Um ano com grandes expectativas de negócios e crescimento, muitos eventos e um mundo de experiências nas tantas viagens que teríamos pela frente. Assim eu via 2020.
Mas, em 4 de março, cheguei a São Francisco com um grupo de incentivo e vi uma Califórnia assustada. Máscaras em todas as faces, supermercados desabastecidos, farmácias sem higienizador de mãos… E assim vivemos cinco dias, imaginando tratar-se de sensacionalismo americano. Sim, nós brasileiros não estávamos habituados a isto.
Saí dos Estados Unidos no dia 10, com uma sensação estranha. Voos cancelados, aeroporto deserto e o avião em que retornava de Los Angeles para São Paulo completamente vazio — o que para a rota era quase impossível.
Em 11 de março, quando desembarquei na capital paulista, a Organização Mundial da Saúde decretou pandemia. Já eram 188 países com confirmação da doença ao redor do mundo. Dois dias depois, coloquei todos os colaboradores em home office. Neste momento, os primeiros cancelamentos e adiamentos dos trabalhos futuros começaram a acontecer
A TSB MICE, empresa da qual sou CEO, atua no segmento de Meetings, Incentive, Conferences e Exhibitions, desenvolvendo, através da metodologia do Design de Experiências, projetos para empresas e seus públicos, como viagens de incentivo e de premiações, learning trips executivas, missões corporativas internacionais, entre outros.
Mais do que logística e hospitality (hospedagens, alimentação e reservas em eventos de entretenimento), criamos experiências que envolvem conteúdo qualificado, emoção, exclusividade.
Afinal, viajar não é apenas circular de um ponto a outro, é efetivamente criar memórias afetivas e vivenciar culturas, tradições e histórias que nos transformam como seres humanos.
O nosso segmento foi um dos mais afetados do planeta. E, após um mês de quarentena e milhões em faturamento cancelados — isso porque os adiamentos viraram cancelamentos no decorrer do avanço da doença e das mortes –, precisei fazer uma análise mais delicada da situação que já deixara tantas sequelas.
Os mercados de eventos e de viagens estavam em crise e eu não poderia ficar passivo assistindo a tudo isso. Era preciso lutar pela sobrevivência dos meus colaboradores e do próprio negócio. Eram 28 famílias dependentes de nossos resultados e do nosso poder de reação diante do que estávamos vivendo
Naquele momento o que eu tinha eram incertezas e uma equipe muito boa, que eu queria preservar, continuar a incentivá-la e manter engajada como sempre fiz. A valorização da gestão de pessoas está no DNA da minha empresa antes mesmo da crise, mas agora o desafio era fazer isso “de longe”.
Depois de muito pensar coloquei em prática algumas ações de relacionamento à distância que foram desde workshops, happy hours virtuais e team building híbrido até uma entrega-surpresa de itens para um almoço em família. Nesta última ação, eu mesmo pilotei o fogão para enviar os quitutes — e fiz tudo com muito carinho.
Recebi até a ligação da mãe de uma colaboradora agradecendo, orgulhosa pela filha trabalhar conosco. Fiquei muito feliz por ter sensibilizado e dado mais leveza àquela família em um momento tão pesado.
As ações ganharam repercussão externa e inesperada entre amigos e clientes. Foi aí que percebi um novo caminho. Depois de revisar o business plan escrito em dezembro de 2019, refazer contas, entender quanto tempo nosso fluxo de caixa sem novos negócios nos permitiria sobreviver, resolvi dividir o time em três equipes para analisar a viabilidade do projeto que eu tinha em mente.
Uma das equipes foi responsável por “desenhar” o possível novo negócio e pensar em opções que coubessem em todas as organizações. Outra, por fazer uma rápida pesquisa de mercado para entender a aceitação desta nova proposta. Aliás, foi a partir daí que nasceu nosso primeiro pedido, antes mesmo do produto estar pronto. E o terceiro grupo partiu para o planejamento e desenvolvimento do novo plano.
Decidi entregar às pessoas uma nova forma de interação apresentando: conveniência, simultaneidade, eficácia, participação conjunta, engajamento e experiência. E assim, em meio à pandemia, criamos a BoXXperience, com o objetivo de provocar os sentidos, mobilizar conexões e sociabilidade.
