Mais de 1 bilhão de garrafas de vidro são descartadas por ano no país. Embora seja um material menos poluente que o plástico, boa parte destas garrafas são jogadas em praias, rios, terrenos baldios e lixões – e podem demorar até 5 mil anos para se decompor. Isso porque o vidro passa por uma série de desafios para ser reciclado no Brasil. A novidade é que o governo federal acaba de criar, por decreto, o sistema nacional de logística reversa de embalagens de vidro, que faz parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A regulação foi recebida de braços abertos por empresas como a Massfix, que está no mercado há 32 anos trabalhando na coleta e reciclagem de todos os tipos de vidro. “Apesar de haver uma política nacional, não existia nada específico para embalagens de vidro. Agora temos um decreto que estabelece metas e percentuais de reciclagem, há compromissos com a logística reversa – inclusive do fabricante em consumir o material o reciclado”, diz Juliana Schunck, CEO da Massfix.
O vidro corta, quebra fácil, é de difícil transporte e manuseio. Mas é um material que pode ser 100% reciclado – e a economia neste processo vai desde o ambiente até o bolso dos fabricantes. Mais de 70% do vidro é composto por areia, material abundante e barato. Ao reciclar um vidro usado, o fabricante deixa de usar matéria-prima, reduz seu consumo energético em até 40% e diminui muita emissão de carbono – a cada 6 toneladas de vidro reciclado, esta economia é de 1 tonelada de CO2.
ECONOMIA CIRCULAR
O volume total de vidro reciclado no ano passado pela Massfix chegou a 200 mil toneladas – 90% deste vidro volta para a indústria que revende o produto de novo. No Brasil, a porcentagem de reciclagem de vidro fica em torno de 20% a 25%.
“Ainda é um número baixo. Nós fomentamos, por exemplo, a triagem deste material, mas o catador não tem tanto interesse: o material é cortante e quebra fácil, então dificulta tanto para o coletor, como para a triagem. Sem contar que estávamos restritos, pois não havia produtores ajudando a financiar o processo. Com o decreto com responsabilidades e metas, as fábricas vão nos ajudar neste processo de logística”, diz Juliana, lembrando que a empresa tem o projeto de desenvolver coletores exclusivos para vidros e assim evitar acidentes e quebras.
REGULAMENTAÇÃO NECESSÁRIA
As ações previstas no decreto do governo não terão recursos dos cofres públicos. Elas serão realizadas pela iniciativa privada, por meio de parcerias entre fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, de forma semelhante ao que já é feito no caso das embalagens retornáveis e em vários sistemas de logística reversa implantados no país, tais como o sistema de logística reversa de eletroeletrônicos.
De acordo com Ministério do Meio Ambiente, a falta de regulamentação levava empresas a buscarem caco de vidro no exterior, como em países da Europa. Além disso, muitos Estados brasileiros não sabiam o que fazer com o vidro descartado.
Segundo Juliana, na Europa, por haver um melhor sistema de transporte e logística, a reciclagem do vidro é organizada por uma entidade financiada pelas grandes marcas.
“Acreditamos que, com o decreto, vai surgir no Brasil uma forma de autofinanciamento da logística reversa, como na Europa. A limitação aqui é a estruturação da cadeia. Com estas novas metas será possível este sistema de autofinanciamento que vai fazer com que o vidro retorne para as fábricas a um preço mais baixo do que matéria-prima”.
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