Imperfeita, possível e real: é assim que a Kind vê a mulher – e faz disso um negócio

Katia Lessa - 30 jan 2015
Clarissa Soneghet e Nathália Roberto, há um ano empreendendo em uma consultoria para assuntos do universo feminino.
Katia Lessa - 30 jan 2015
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Elas já buscavam isso, talvez ainda sem saber. Foi em uma sala de aula durante o curso de empreendedorismo criativo da Perestroika que a paulistana Clarissa Soneghet conheceu a mineira Nathália Roberto. Desde o primeiro dia a sintonia foi tanta que os colegas já diziam que em um futuro breve elas trabalhariam juntas. O momento era de crise profissional para as duas. Clarissa, é formada em turismo e trabalhava com eventos, e Nathália, uma publicitária que atuava no ramo da moda, mas sempre teve vontade de empreender.

“Larguei meu trabalho e tirei um tempo para pensar sobre o que eu queria fazer porque também achava que já existia uma vontade de comandar algo meu, mas tinha interesses variados e não me enxergava como uma empresária tradicional. Nesse curso entendi que era possível executar uma gestão de outra forma e crescer com um modelo de negócio diferente do tradicional”, diz Clarissa.

A Kind, empresa que fundaram há apenas um ano nasceu do protótipo de um projeto de consultoria para novas marcas de moda feminina que Nathália apresentou durante as aulas na Perestroika. Na banca estava Lucas Foster, do ProjectHub, que gostou da ideia e resolveu elaborar uma monitoria para orientar a aluna. Durante esse processo, ela percebeu diversos questionamentos em relação aos padrões sociais que limitavam o universo feminino e resolveu investir não apenas em moda, mas em tudo que cerca a mulher. Ali, ainda sem saber exatamente o que esse negócio seria na prática, escreveu um manifesto que virou a alma da empresa que comanda hoje.

Registro de uma edição do ano passado do encontro Despertar do Prazer.

Registro de uma edição do ano passado do encontro Antropologia do Prazer.

Atualmente, a Kind é um negócio de consultoria e experiências focada no universo feminino. A ideia das sócias é realizar projetos que aproximem mulheres de suas verdades e ajudar empresas a transformar suas relações com essas mulheres. “Queremos que quando uma empresa pense em desenvolver algo sobre o universo feminino ela pense em nós, porque acredito que o cotidiano das nossas experiências nos trazem repertório para isso”, diz Nathália, que atualmente elabora uma consultoria para a revista Marie Claire.

A VONTADE DE CRIAR ALGO QUE NÃO EXISTIA

Para apresentar o negócio ao mundo, a dupla criou o Paulistanas, um evento que reúne personalidades que discorrem sobre assuntos do universo da mulher como feminilidade, sexualidade, beleza, negócios, finanças e autoestima. O encontro, com direito a comidinhas e participantes sentados a seu modo em esteiras de vime, sem jeitão de palestra formal, da uma pequena amostra das reuniões que Nathália e Clarissa organizam ao longo do ano como o “Fome Afetiva x Fome Biológica”, com Silvia Corbucci, que ensina na prática, receitas alternativas para uma alimentação mais saudável que não seja escrava do emocional. Há também o workshop “Inteligência Financeira para Mulheres” ou o “Antropologia do Prazer”, três dias de encontros para discutir sensualidade, feminilidade e prazer com duas garotas de programa.

 Na última edição do Paulistanas, Lola Benvenutti, "uma puta com P maiúsculo", falou sobre suas escolhas e aprendizados.


Na última edição do Paulistanas, Lola Benvenutti, “uma puta com P maiúsculo”, falou sobre suas escolhas e aprendizados.

“Muitas pessoas que frequentam uma experiência voltam para outras atividades porque sentem que elas foram inspiradoras. Queremos que as mulheres se libertem dos padrões e se aceitem como verdadeiramente são e não como alguém diz que ela deve ser. Que mudem de ideia quando quiserem e que aceitem o fato de não serem perfeitas. Que elas sejam ‘kind’ com elas mesmas”, diz Clarissa.

Segundo as sócias, a Kind não foi inspirada em nada que elas já tivessem visto, mas sim da necessidade de reparar uma miopia de mercado. No Brasil, a revista TPM tem uma iniciativa parecida com a Casa TPM, que uma vez ao ano reúne mulheres durante um final de semana para conferir curtas palestras que questionam os estereótipos femininos.

“Adoramos a revista e conhecemos o evento. Eles ajudaram a quebrar vários padrões, mas não são nossa concorrência porque não queremos levantar bandeira nenhuma. Para nós, se a mulher quiser ser uma dona de casa, ou uma executiva que não quer ter filhos, tudo bem”, diz Nathália, que investiu 25 mil reais do próprio bolso no primeiro ano do negócio, e prossegue:

“Não somos e não queremos ser o bastião de um novo feminismo. Se quisermos falar de frufru e batom, vamos falar”

Em 2014 elas realizaram 10 experiências com 297 mulheres em São Paulo e Belo Horizonte e faturaram 80 mil reais. Segundo Clarissa, o momento foi de descoberta do negócio, de aprender com os erros e de entender a melhor forma de comunicar o que elas fazem. Para 2015 elas pretendem faturar 300 mil reais e, mais para a frente criar um espaço físico que, além de escritório, seja também base para as atividades que proporcionam.

Logo após a segunda edição do Paulistanas, que comemorou esse mês um ano da empresa, a dupla comemorou a casa cheia e desabafou na abertura do evento: “Foi um ano no qual a maior dificuldade foi aprender a não tratar o negócio como filho, a ser mais racional. Estamos fazendo conosco o que queremos que as mulheres aprendam na Kind: esse não é o negócio da nossa vida, é apenas o que nos deixa feliz agora, mas se mais para frente essa não for mais a nossa verdade podemos mudar de ideia, e tudo bem”.

draft card KIND

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