Pensamento analítico, resiliência, flexibilidade, agilidade, influência social, curiosidade, liderança. Segundo o relatório “Futuro do Trabalho 2025”, divulgado recentemente pelo Fórum Econômico Mundial, essas serão algumas das habilidades mais buscadas pelos empregadores nos próximos cinco anos.
Para Mari Achutti, especialista em educação corporativa, os achados só reforçam a necessidade de as empresas — e de os profissionais — colocarem o aprendizado contínuo como prioridade e de repensarmos, enquanto sociedade, a forma como o conhecimento é transmitido hoje.
“Os resultados apresentados não diferem muito dos relatórios anteriores. Nós não saímos muito desse lugar, porque ainda é um universo desconhecido”, afirma. “Cada vez mais, nós estamos precisando aprender sobre diversos temas, de maneira mais rápida e, em contrapartida, há uma dificuldade enorme em reter a atenção das pessoas.”
A Newnew, o mais novo negócio fundado pela empreendedora (no segundo semestre de 2024), busca chacoalhar essa realidade.
“A Newnew nasce nesse lugar de tentar trazer de volta a essência das pessoas em querer se desenvolver – de elas verem sentido e consequentemente se engajarem. Todos os nossos projetos de educação passam por esse princípio de engajamento como grande ponto de partida para a construção das habilidades que eles vão aprender”
O propósito continua o mesmo que a levou a ingressar no mercado de educação: tornar o processo de aprendizado divertido, leve e palatável. Aos 40 anos de idade, Mari Achutti tem quase 15 de experiência na tarefa de ajudar no desenvolvimento de empresas e profissionais.
Ela já esteve à frente da Perestroika e da Sputnik – negócios focados em aprendizagem corporativa – e, em 2022, conversou com o Draft sobre sua carreira.
Mari conta que, quando decidiu encerrar a Sputnik, empresa que liderou por uma década, não foi uma decisão simples. Afinal, na época ela registrava 350 empresas e milhares de alunos formados ao longo do período.
“Foi uma das situações mais desafiadoras da minha vida, [só] agora estou conseguindo me recuperar desse encerramento de ciclo. Apesar de ter sido um movimento muito bem pensado, percebi que nunca estamos completamente preparados para esse tipo de mudança.”
O desejo de abrir um novo negócio surgiu após a licença-maternidade, em 2021, a partir de um descontentamento com a estrutura societária da Sputnik e com o setor de educação
“No período pós-pandemia, a educação virou uma ‘pastelaria’, muitos players entraram no mercado oferecendo soluções como se estivessem vendendo uma caneta… Isso me fez questionar o que eu queria construir. O empreendedorismo muitas vezes nos empurra para a lógica do crescimento a qualquer custo – mas eu não queria trair os valores que nortearam a minha carreira”
A empreendedora aproveitou a oportunidade para recomeçar em uma página em branco, em cima do que ela de fato acredita: a educação como ferramenta de transformação pessoal e profissional.
Assim, ao lado de Camila Schneider, com quem trabalha há oito anos e compartilhou a sociedade na Sputnik, Mari fundou a Newnew. De maneira resumida, a empresa constrói jornadas de aprendizagem personalizadas, de acordo com as necessidades e demandas dos clientes. O processo é feito a várias mãos, focando na realidade e desafios do negócio, bem como na necessidade dos alunos (profissionais).
A metodologia de aprendizado, diz Mari, é pautada no “always on engagement” — em português, “sempre engajado” –, tendo o aluno como centro, e é composta por três pilares: orientação ao negócio (escolher temas, professores e palestrantes que de fato podem contribuir para o enfrentamento dos desafios existentes); ferramentas e recursos (apresentar ferramentas e recursos para que os alunos possam aplicar, na prática, os aprendizados obtidos); e inspiração e criatividade (transmitir o conhecimento de maneira leve, divertida e eficaz, adaptando as necessidades do aluno).
Essa metodologia “outside-in”, ou seja, trazer o conhecimento de fora, com profissionais especializados para dentro das empresas, foi o que levou a Sputnik, antigo negócio da empreendedora, a obter um sucesso considerável.
