chuvas.
Já é tarde, mas ainda dá tempo de atenuar essas consequências. Para evitar o colapso da humanidade será necessário ir além de reflorestar todas as áreas possíveis e zerar o volume de emissões dos gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO2). Precisaremos capturar os gases provenientes da queima de combustíveis fósseis e injetá-los debaixo do solo. Esse processo é chamado de captura e armazenamento geológico de carbono, CCS na sigla em inglês.
A advogada Isabela Morbach é especialista no mercado de CCS, bem como no mercado de compra e venda de créditos de carbono. Sua tese de doutorado em planejamento energético na Universidade de São Paulo (USP) inspirou o Projeto de Lei (PL) 1425, que propõe a definição das regras do mercado de captura e armazenamento de carbono no Brasil. Aprovado pelo Senado, o PL está em tramitação na Câmara dos Deputados.
O tema atrai atenção de profissionais de diversos setores, especialmente os considerados “hard to abate”, ou seja, difíceis de reduzir as emissões de GEE, como os segmentos de produção de aço, cimento, químicos, aviação e transporte marítimo.
“Há mais de 40 projetos de CCS em operação no mundo. E nos três últimos anos a gente está tendo anúncio recorde de novos projetos: pelo menos 260”, resume Isabela. De acordo com a especialista, a legislação e regulamentação são importantes para dar segurança jurídica para os investidores e executores tirarem esses anúncios do papel.
Um congresso promovido pela Petrobras e a CCS Brasil, associação fundada e dirigida por Isabela Morbach, e a engenheira de petróleo Nathalia Weber, em 2022, reuniu mais de 400 pessoas online.
Mais recentemente, em outubro, a CCS Brasil organizou em conjunto com o Banco do Brasil um evento presencial em São Paulo, com representantes da academia, do governo e do setor privado, sobre o mercado de carbono e a integração de financiamentos públicos e privados para a implementação de projetos no Brasil. O encontro teve o apoio do escritório Campos Mello Advogados, do qual Isabela faz parte, e da consultoria EQAO, que há mais de 20 anos desenvolve projetos no mercado de crédito de carbono e de energias renováveis e onde Nathalia trabalha.
Leia a seguir a entrevista com Isabela Morbach, fundadora e diretora da CCS Brasil.
Por que você decidiu criar a CCS Brasil?
Quando eu estava no fim da minha tese de doutorado, que foi parte de uma pesquisa que deu origem ao PL 1425, a USP começou a ser chamada para participar de grupos de trabalho para tratar de CCS.
E aí foi ficando muito claro nesses fóruns que têm muitas indústrias interessadas e que não existia uma coesão. São indústrias, como petróleo, siderurgia e etanol, com interesses muito diferentes, que podem ter em comum a captura e o armazenamento de CO2
Em paralelo, a Nathalia Weber, que fundou a CCS comigo e é engenheira de petróleo, também começou a receber muitas ligações de pessoas pedindo “me explica isso que eu quero fazer”. Então a gente decidiu criar uma associação capaz de linkar os interesses das indústrias.
Como você conheceu a Nathalia?
A gente se formou no mesmo centro de pesquisa da USP, que é o RCGI, Research Center for Greenhouse Gas Innovation, que é um centro da Poli (Escola Politécnica, responsável pelo ensino, pesquisa e extensão universitária nas áreas de engenharia).
No mestrado ela estudou reservatórios de CO2 e agora no doutorado ela continua se dedicando à pesquisa sobre simulação de reservatórios de CO2. Então ela sempre estudou o petróleo não a partir da exploração, mas do uso das tecnologias para armazenar CO2.
Deve ser desafiador ser uma outsider…
Eu acho que no fim do dia o objetivo não é “nós ou eles”. É a gente, inclusive, aprender e valorizar os profissionais da indústria do petróleo.
Eles são muito importantes para que os projetos de armazenamento saiam muito mais rápido. Porque entendem como funciona o subsolo, como é perfurar um poço, o quanto é caro trazer uma sonda, conhecem os fornecedores…
Então, a gente vai poder aproveitar uma cadeia de fornecimento e de trabalhadores que está formada: geólogos, as empresas que fornecem barco, cano, e todos os serviços para a indústria de petróleo… Elas também serão ameaçadas, se [forem forçadas a] reduzir a produção.
