O Leve Cafeína quer democratizar o acesso aos cafés especiais e revitalizar o centro de Floripa

Marília Marasciulo - 21 fev 2018O interesse de Gustavo por grãos de café especiais surgiu em 2005, durante uma temporada nos Estados Unidos.
O interesse de Gustavo por grãos de café especiais surgiu em 2005, durante uma temporada nos Estados Unidos.
Marília Marasciulo - 21 fev 2018
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Uma pequena porta preta na quadra da Rua Felipe Schimidt, principal calçadão de comércio no centro de Florianópolis, destoa do restante das lojas. A fachada minimalista com uma imagem de uma xícara e o nome Leve Cafeína indica o que se encontra por ali: café pronto para levar. No balcão, algumas opções de lanches, como pão de banana, focaccias, paninis, cookies recheados de brigadeiro, brownies e só. Mais do que ser a primeira loja de café “to go” da cidade, o negócio tem um objetivo ambicioso: democratizar o acesso a cafés especiais e trabalhar para mudar a cara do centro da cidade.

“A estética de Florianópolis, principalmente a do Centro, onde cresci, sempre me incomodou. Tirando a beleza natural, ela não inspira a nada”, diz Gustavo Pamplona, 34, dono do café. Segundo ele, o que surge de mais legal costuma ficar nos bairros com maior poder aquisitivo. “Por que o centro não merece? Eu queria mudar essa ideia.” Para isso, uniu o útil ao agradável. Seu pai cedeu o pequeno espaço antes ocupado pela lotérica da família e ele, que há tempos queria abrir um café, apostou no que dava para fazer ali. Meio às pressas, investiu 150 mil para montar o negócio em seis meses e abriu as portas em julho de 2017.

UMA PAIXÃO ANTIGA

O interesse de Gustavo pelos grãos começou em 2005, quando passou uma temporada nos Estados Unidos e se encantou com os cafés nova iorquinos. Teve início  aí uma jornada na busca por sabores e formatos de negócios que o inspiravam. Foi a Copenhague, Berlim, Oslo, Viena e Londres para experimentar in loco o que mais lhe agradava. Conheceu também torrefações brasileiras – quanto mais fresca for a torra dos grãos, ele explica, mais saboroso o café. E chegou ao cardápio do Leve Cafeína: receitas geladas, como o expresso tônica, o affogato, o latte e o mocha e quentes, como os coados na cafeteira Bunn ou na Bee House. Todos são feitos com grãos de fazendas do Espírito Santo e de Minas Gerais, torrados em São Paulo a cada 15 dias, e com preços que variam de 7 a 10 reais. A paixão dele é uma certeza, agora a ideia de que brasileiro ama café não é tão verdadeira, como conta:

“Não temos tanto costume assim de beber. Por ano, o brasileiro consome em média quatro quilos de grãos, enquanto os nórdicos consomem dez”

Além disso, ele diz que há falta de costume por aqui de tomar café na rua e estranhamento em relação às receitas geladas. “Foi um desafio bem grande no início, mas fiz questão de me manter fiel à proposta.” Para conquistar clientes, Gustavo não perde oportunidades de explicar para quem dá abertura o porquê do cardápio, dos preços mais altos que o normal e da falta de lugar para sentar – algo comum no exterior, mas ainda pouco usual por aqui. Tem funcionado. Atualmente, o Leve Cafeína realiza cerca de 70 vendas por dia e está próximo de alcançar o ponto de equilíbrio, com um faturamento mensal de 13 mil reais.

Gustavo montou o Leve Cafeína no pequeno espaço cedido pelo pai.

Gustavo montou o Leve Cafeína no pequeno espaço cedido pelo pai.

