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“O Giulia é uma plataforma de comunicação da pessoa surda com a sociedade”

Bruno Leuzinger - 26 jul 2016
Sensores no bracelete captam sinais elétricos dos músculos e enviam os dados via bluetooth para um aplicativo
Bruno Leuzinger - 26 jul 2016
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“Imagine uma pessoa surda no restaurante perguntando ao garçom, por meio de gestos: onde fica o toalete? Ou no tribunal – quando não há um intérprete, como os deficientes auditivos podem dar sua versão dos fatos? São pequenos grandes detalhes que criam situações às vezes esdrúxulas. Numa batida, o policial manda parar, o surdo não escuta, e o policial atira. No hospital, ele não consegue informar que tem alergia a um medicamento e o médico prescreve o remédio, podendo levar à morte. Então, nós começamos a trabalhar nisso.”

Cientista, engenheiro elétrico, consultor e fundador de uma empresa de automação, o professor amazonense Manuel Cardoso é também o criador do Giulia, um bracelete com sensores que captam sinais elétricos dos músculos do antebraço e da mão (como nos movimentos da Língua Brasileira de Sinais, ou LIBRAS) e envia os dados via bluetooth para um aplicativo de celular, que usa inteligência artificial para sintetizar a informação em voz eletrônica. O aparelho está em fase de testes com 100 usuários em Manaus – e o projeto é um dos 12 selecionados do Braskem Labs 2016, o programa de aceleração de empresas com soluções sustentáveis em frentes como saúde, moradia e mobilidade.

“O Giulia é uma plataforma de comunicação do surdo com a sociedade. E, a gente acredita, um ponto de inflexão na história dessas pessoas”, diz Cardoso. O aparelho vibra ao reconhecer um choro de criança e aciona o SAMU a partir de um gesto, informando a deficiência e as alergias do usuário. Um acelerômetro e um giroscópio detectam a posição espacial do movimento, enquanto algoritmos compensam as discrepâncias (“algumas pessoas fazem gestos mais rápidos ou mais lentos, assim como a minha voz é diferente da sua”). O professor estima o público-alvo da tecnologia assistiva em 2 milhões de pessoas. “A preocupação agora é como estruturar isso em uma empresa para atender essa população.”

Crescer midiaticamente e conquistar oportunidades de networking são as expectativas de Jorge Coelho, dono da ÚNICO Asfaltos, outra selecionada do Braskem Labs 2016. Com sede em São Paulo, a empresa criou uma mistura asfáltica inovadora. “O asfalto tradicional só pode ser produzido próximo do local onde será aplicado, dificultando a logística de transporte”, diz Coelho. “Existe também a necessidade de ser aplicado quente, o que torna inviável a aplicação em dias de chuva e solo úmido. O nosso asfalto pode ser ensacado e estocado – e aplicado em qualquer quantidade e condição climática.” Esse diferencial favorece o custo-benefício do produto, que a empresa comercializa no varejo.

Coelho, um publicitário de formação que iniciou sua vida profissional em uma marmoraria, resolveu inovar também no modelo de negócio. Num país de ruas e estradas esburacadas e onde a instabilidade no emprego e o desejo de ser chefe de si mesmo levam cada vez mais gente a buscar no setor de franchising um possível caminho para a independência econômica, o fundador da empresa juntou esses dois aspectos e, em 2014, criou um modelo de franquias. Dessa forma, ele atrai empreendedores de pequeno e médio porte interessados em entrar num mercado dominado por grandes empresas de infraestrutura, ao mesmo tempo em que ganha competitividade expandindo seu raio de ação.

Capacitar os empreendedores a alavancarem seus negócios é uma das missões das mentorias do Braskem Labs, que vão até outubro. Novidade da edição 2016, a categoria de combate inteligente ao Aedes aegypti foi preenchida por duas empresas. Uma delas é a Aya Tech, desenvolvedora do Protec – um repelente aplicado não sobre a pele, mas sobre a roupa. “O Protec é um protetor que adere à fibra têxtil e funciona como uma barreira física contra o inseto. O mosquito se aproxima, sente o princípio ativo pela antena e vai embora”, diz Fernanda Checchinato, fundadora da startup. O produto também pode ser borrifado em outras superfícies de tecido, como sofás, tapetes e cortinas.

Engenheira química com mestrado e doutorado em engenharia de materiais, Fernanda garante que o Protec resiste a pelo menos 20 lavagens – e evita 99% das picadas do mosquito transmissor da dengue, da zika e da chikungunya (a fundadora serviu pessoalmente de cobaia em testes realizados em parceria com um professor da Unicamp). Para chegar ao produto final, usou recursos próprios e precisou driblar a desistência da sócia e de um grupo de investidores, além de adquirir novos conhecimentos. “Havia todo um know-how que eu não tinha, a válvula, o jato… O lote piloto ficou pronto no início de 2014, mas veio com muito líquido para a quantidade de gás. Precisei redimensionar.”

A produção é toda terceirizada, e o transporte cabe a uma transportadora. Sem contar com uma equipe de marketing, Fernanda ainda está descobrindo seu nicho de mercado (hoje, ela vende sobretudo em farmácias, mas o primeiro cliente foi um motel – afinal, ninguém quer interromper a diversão por causa de um pernilongo). “Às vezes alguém pergunta: em que gôndola coloco o Protec, ao lado dos inseticidas ou dos repelentes dérmicos? Até para nós existe dificuldade, porque é um conceito novo. Espero que o Braskem Labs me dê visão de como consolidar a marca e posicionar o produto.”

 

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