Como diz aquela famosa propaganda: “agro é tudo”. Logo, considerando a afirmação verdadeira, é possível afirmar que a agricultura também pode ser uma atividade que, em vez de causar danos ambientais e prejudicar biomas, se insere no ciclo da natureza sem obrigatoriamente causar impactos negativos.
Como o próprio nome diz, esse tipo de cultivo prioriza a regeneração dos solos ocupados para produção, bem como a manutenção do equilíbrio ecológico do ambiente em que se instala. Há quem amplie o conceito para além da esfera ambiental, avaliando impactos sociais e econômicos decorrentes da atividade agrícola para caracterizar o agro como regenerativo – e alinhado a uma agenda ESG.
Os resultados esperados de uma prática agrícola regenerativa, portanto, envolvem, além da preservação do solo e da promoção de biodiversidade, a manutenção do ciclo da água, o sequestro de carbono, a segurança financeira e alimentar das famílias envolvidas com o cultivo e outros fatores socioambientais e econômicos benéficos – tudo isso sem deixar de produzir alimentos nutritivos e que resultem em lucro.
O termo é atribuído ao jornalista e editor Robert Rodale no início dos anos 1980. O norte-americano defendia que os sistemas naturais fossem restabelecidos em áreas de cultivo agrícola.
Em seu artigo Breaking New Ground: The Search for a Sustainable Agriculture (“Desbravando novas terras: a busca por uma agricultura sustentável”, em tradução livre), de 1983, Rodale afirma que:
“Os métodos agrícolas convencionais tentam dominar a natureza. Essa abordagem está levando os agricultores à autodestruição. Se os agricultores usarem a agricultura regenerativa, a agricultura passaria de uma batalha contra a natureza para a arte de encorajar a natureza a liberar o máximo de benefícios para o uso humano com o menor esforço possível.”
Sim. Embora a definição seja muito ampla, uma agricultura pode ser considerada regenerativa se alia produtividade com recuperação do solo, preservação do ambiente, conservação de espécies polinizadoras, captura de carbono e retenção de água no solo.
Esses objetivos podem ser alcançados por meio inúmeras ações, como:
– Diminuição do uso de arado;
– Redução do uso de defensivos (agrotóxicos);
– Manter árvores e outras plantas nas áreas de pastagem;
– Introduzir plantas de cobertura nas áreas de cultivo;
– Promover rotação de culturas;
– Zelar pelo bem-estar animal;
– Oferecer condições dignas de trabalho no campo.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) cinco princípios servem como orientação para implementar uma agricultura sustentável e a segurança alimentar no planeta:
1. Aumentar a produtividade, a taxa de emprego e adicionar valor aos sistemas de produção alimentar;
2. Proteger e melhorar os recursos naturais;
3. Melhorar os meios de subsistência e promover a inclusão e o crescimento econômico;
4. Aumentar a resiliência de pessoas, comunidades e ecossistemas;
5. Adaptar a governança a novos desafios.
Mais objetivamente, o documento Transforming Food and Agriculture to Achieve the SDGs (“Transformando Alimentos e Agricultura para Alcançar os ODS”, em tradução livre) propõe 20 medidas práticas para contemplar esses itens, todos alinhados a pelo menos um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU):
1. Facilitar o acesso a recursos produtivos, finanças e serviços
2. Conectar os pequenos produtores aos mercados
3. Incentivar a diversificação da produção e da renda
4. Promover o conhecimento dos produtores e desenvolver suas capacidades
5. Melhorar a saúde do solo e restaurar a terra
6. Proteger a água e gerenciar a escassez
7. Integrar a conservação da biodiversidade e proteger as funções do ecossistema
8. Reduzir perdas, incentivar a reutilização e reciclagem e promover o consumo sustentável
9. Empoderar as pessoas e combater as desigualdades
10. Promover direitos de posse seguros
11. Usar ferramentas de proteção social para aumentar a produtividade e a renda
12. Melhorar a nutrição e promover dietas equilibradas
13. Prevenir e proteger contra crises: aumentar a resiliência
14. Preparar-se para reagir a crises
15. Abordar e adaptar-se às mudanças climáticas
16. Fortalecer a resiliência do ecossistema
17. Reforçar o diálogo e a coordenação de políticas
18. Fortalecer os sistemas de inovação
19. Adaptar e melhorar o investimento e as finanças
20. Fortalecer um ambiente propício e reformar a estrutura institucional
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