por Paulo Loeb
Há 20 anos, estive em Israel como turista. Visitei todos os locais sagrados de Jerusalém, mergulhei no Mar Vermelho, fiquei uma semana em um kibutz e outra em Tel Aviv. Jamais pensei que voltaria a trabalho para lá. Ainda bem que me enganei.
No mês passado, participei com um grupo de 30 pessoas do Lahav Executive Education, um programa de três dias criado pela Universidade de Tel Aviv. Inspirado na leitura do livro Nação empreendedora – o Milagre Econômico de Israel e o que Ele Nos Ensina, fui com a cabeça aberta para entender a razão pela qual tanta gente diz que o próximo Silicon Valley será nesse país tão distante e que tinha tudo para não dar certo: deserto para todos os lados, população de apenas 8,5 milhões de habitantes, território menor do que Sergipe, guerras constantes com países vizinhos. O livro explica profundamente as causas desse fenômeno, mas nada como presenciar as cores e os sabores in loco.
Não é de se admirar que a educação seja um pilar extremamente importante no contexto de Israel. Doze prêmios Nobel vieram de lá, oito somente na última década. Para começar, 9,2% do PIB do país é investido em educação. O país tem 140 engenheiros a cada dez mil habitantes, contra 85 nos Estados Unidos e 65 no Japão. A proximidade entre universidades e indústrias é notável: muitas vezes participam conjuntamente de iniciativas privadas. Por exemplo, a Universidade Hebraica de Jerusalém já recebeu, desde a sua fundação, em 1964, oito bilhões de dólares em licença de produtos e serviços vendidos.
Sete dos vinte e cinco remédios mais vendidos no mundo têm participação direta do Instituto Weizmann. Ao conversar com uma garota de dezesseis anos, descobri que somente aos sábados eles não vão à escola (domingo é dia útil em Israel). Em um inglês fluente, ela me contou que está desenvolvendo um projeto de robótica e é mentora de alunos mais jovens com dificuldade de aprendizado. Uau!
Ainda no quesito educação, outra informação me impressionou: na década de 1990, houve a imigração de 1 milhão de pessoas da antiga União Soviética, representando um aumento de 20% da população em apenas três anos! Em geral, gente muito qualificada profissionalmente: 20% engenheiros, 3% cientistas. O país conseguiu absorver de maneira rápida grande parte dessa mão-de-obra capacitada no mercado de trabalho. Os talentos ficam. Diferentemente do que ocorre com grande parte de nossos melhores cientistas, que vão trabalhar em universidades norte-americanas, as mentes brilhantes permanecem em Israel.
Cada vez mais, empresas de ponta criam centros de pesquisa e desenvolvimento. Por exemplo, a subsidiária israelense da Intel emprega 7 mil pessoas, possui duas fábricas e quatro laboratórios. Neles, foram desenvolvidos alguns dos processadores Pentium, Centrino e Duo Core. Diversos sistemas operacionais da Microsoft também foram desenvolvidos pela equipe de seiscentos funcionários da operação local. Desde o ano 2000, a HP investiu 2 bilhões de dólares na aquisição de empresas e tecnologia israelense. A lista segue.
É fácil fazer negócio. A burocracia é baixa, o governo fomenta o empreendedorismo. Não por acaso, vi alguns grupos de chineses e japoneses andando pelas ruas de Tel Aviv
Descobri, na viagem, que eles são hoje o segundo maior parceiro econômico de Israel. Estão comprando tudo: a Rakuten adquiriu o Viber por 900 milhões de dólares e a Bright Food levou a Tnuva por 2,5 bilhões de dólares. No total, são mais de dez bilhões de dólares em transações. Assim como achei curioso ver os grupos asiáticos passeando por lá, foi igualmente interessante visitar a OurCrowd, uma empresa de tecnologia e investimento financeiro que fica a poucos metros das sinagogas, mesquitas e igrejas de Jerusalém.
Entre templos e milhares de anos de histórias, jovens empreendedores estão literalmente mudando a forma de investir-se em startups no mundo inteiro. Na mesma Jerusalém, depois de comermos os melhores homus (pasta de grão-de-bico) do mundo, visitamos a Mobileye, que vem colocando olhos eletrônicos nos automóveis. Segundo os seus representantes, os acidentes serão cada vez mais raros a partir do momento em que os carros tiverem dispositivos de inteligência artificial acoplados em seus sistemas operacionais.
O “jeitão” sem papas na língua do israelense também ajuda na esfera dos negócios. Chamado de chutzpah, palavra em iídiche de difícil tradução, esse termo significa um certo atrevimento, coragem e baixa tolerância com o “enrolation”. Pode ser confundido com insubordinação ou até falta de educação, mas, conhecendo ao vivo, nota-se que é um ganho importante de tempo e eficiência.
Em bom português, trata-se de um povo direto e reto. Não gostou? Reclame. Não está bom? Mostre como fazer melhor. O seu chefe é ruim? Fale com o chefe dele. Garanto: funciona
O país é pequeno, mas a visão é grande. Tive a oportunidade de ver uma nova cidade universitária sendo criada, a Gav-Yam Negev Advanced Technologies Park, ao lado da Universidade Ben-Gurion. Considerando o planejamento urbano, nunca tinha visto algo tão grandioso: dezenas de prédios, sistemas de transporte e planejamento de longo prazo. Ao me dar conta de que tudo isso está ocorrendo agora em uma cidade chamada BeerSheva, no meio do deserto de Negev, a dimensão aumenta. É surpreendente ainda notar que a empresa Netafim, criada dentro do kibutz Hatzerim, hoje figura como uma das principais referências mundiais em irrigação eficiente. É ainda inacreditável ver as árvores, pássaros e flores no meio do deserto.
Muito mais vi por lá: gente esforçada e energia onipresente para fazer o país dar certo. Escrevo este texto com o objetivo de permitir que mais pessoas tenham acesso ao conhecimento que obtive. A Missão Econômica de Israel é a principal referência nesse assunto e busca fomentar cada vez mais a interlocução comercial entre os nossos países. Agradecimento especial ao Eduardo Wurzmann, que liderou a viagem de forma tão profissional e com chutzpah, “pero sin perder la ternura”.
Paulo Loeb, 40, é sócio e head de negócios da F.biz.
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