Inovação se ensina e se aprende (e não é monopólio de startups)

Bruno Leuzinger - 14 jul 2016
Max Carlomagno, da Innoscience: entre os clientes, multinacionais 'cascudas' e 12 das 100 empresas mais inovadoras do país
Bruno Leuzinger - 14 jul 2016
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“Meu pai era diretor de um banco, e o banco quebrou quando eu tinha oito anos. Pouco depois ele teve um derrame cerebral e ficou com uma parcela do corpo comprometida. Aquilo me marcou… Por que algumas empresas ficam pelo caminho?” Essa indagação quase filosófica persegue Maximiliano Carlomagno, 39 anos, desde a juventude. Ao evaporar-se, o emprego que garantira a situação confortável da família, em Porto Alegre, levou junto a saúde do pai. A fisioterapia não deu resultado, e a busca por tratamento nos Estados Unidos mostrou que os avanços da medicina ainda eram insuficientes. “Algum tempo depois, ele teve um segundo derrame. Faleceu quando eu tinha treze anos.”

Formado em administração, Max também foi trabalhar num banco, uma companhia de crédito imobiliário. Ascendeu, mas não se acomodou. “Eu fui intraempreendedor lá. Montamos uma espécie de fintech em 1999, um marketplace de crédito imobiliário pela internet conectando bancos e tomadores de crédito.” O problema foi o timing da ideia, à frente de seu tempo: na época, o conceito de fintech ainda estava longe de ser formulado. Em 2000, no auge das pontocom, Max chegou a ser selecionado para apresentar o projeto no MIT. “Aí, fizemos um spin-off desse negócio… Só que ele fracassou. Não conseguimos viabilizar, os bancos não entraram, o cliente não viu a proposta de valor como sendo útil. E voltei para o banco pensando: tenho que fazer outra coisa, tenho que sair daqui.”

Max saiu. Abraçou de vez a ideia da inovação como bússola e business – e, em 2006, fundou a consultoria Innoscience com o sócio Felipe Ost Scherer, que conhecera no ano anterior. Formado em engenharia, mestre em administração com ênfase em ciência e tecnologia, Felipe trazia no currículo passagens por Gerdau e Ipiranga, uma bagagem fundamental para entender o funcionamento dos processos de inovação dentro de grandes companhias. “Na época, o ecossistema empreendedor do Brasil estava muito fraco”, diz Max. “A nossa inspiração veio mais da grande empresa do que da startup, porque vimos que o desafio de inovar dentro da grande empresa é muito maior.”

Os sócios descobriram que as grandes empresas precisavam (re)aprender a inovar. Numa espécie de autoboicote, as companhias crescem e esquecem de fomentar a inovação da porta para dentro, seduzidas pelo canto de sereia das startups como uma criança diante de um brinquedo novo em folha. “Hoje, eu vejo que o funcionário da grande empresa parece relegado ao segundo nível. O ‘legal’ é a startup. A grande empresa compra uma startup e dá tempo, dinheiro e autonomia para trabalhar, predispõe-se a coisas com o ‘cara de fora’ a que não se predispõe com o ‘cara de dentro’. Mas se você mantém o funcionário num sistema inadequado para ele inovar, ele não irá inovar. É um paradoxo.”

Ajudar empresas a equacionar esse paradoxo e a estimular suas equipes de forma sistemática, numa busca constante pela inovação (que não comporta o mito do gênio criativo e solitário), é uma das tarefas da Innoscience. A abordagem metodológica, evitando mistificações que vicejavam na bibliografia sobre o tema, é um dos imperativos que movem a consultoria. “Nós já atendemos 200 empresas nesse desafio de inovar”, diz Max. “Inclusive 12 das 100 mais inovadoras do Brasil, além de algumas multinacionais casca-grossas. Então, algum atalho no tema nos temos.” A carteira de clientes inclui marcas como Coca-Cola, Gerdau, O Boticario, Basf, Sanofi, ArcelorMittal e Roche.

O know-how da Innoscience está sendo agora empacotado na forma da Certificação em Gestão da Inovação (CGI); o primeiro módulo (de três), Innovation Experience, tem inscrições abertas e ocorre nos dias 26 e 27 de julho, em São Paulo. “Há uma preparação online, dois dias presenciais e uma mentoria pós. O welcome package inclui um curso de duas horas que eu dei na Endeavor”, diz Max. Ele e a consultora Rafaela Sanzi serão os instrutores. “Um dos diferenciais é a didática em formato de competição. Serão formados grupos para gerar e desenvolver uma ideia inovadora. Usaremos o que há de mais novo em neurociência de aprendizagem, impactando desde o coffee break, walking meeting e exercícios de descompressão antes de ideação.”

Inspirado em programa do Global Innovation Management Institute, o curso pretende instrumentalizar funcionários de grandes empresas a alavancarem processos de inovação de dentro para fora – e de fora para dentro. “Somos agnósticos no método, se é open ou closed, com startups ou clientes. Entendemos que a decisão do método deve vir da estratégia do negócio e não do método pelo método”, diz Max.

O curso, por sinal, já está praticamente cheio. Um dos inscritos é Luiz César Cardoso Lopes, da MF Corporation: “Como consultor de estratégias para gestão de pessoas há mais de 10 anos, vivenciei várias limitações na hora de inovar. Na prática, as empresas preferem controle, pensamento cartesiano e pouco flexível, e perdem a chance de tornar as pessoas maduras e criativas. Com o curso, espero poder trazer para meus clientes uma visão mais sistemática e realista, menos burocratizada e superficial da inovação. Quero quebrar paradigmas e entender como ajudar as pessoas a mudarem sua forma de pensar.”

Para conhecer mais sobre Max e a Innoscience, vale ler o texto de Guest Member que ele assina no Draft e assistir à palestra no TEDx Mauá, onde define bem seu tema de trabalho. “A essência da proposta de valor da inovação está em que ela acessa o que o ser humano tem de necessidade mais sublime, conforme a pirâmide das necessidades que Maslow desenvolveu – a necessidade da estima e da autorrealização. Não há sensação melhor do que saber que tu fez o que não tinha sido feito e que isso trouxe um impacto positivo para ti e para os outros. Isso é a essência da inovação.”

 

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