Esses mesmos fornecedores poderão se manter oferecendo serviços para uma nova indústria, que é a do armazenamento. E isso é ótimo, porque a gente não perde emprego, mas cria emprego.
Como funciona o trabalho da CCS Brasil?
A academia já faz muito bem o papel de produzir as informações. A gente precisava ter um espaço de conversa com o governo, e com os financiadores.
Então, a gente formalizou a CCS, criou um estatuto com uma governança no modelo de associação e passou a convidar as empresas a participar como associadas e dos fóruns de discussão, para entender suas dificuldades e acompanhar tudo que está acontecendo.
Por exemplo: o governo federal publicou [em novembro] uma minuta de lei de regulação de hidrogênio. Não é CCS, mas tem CCS lá. Então, cabe à gente olhar as leis, avaliar como elas afetam as atividades de CCS e fazer contribuições.
Com frequência estou em Brasília, conversando com as pessoas, como o relator do mercado de carbono, que também é afetado pelo mercado de captura e armazenamento. Explicando e sugerindo ajustes conceituais no projeto de lei — para a lei já nascer atualizada
Por exemplo, o mercado de carbono europeu, que é o qual o Brasil está se baseando para criar o próprio, na origem não considera diretamente o CCS. E agora, eles estão no movimento de ter que alterar as suas normas para incluir.
A gente pode fazer um modelo que já inclui CCS desde o início. A gente consolidou a existência da associação quando criou o primeiro congresso sobre o tema no Brasil, em setembro do ano passado [o evento foi patrocinado pela Petrobras]. Conseguimos juntar mais de 400 pessoas online, ao mesmo tempo, discutindo CCS.
E você sempre teve como foco a área ambiental?
Eu sempre tive como foco na minha carreira a área de energia e desigualdade. Então, pesquisei no mestrado o uso de recursos do petróleo por fundos soberanos, para diminuir a desigualdade, para saber o que a gente vai fazer quando esses recursos acabarem.
E aí, no doutorado, tratei especificamente de CCS como uma tecnologia de descarbonização da economia. Então sempre teve o viés energético, mas um viés de políticas públicas de descarbonização, de desigualdade, de desenvolvimento a partir da energia e da transição.
Como a CCS Brasil se mantém financeiramente?
Nós temos associados. Então, eles contribuem anualmente, dependendo do faturamento deles.
Hoje, a gente tem oito associados e quatro em processo de associação. Às vezes, os processos de associação demoram um pouco porque precisa passar pelo compliance das empresas, eles precisam analisar o nosso sistema de governança.
Além disso, a gente faz eventos, como o congresso. E produzimos materiais estratégicos para estudos, por exemplo, um estudo sobre como este mercado é importante para a descarbonização da indústria
Também fazemos Pesquisa e Desenvolvimento. Então, a gente tem formas diferentes de se monetizar.
E quem são os associados?
A gente tem a Viterra, foi a nossa primeira associada, é uma produtora de cana e etanol. A ArcelorMittal [multinacional do setor de aço]. A H2 Hélium, uma consultoria de hidrogênio. O Senai Biomassa, é muito interessante o trabalho deles. A Ecal, uma desenvolvedora de projetos de crédito de carbono. A Vallourec, que é uma grande fornecedora de equipamentos para a CCS, especialmente tubos metálicos. A Kawasaki e a Sumitomo, que são fornecedoras de equipamentos. Estão em processo de associação outras grandes empresas de petróleo, energia, e de avaliação de CCS.
Já existe algum projeto de CCS no Brasil?
A Petrobras tem dois projetos anunciados. Teoricamente, o maior projeto de CCS do mundo é da Petrobras.
Só que, o detalhe aqui é que o maior projeto do mundo é o que a gente chama de extração avançada de petróleo, que se chama CCUS – Cadeia de Captura, Utilização e Armazenamento de CO2, ou seja não apenas CCS, porque inclui a utilização.
O CO2 capturado é utilizado no processo de recuperação avançada de petróleo para aumentar a eficiência da produção. E tem toda uma discussão sobre créditos de carbono, redução de emissões, dado que se estará produzindo mais petróleo
Em maio eles anunciaram que estudam implantar no Brasil um hub de captura e armazenamento de carbono no terminal de Cabiúnas, em Macaé (RJ), e parece que estão levantando recursos.