Nossa plataforma on demand de experiências imersivas “in house” tem como principal objetivo conectar empresas aos stakeholders internos ou externos com uma estratégia presencial e inovadora.
Em nossas caixas, pode estar uma viagem lúdica para qualquer destino — com cenários imersivos, degustações típicas de aromas e sabores através de gastronomia temática e performances artísticas — até uma reunião de trabalho virtual com momentos de reconhecimento da equipe, team buildings híbridos ou mesmo aquele famoso coffee break.
O fator “WOW!” certamente não está dentro da caixa que chega às mãos dos clientes, mas sim, quando o momento mágico está acontecendo no meio da casa deles!
O que vai dentro da caixa monta apenas o pano de fundo, pois o projeto coloca as pessoas no centro da ação. É um produto de interação humana à distância. Confesso que me realizei com tal definição.
Uma equipe motivada e todos juntos para fazer acontecer. Agora, além de sermos especialistas em eventos e incentivos, nos tornamos especialistas em Customer Experience, algo que fará toda a diferença nos próximos 10 anos da empresa.
Para colocar o novo planejamento em prática fui obrigado, por questões burocráticas, a abrir um novo CNPJ para me adequar às questões fiscais e agora tenho uma startup!
A BoXXperience nasceu com DNA de startup porque exigiu uma pivotagem muito rápida, um time enxuto e dedicado a colocar a ideia em prática e testar com alguns clientes para aprimorarmos o produto e ganhar escala
Esse pensamento ágil e a execução “fail-friendly” garantiu que a gente conseguisse entender rapidamente nossos gargalos de produção e buscar especialização, mantendo nossa premissa de entregar uma “experiência” para nossos clientes e não apenas uma entrega de produtos como um delivery simples. E experiência envolve surpreender, cuidar, atiçar sentidos, gerar lembranças boas, oferecer um conteúdo exclusivo. T
Os primeiros resultados foram animadores e permitem fazer projeções bastante otimistas, ainda mais quando o mundo sofre com fechamentos de empresas, demissões em massa e uma corrida desenfreada pela venda do mesmo produto para os mesmos clientes
Não se trata de inventar a roda ou criar um produto “megablaster” inovador. Mas envelopar experiências para ir além do universo digital e transformar a maneira de entregar emoções através de um pensamento lateral e fora da curva, conectando o novo e o criativo.
Nosso objetivo: agregar valor por meio de parcerias estratégicas para impactar quem precisa voltar a acreditar que é possível se adaptar a esse novo momento tão diferente para todos.
Estamos felizes em ver nossos esforços chegando na casa de colaboradores, distribuidores, clientes e parceiros com surpresas agradáveis, entretenimento na medida e informação qualificada. Como a gente fala por aqui: “cabe tudo dentro de uma BoXX”.
Eu não poderia imaginar que uma solução inicialmente interna fosse repercutir tão bem ao ponto de virar o meu carro-chefe e o dos meus colaboradores.
Entendi em 49 dias, tempo entre a ideia e o lançamento do projeto, que não era possível esmorecer… Era obrigatório se reinventar e garantir o emprego da maior quantidade de pessoas do meu time, assim como o equilíbrio econômico da operação para os investidores e, principalmente, me manter motivado para sair da cama todos os dias e tornar este desafio uma realidade!
E aprendi também que quando trabalhamos com paixão, em equipe e com sangue nos olhos, não há deadline que não se cumpra, não há projeto que não seja viável e, principalmente, que podemos criar algo diferenciado, sem precisar copiar ninguém.
O grande segredo é estarmos juntos. Afinal, aquele grande evento e a inesquecível viagem de incentivo voltarão a acontecer, é nisso que acredito. O face to face será retomado, mas os eventos a as experiências virtuais não sumirão do mapa com a vacina da Covid-19.
Renato Amaral, 42, é engenheiro e empresário. Atua há 26 com logística de eventos e viagens de incentivo. Atualmente, é CEO da TSB MICE e idealizador da BoXXperience.
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