Aqui a fruta é colhida e entregue ao comprador em três dias: conheça o Laranjas Online

Isabela Mena - 1 out 2014laranjas online
A advogada Alessandra Sodré, na fazenda da família, em Sorocada (SP)
Isabela Mena - 1 out 2014
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Laranjas estão no DNA da família de Alessandra Sodré, 32, há pelo menos três gerações. Na época de seu falecido avô, a fazenda São Pedro, em Sorocaba (interior de São Paulo), era usada para a criação de gado, mas um pequeno laranjal já estava lá. Em 2003, o pai de Alessandra herdou a terra e transformou os 520 hectares de área em 150 mil pés da fruta, cujo destino é, ainda predominantemente, a indústria de suco. Mas há dois anos, depois de um fim de semana com amigas na fazenda, Alessandra teve a ideia de vender a produção excedente pela internet e criou, literalmente do dia para a noite, o Laranjas Online, que hoje atende a cerca de 1 200 pedidos por mês e faturou 150 mil reais em 2013.

Formada em direito, profissão que só exerceu enquanto estava na faculdade, Alessandra tinha como grande sonho casar e ser mãe. Alcançou-o relativamente rápido. Casou-se com João Sodré, administrador de empresas, e teve seu primeiro filho, Antonio, 5. Um ano e meio depois nasceu Carolina, 3. “Meu primeiro papel é ser mãe. Mas como nunca tive babá, ao colocar minha filha na escola com 10 meses, me vi em casa, sem filhos, e comecei a me sentir angustiada. Dona de casa eu não queria ser, então passei a procurar uma atividade que me permitisse conciliar trabalho e filhos”, diz.

Há dois anos, passeando como de costume pelo laranjal da família, Alessandra se deparou com uma grande quantidade de laranjas colhidas e jogadas no chão. Descobriu que não seriam nem vendidas (a indústria estava com o excesso da mercadoria) nem doadas, pois era preciso autorização da Anvisa e não havia tempo para os trâmites burocráticos. “Tentei doar para creches da região, mas ia demorar até que a Anvisa fosse à fazenda e liberasse. O que faz sentido, já que você não pode doar alimentos sem certificação, ainda mais para crianças”, conta.

A EMPRESA QUE NASCEU NUM CLICK

Alessandra voltou para São Paulo com o seu carregamento habitual de laranjas, para consumo próprio e de amigos. Mas, em vez disso, decidiu anunciar o saco todo — 27kg, tamanho padrão desde os tempos do seu avô — em um site fechado de vendas online. O empreendimento surgia assim, num click, e Alessandra criou um slogan do tipo simples, mas honesto: “Vendo laranjas fresquinhas”. Para definir o preço, se baseou no valor de um saco de 20kg, o maior encontrado em supermercados e no Ceasa. De cara, recebeu 20 pedidos.

O primeiro post foi publicado em um domingo. Entre segunda e terça, Alessandra arrecadou mais pedidos, falou com clientes e, na quarta, foi à fazenda buscar mais laranjas. Entregou entre quinta e sexta. “Deixava minha filha na escola, no Jardim Paulistano, e distribuía por ali. Minha mãe buscava minha filha, dava o almoço para o meu filho e depois de levá-lo para a escola, no Morumbi, eu fazia a distribuição nessa região”, conta ela. Os pedidos aumentaram diariamente, e no primeiro mês de trabalho ela faturou 4.400 reais: atendeu a 90 pedidos de 27kg cada, o que significa que carregou e entregou 2 430kg de laranja pela cidade. Alessandra tem 54kg em 1,65m.

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Desde o ano passado, as entregas (que eram feitas por Alessandra, de carro) são feitas de caminhão

Já no segundo mês, o negócio ficou mais profissional. O marido e os pais, preocupados com sua segurança, pediram que Alessandra contratasse um motorista/entregador, que está na empresa até hoje. Alessandra também passou a fazer as entregas apenas em bairros que já conhecia na cidade. O passo seguinte foi abandonar o site de vendas, criar uma página no Facebook e começar o desenvolvimento de sua própria página na internet. Foi quando as vendas triplicaram. Alessandra, então, estipulou dois tamanhos de saco e, um mês depois, definiu as versões de 5, 10 e 20kg vendidas hoje. O preço, calculado por quilo, permanece o mesmo desde o início do negócio. “Sempre pensei em não explorar. Um dos nossos diferenciais é que a gente vende justo, afinal, é um produto do dia-a-dia”, diz Alessandra.