Eles já planejaram, já fizeram com as empresas MOUs [na linguagem jurídica em inglês, “Memoranda of Understanding”, ou Memorandos de Entendimento, documento de acordo mais flexível do que um contrato vinculativo e geralmente é usado para estabelecer intenções, princípios e compromissos mútuos entre as partes, sem criar obrigações legais rigorosas].
Como é um hub de CCS?
Um hub ou cluster de CCS é quando a gente une, no entorno de uma infraestrutura comum de transporte de CO2, diversas empresas, e fontes diferentes de captura.
Então, não é um projeto vertical, onde se captura e se armazena CO2. O carbono é capturado de diversas fontes, que não necessariamente são da mesma empresa, e se planeja uma infraestrutura de transporte eficiente para contemplar essas empresas.
O que a gente está vendo no mundo é que o transporte pode ser um gargalo muito importante, porque ele é caro, assim como a construção da infraestrutura. O investimento inicial para fazer é caro. Então, fica muito mais fácil dividir os custos entre as empresas de captura, se elas usam o transporte em comum
A Petrobras está planejando um cluster no Rio de Janeiro que deve escoar o CO2 para a área do pré-sal. É um projeto super importante para o Brasil.
Como funciona a captura e o armazenamento de carbono?
A depender da origem do CO2, você tem um tipo de captura. Então, regra geral, há quatro rotas de captura.
As mais comuns são a pré-combustão, ou seja, antes de queimar o combustível, por exemplo, na produção de etanol emite-se CO2 quase puro, captura-se esse fluxo gasoso e o comprime. E a pós-combustão, por exemplo, de uma termelétrica, onde se queimou gás natural vai gerar uma fumaça que não é CO2 puro.
Tem outros elementos nesse fluxo, então é preciso fazer adsorção, uma forma química em que o CO2 gruda num material, é jogado na água e vira tipo uma água com gás em que é possível separar o CO2.
Tem muitas rotas e por incrível que pareça, a etapa mais cara não é o armazenamento. A etapa mais cara é a captura
E quanto menos CO2 se tem num fluxo gasoso, mais cara é a sua separação. A separação mais barata é na produção de etanol.
Provavelmente a mais cara de todas é a captura direta do ar, que é quando se tem não uma chaminé, mas como se fossem uns ventiladores onde o ar que respiramos passa, e se captura o CO2.
Para a captura direta de CO2 do ar não seria mais simples plantar árvores?
No Brasil temos a possibilidade de plantar árvores. Para países que não têm essa disponibilidade territorial é preciso remover CO2 de alguma forma.
O que é importante quando se fala de captura direta do ar é que o país que faz captura direta do ar precisa necessariamente garantir uma oferta de renováveis significativa, porque esse processo consome muita energia
Nada substitui plantar uma árvore do ponto de vista de equilíbrio ecossistêmico, de biodiversidade, de meio ambiente. Mas do ponto de vista de contabilidade de CO2, as tecnologias de captura de carbono se equivalem.
E dá para aproveitar alguma infraestrutura que já existe, por exemplo, de transporte ou de dutos de gás natural?
O metal que vai ser usado para duto de CO2 é um pouquinho diferente. Então, a regra geral é que vai ter que se fazer um duto novo, pensado para isso.
O transporte, como toda obra de infraestrutura, é de capital intensivo e demanda condições técnicas. Não faz muito sentido fazer um duto numa serra, nem capturar CO2 no meio da floresta amazônica, tecnologicamente falando, e transportá-lo até o Rio Grande do Sul.
A tecnologia já existe. É uma questão de custo e possibilidade geográfica.
Então há máquinas que capturam e dutos que transportam até ao caminhão?
Pode se ter tanto caminhão quanto dutos que conectam o lugar onde se comprime e já injetam no armazenador, no reservatório geológico onde se vai armazenar o CO2. Eles podem ser reservatórios salinos ou poços depletados, que são aqueles que tinham petróleo e foram esvaziados. Ou ainda camadas de carvão não-mineráveis, ou seja, que não é economicamente interessante. Dá para armazenar nesses três.
Normalmente, as pessoas acham que o melhor lugar para armazenar são os poços depletados. Ou seja, aqueles que tinham petróleo. Mas esse é o que tem maior limitação de volume. Porque, embora se tenha tirado muito petróleo dali, se comparar com o volume de CO2 que é preciso armazenar, o espaço é irrelevante. Então, os aquíferos salinos ou reservatórios salinos são os de maior capacidade para armazenar CO2.
O que são reservatórios salinos?