Gustavo pegou mesmo o gosto por café e por tornar o centro da cidade mais especial, nem que seja de portinha por portinha.Para o próximo ano, quer trabalhar para revitalizar a quadra onde fica o Leve Cafeína (e, por que não, o restante do calçadão). Ele chegou a tentar fazer o pedido via prefeitura, mas a burocracia o fez desistir. Resolveu partir para a iniciativa privada e está em contato com o arquiteto de um escritório famoso da cidade para tirar da gaveta um projeto antigo de urbanizar o espaço de forma modular. Funcionaria assim: cada lojista contribuiria para o trecho em frente ao seu estabelecimento.

ERROS DE PRINCIPIANTE

Outro  projeto é abrir uma micro torrefação com mais dois amigos no Kobrasol, região central de São José, cidade vizinha no continente, e se tornar referência na venda de cafés especiais ensacados. Mais uma vez, ele uniu o útil ao agradável, pois isso vai ajudar a reduzir o custo final do produto, uma de suas principais preocupações. Atualmente, ele paga em média 70 reais no quilo do café. Se pudesse torrar os próprios grãos, o valor cairia para cerca de 15 reais, sem os custos da torra (uma saca com 60 quilos de grão de café especial com preço mais acessível sai por entre 800 e 1.000 reais).

O principal calçadão de comércio no centro de Florianópolis, que Gustavo sonha em revitalizar.

O calçadão de comércio no centro de Florianópolis que Gustavo sonha em revitalizar.

A preocupação com o preço não se deve apenas ao fato de ele querer tornar os cafés especiais mais acessíveis ao público em geral. Tem um pouco a ver com a falta de organização no começo da loja. Na empolgação e pressa para montar o Leve Cafeína, Gustavo cometeu o erro de não elaborar um plano de negócios e fazer a precificação correta. Foi tudo meio na intuição, ele diz . Além do alto valor dos grãos, o DNA da marca de ser “to go”, se por um lado ajudou a reduzir custos com o espaço, por outro trouxe um gasto inesperado: os copinhos para levar. Cada embalagem grande com tampa custa 60 centavos e pesa bastante no bolso de Gustavo.

Essa loucura toda, como ele define, deu certo principalmente por causa do “paitrocínio”, que não cobrou aluguel no início. Mas assim que se estabilizou, Gustavo buscou ajuda da Empresa Júnior da Escola Superior de Administração e Gerência (ESAG), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). “Eles que me disseram que se eu vender uns dez cafés a mais por mês chego ao ponto de equilíbrio, o que me deixou bem mais tranquilo. Tenho medo de ter que aumentar muito o preço e assustar as pessoas”, diz.

Um custo que precisa ser revertido no negócio: o alto custo das embalagens.

Uma despesa que precisou ser revertida: o alto custo das embalagens.

Também encontrou uma solução simples e sustentável para driblar o valor das embalagens: copos reutilizáveis e desconto para quem levar o próprio copo, algo que pretende colocar em prática em breve. A partir do mês que vem, Gustavo vai passar a pagar um aluguel de 2 mil reais por mês. Embora o valor ainda seja simbólico, visto que o mesmo espaço na região não sai por menos de 5 mil, já é o primeiro sinal de que as coisas estão indo bem.

Ao contrário da maneira apressada como montou o negócio, ele tem paciência para ver a cena do café especial pegar. “Não adianta ter pressa porque não vai ser assim do dia para a noite”, diz. Por enquanto, ele segue otimista com seus planos de contribuir tanto para popularizar os cafés especiais quanto para embelezar a arquitetura da cidade. “Vi muita coisa parar por causa do pessimismo de que não vai dar certo, mas de que adianta só reclamar?”, complementa. Melhor que isso, só um cafezinho – para levar, claro.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Leve Cafeína
  • O que faz: Cafés especiais para levar
  • Sócio(s): Gustavo Pamplona
  • Funcionários: 3 (contando com o fundador)
  • Sede: Florianópolis
  • Investimento inicial: R$ 150 mil
  • Faturamento: R$ 13 mil por mês
  • Contato: [email protected]
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