Aberta como empresa de pequeno porte, o Laranjas Online passou a produtor rural em seguida, quando Alessandra arrendou os 15 mil pés de laranjas orgânicas da fazenda. Hoje, ela oferece os dois tipos da fruta, com uma pequena variação de preço (10 reais a comum e 12 reais a orgânica, no saco de 5 quilos).

Mas o diferencial do Laranjas Online ainda é o “fresquinhas”, do slogan inicial. Segundo Alessandra, sua laranja é mais fresca que as vendidas em supermercados porque é colhida, ensacada no pomar e levada para a casa do cliente em no máximo três dias. Ou seja, a laranja que uma pessoa recebe sexta-feira foi colhida na quarta da mesma semana.

“A laranja do mercado foi colhida, mandada para a distribuidora, selecionada por tamanho, lavada, encerada, encaixotada e distribuída. Esse processo dura uma semana ou mais. A minha é super fresca e por isso tem um sabor excepcional”

Ela continua:  “Garanto a validade dela nesse sentido”. Alessandra diz que a fruta dura duas semanas fora da geladeira e de três a quatro se refrigerada. O que Alessandra não garante — nem promete — é que sua fruta seja bonita. Justamente por não levar a cera industrial que mantém a conservação (e dá brilho) nem ser separada por tamanho, por fora a laranja pode parecer “feia” para quem não está acostumado a pegá-la direto do pé.

laranjas online

A fruta vem fresca e não é encerada, por isso pode parecer “feia” para alguns.

E isso já rendeu devolução ao Laranjas Online. Mas não prejuízo. “Uma cliente recebeu a laranja em casa e me ligou dizendo que estava feia, estava queimada. Falei que tudo bem, que ia retirar. Um mês depois, não sei o que aconteceu, ela pediu  de novo e gostou tanto que recomendou para o prédio inteiro”, conta a empreendedora.

As laranjas fazem parte também da vida pessoal de Alessandra. Na garrafinha que leva para a academia não há Gatorade e, sim, meio litro de suco fresco. Ela diz que consegue passar fins de semana na fazenda, no meio do laranjal, apenas curtindo com as crianças, como pessoa física, sem pensar no trabalho. Ano passado, a escola do filho a convidou para montar uma barraca de suco na festa junina. “Eles queriam um produto natural, eu tinha uma máquina industrial e passei 10 horas espremendo 32 sacos de 20kg de laranja, sem parar”, conta. Ela acabou o dia com laranja por todo o corpo e com uma super alergia, mas feliz com o sucesso.

Com o negócio crescendo mês a mês, no começo de 2013 foi preciso contratar um novo motorista/entregador, agora para dirigir um caminhão. Alessandra saiu do circuito de entregas, contratou dois funcionários para a parte burocrática e passou a contar com a estrutura do escritório do pai, em São Paulo. Em retorno, paga a ele 15 reais a caixa de 40,8kg de laranja —um pouco mais do que paga a indústria, cerca de 12 reais. “Isso abrange todos os custos, inclui o valor do pessoal da fazenda, do pessoal de São Paulo e até do diesel do caminhão, que é abastecido na fazenda”, diz.

A parte de logística e atendimento ao consumidor ela faz todo dia, pessoalmente, enquanto os filhos estão na escola e depois das 20h, quando os coloca para dormir, já jantados, até a hora que for. Hoje, os pedidos são feitos pelo site mas durante um bom tempo a página era estática e as vendas feitas por telefone. “Quero sempre ter contato com os clientes, o meu negócio sou eu, isso significa ser caseiro. E acho que faz toda diferença.”

Está nos planos da empreendedora começar um trabalho de mídia para expandir as áreas de entrega. Até hoje, tudo foi feito no boca a boca. Outro dia, almoçando com duas amigas, Alessandra ouviu de uma delas que não se conformava que o Laranjas Online não entregasse em restaurantes, já que alguns serviam sucos ruins. A outra perguntou, então, o que era Laranjas Online e ficou mais do que surpresa quando ouviu a resposta. “Nossa, vi seu caminhão outro dia na rua e me perguntei quem era a pessoa doida que vendia laranja pela internet’’. “Sou eu!”, diz Alessandra, rindo.

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