Reservatório salino é uma formação geológica de basicamente água salgada e areia, comprimidas a mil metros de profundidade, embaixo das rochas, embaixo da terra.
Nosso subsolo é formado de várias camadas, rochas de todo tipo. Normalmente, um reservatório para CSS é composto por uma rocha que é porosa.
E para quem é interessante ou necessário economicamente investir em captura e armazenamento de carbono?
Existem as indústrias que vão precisar efetivamente [de acordo com a legislação]. E existem as empresas que vão poder lucrar. As indústrias que a gente chama de hard to abate, que são aquelas que hoje, mesmo que se esforcem para se tornar mais eficientes, e busquem substituir parte dos combustíveis que usam, não conseguem se descarbonizar. Ou porque não existe tecnologia ou porque a tecnologia é economicamente inviável de implementar.
Quais são essas indústrias normalmente?
São aquelas que no processo de produção precisam de um calor muito intenso, que não conseguem produzir a partir de uma resistência elétrica.
Um exemplo clássico é a siderurgia. Para derreter uma rocha, o volume de calor necessário é muito grande. E hoje só é possível fazer a partir de combustíveis fósseis. Então, normalmente, gás natural, carvão, coque.
Essas indústrias têm dificuldade de descarbonizar o seu processo trocando um equipamento ou mudando o combustível. É diferente, por exemplo, de uma termelétrica – em que é possível substituir a forma de produzir energia elétrica por uma energia renovável.
Para produzir papel e celulose, cimento, para a siderurgia, para a indústria petroquímica e de fertilizantes, ainda não tem uma rota em que o processo não produza CO2. Essas são as indústrias que vão se beneficiar diretamente do CCS
Depois disso, as indústrias de biocombustíveis, que descarbonizarem seu processo, poderão ser não só carbono neutro, mas carbono negativo. E aí elas podem vender o crédito para essas empresas que não conseguem se descarbonizar completamente.
O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) tem indicado que a gente vai precisar de muitos CDRs, que são os carbon removals, as tecnologias removedoras de CO2.
O que é preciso para o mercado de captura e armazenamento de carbono de fato acontecer no Brasil?
A gente precisa de uma regulação porque o reservatório geológico é um bem público. É um bem da União. Então a gente precisa que tenha na lei quais são os instrumentos que vão permitir a exploração pelo particular. Se vai ser uma concessão, se vai ser uma autorização. Isso precisa estar definido em lei.
Além disso, a gente precisaria, hoje, de um incentivo econômico direto.
Eu acho que a melhor comparação é que a captura de CO2 é como uma nova forma de catar lixo. Só que é catar um lixo muito caro. Quem é que vai catar? Quem é obrigado a catar o seu lixo por lei. Ou seja, quem estiver dentro do mercado regulado de carbono vai ter que capturar seu CO2
Mas para que a gente ganhe escala ninguém vai catar o lixo se não for obrigado ou se não tiver um incentivo econômico.
De que forma os Estados Unidos, por exemplo, estão no mercado de CCS?
De duas formas. Dando recurso para comprar equipamento porque o investimento inicial é muito alto. E dando crédito por captura, ou seja, um desconto em tributos para a empresa investir na captura de CO2.
A maior parte dos países que têm CCS, ou incentivam com dinheiro para equipamento ou com subsídio para capturar.
Tem alguém no mundo hoje gerando lucro no mercado de CCS?
O que eu posso dizer é que já teve crédito voluntário de carbono, de captura direta do ar sendo vendido. Se já fez o break-even eu não sei dizer, porque tem muito incentivo.
Tem mais de 40 projetos em operação no mundo. E nos três últimos anos tivemos recorde de anúncios de novos projetos. Então ano passado foram cerca de 160 projetos novos anunciados, 66 americanos. Em 2021 foram 100 novos projetos anunciados, e todo ano a gente tem batido recorde.
É muito projeto. Porque a gente está muito próximo do ponto de não retorno, que é ultrapassar o aumento de temperatura previsto pelo IPCC, e a gente sabe que vai ter que armazenar tecnologicamente. As consequências vão ficando incontroláveis
Sabemos que não vamos conseguir reduzir a quantidade de combustíveis fósseis na velocidade que a gente precisa. Sabemos que os países não cumprem as metas. Então a gente vai precisar colocar mais remoção de dióxido de carbono na equação.
Como está essa questão no Brasil?