A novidade agora foi a adição do conceito “inside-in”. A visão muda a lógica, empoderando os próprios colaboradores para se tornarem agentes de aprendizagem dentro das companhias. Mari diz que essa abordagem permite não apenas disseminar conhecimento, mas criar comunidades de aprendizagem que fortalecem a cultura organizacional (e refletem, segundo ela, uma tendência mundial).
“Cada vez mais, as empresas vão se tornar ‘empresas-escolas’. Não podemos esperar que o governo resolva o gap educacional existente. Precisamos de ações colaborativas entre poder público e privado para levar o conhecimento e promover o desenvolvimento.”
DO ANTIGO NEGÓCIO ELAS TROUXERAM GRANDE PARTE DA CARTELA DE CLIENTES
Mari atribui a permanência dos clientes ao velho e bom “arroz com feijão”, o básico bem feito.
“Depois de vários anos, já desconstruí algumas falácias dos empreendedores de ter um inbound alto. Meu foco é cultivar um ótimo relacionamento com os clientes que eu já atendo e crescer o ticket médio deles, entregando um trabalho de qualidade. Obviamente, a consequência disso é um crescimento”
A Newnew trabalha com empresas como Vivo, Heineken, Zé Delivery, Danone, Red Bull e iFood. Na Heineken, por exemplo, a Newnew desenvolveu momentos de experiência para motivar o time de vendas. Já na Red Bull, o time foi até Punta Cana (na República Dominicana) fazer a facilitação da liderança de marketing para o planejamento de 2025.
Independentemente do cliente, o objetivo é o mesmo: transmitir conhecimentos contemporâneos através de experiências memoráveis, que gerem valor para os alunos.
COMO A NEWNEW AJUDOU A VIVO A COLOCAR A APRENDIZAGEM CONTÍNUA COMO PILAR FUNDAMENTAL DO CRESCIMENTO DA EMPRESA
Um caso de destaque foi a parceria da Newnew com a Vivo. A empresa lidera iniciativas dentro do Vivo Explore, um hub de educação corporativa que já acumula mais de 860 mil cursos concluídos e 600 mil horas de treinamento desde seu lançamento, há três anos.
Baseado nos pilares Eu+Digital, Eu+Criativo, Eu+Humano e Eu+Protagonista, o hub promove desde o desenvolvimento de competências tecnológicas como inteligência artificial generativa e machine learning, até habilidades socioemocionais como gestão de tempo e tomada de decisão.
O programa ajudou a Vivo a melhorar seu índice de engajamento dos colaboradores – Employee Net Promoter Score (eNPS) – de 84 para 88 pontos, um aumento que reflete o engajamento dos colaboradores.
Na visão de Mari, mais do que levar conhecimento, a educação corporativa reconecta os profissionais com sua curiosidade e desejo de evoluir. “Queremos resgatar nos adultos a curiosidade de uma criança, aquele brilho nos olhos que motiva a aprender algo novo.”
Em apenas alguns meses de operação, a Newnew fechou 2024 com um faturamento de 3 milhões de reais. Hoje, o negócio conta com quatro colaboradores fixos e um hub com mais 15 parceiros que apoiam em projetos pontuais — a operação é 100% remota.
Mari conta que está otimista para 2025. Dando continuidade ao que já era feito na Sputnik, a empresa lançará em março um relatório de tendências em educação corporativa.
“O grande diferencial é que nesta edição vamos trazer insights sobre o que os profissionais desejam aprender – e não apenas o que as empresas querem que eles aprendam”, diz.
Este acréscimo, segundo a empreendedora, deixará a pesquisa mais completa a respeito das habilidades – e necessidades – do profissional atual.
“Ao colocar o aluno no centro da pesquisa, talvez a gente entenda por que o engajamento na educação corporativa ainda é baixo no Brasil”
Além disso, a Newnew deve lançar uma premiação para reconhecer as melhores “empresas-escolas” do país. A intenção é impulsionar a aprendizagem dentro das corporações, levando-a para mais negócios.
Hoje, a Newnew roda com investimento próprio, mas Mari diz estar aberta para investimentos. “Eu tenho diversas ideias e sonhos guardados em uma gaveta que poderiam ganhar um empurrãozinho.”
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