Temos uma discussão avançada para colocar o mercado de carbono de pé. E tem o projeto de lei 1425, sobre o mercado de CCS, apresentado por Jean Paul Prates [atual presidente da Petrobras], quando ele era senador.
Ele já foi aprovado no Senado, então passou por todas as comissões, como a de Minas e Energia. Sofreu algumas emendas e a gente tem a expectativa de que ele ande relativamente rápido na Câmara dos Deputados porque tem muito interesse nacional em CCS.
Mudou muito o discurso de dois anos para cá, pois percebeu-se o grande potencial brasileiro para remover CO2, com a política de biocombustíveis, combinando bioenergia com CCS
Paralelamente, o governo federal apresentou, há dois meses, o projeto de lei dos combustíveis do futuro, muito voltado para os biocombustíveis, que tem um capítulo de CCS também. E foi incluído no que o Arthur Lira [presidente da Câmara] está chamando de Agenda Verde, que vai ter uma força-tarefa para aprovar o mercado de carbono, o hidrogênio e as eólicas offshore.
Mas o processo legislativo é vivo. O que eu posso dizer é que está no horizonte de prioridades do governo.
Qual é o potencial do Brasil em participar do mercado de captura e armazenamento de carbono?
Publicamos um relatório, em maio, onde calculamos a estimativa de capturar e armazenar geologicamente 200 milhões de toneladas de CO2 ao ano. O cálculo é feito com base em todas atividades que tecnologicamente são possíveis de capturar CO2. Aproximadamente 40 milhões só de bioenergia: biogás, produção de etanol e termelétrica à biomassa.
Já dá para saber o que esse potencial significa em termos financeiros?
Considerando um crédito de carbono a 70 dólares a gente calculou mais ou menos 14 bilhões de dólares em receita anual. Considerando o crédito de carbono a 100 dólares a gente tem mais ou menos 20 bilhões de dólares de captura de crédito de carbono anual.
É um cálculo que foi arbitrado, ou seja, usamos uma estimativa de preço praticado em diferentes mercados, voluntários e regulados. Porque o valor do crédito de carbono varia anualmente, e não necessariamente se consegue vender tudo pelo mesmo preço.
Então, essa é realmente uma estimativa com base no valor arbitrado de até 100 dólares a tonelada de CO2.
Tem profissionais especialistas em número suficiente trabalhando nesse mercado? E como fazer para se tornar um especialista?
Ao meu ver, esse é o maior gargalo de médio prazo: formar a mão de obra necessária para essa cadeia.
A gente vai aproveitar muito os profissionais da indústria do petróleo, que eles precisarão ter formações extras. Vai ter que ter muito curso, muita visita técnica. Importar profissionais de fora, treinar. E aí as universidades e os Senais têm um papel importantíssimo. É um assunto muito técnico e compartimentado.
Eu olho tudo mesmo porque sou advogada e minha formação é interdisciplinar. Estudei disciplina de geologia, de estatística e de planejamento energético, e sempre trabalhei com regulação e políticas públicas
Mas a captura precisa de um engenheiro específico; o armazenamento, de outro engenheiro especializado. Hoje é difícil encontrar consultoria especializada em CCS no Brasil, que saiba fazer um plano de negócios, os equipamentos que tem que comprar, quais as análises sísmicas que tem que fazer.
Na associação temos muitos parceiros, sejam eles voluntários ou contratados, que são engenheiros químicos e de petróleo, advogados, jornalistas e psicólogos sociais. Porque a percepção pública sobre CCS é muito importante, a gente precisa explicar o assunto para as pessoas.
Qual sua percepção sobre o processo de criação do mercado de captura e armazenamento de carbono no Brasil?
Eu aprendi que tem mais gente bem intencionada do que o contrário. Tem muita gente querendo fazer, e mover um Estado é difícil mesmo. É um exercício diário endereçar problemas e contemplar interesses. Às vezes dá certo.
A lei, por exemplo, eu escrevi no meu doutorado com outro pesquisador. É óbvio que a gente acreditava no texto que escrevemos, mas o texto já foi alterado e muitas alterações eu acho que foram boas; outras eu não gostaria que tivessem sido feitas. Mas faz parte do processo
Eu estudei cinco anos, mas as pessoas têm visão de mercado, sabem onde o calo aperta. Muitas vezes o bom é inimigo do ótimo. Todo dia eu aprendo algo novo.
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