Neste ano, com a chegada do Setembro Amarelo, nos mobilizamos para trabalhar em mais uma campanha do CVV, o Centro de Valorização da Vida.
Desta vez, porém, foi uma experiência completamente diferente das anteriores.
Digo isso por dois motivos: foi a primeira vez que trabalhamos com uma campanha de cunho emocional; e a primeira vez que entregamos um filme de campanha.
Sempre trabalhamos a partir de pautas quentes ou formatos em alta que nos ajudassem a trazer o assunto à tona – mas neste ano foi a primeira vez que contamos com uma entrega audiovisual de fato
Tudo isso com o mesmo desafio de sempre e zero de investimento ou patrocínio.
Começamos a falar sobre a campanha em julho. Então, foi mais ou menos um mês pra pensar na ideia, apresentar pro board do CVV, começar a produzir e lançar tudo.
Falando sobre a parte emocional: neste ano, escolhemos abordar o tema em um ângulo um pouco mais íntimo.
No mundo todo, há um suicídio a cada 40 segundos. Esse é um dado muito poderoso, e resolvemos partir dele – mas sentíamos que ainda faltava conexão com a pessoa que está assistindo.
Então, quando pensamos na pessoa que a gente mais ama, todos podem se conectar, identificar e sentir muito mais. Foi daí que chegamos na pergunta que destravou toda a ideia desse ano:
“E se você tivesse apenas 40 segundos para impedir que alguém que você ama tire a própria vida?”
Seguir por esse caminho foi interessante e ao mesmo tempo desafiador. Porque, para funcionar, precisávamos de depoimentos reais de pessoas, além de um estúdio e equipe para captar tudo isso.
Eu acho que todas as pessoas naturalmente são sensíveis ao tema – mas as situações que vivenciamos fazem com que tenhamos mais sensibilidade ao assunto.
No meu caso, tive um amigo muito próximo que tentou se suicidar mais de uma vez. Cuidei dele na época das tentativas, então talvez seja mais empático por conta disso
Começamos a acionar empresas de casting e nossa rede de apoio em busca de pessoas para o filme. Tentamos focar mais em atores/atrizes, principalmente por se sentirem mais confortáveis em frente a uma câmera.
Ter vivenciado essa tragédia em família não foi um pré-requisito. Mesmo assim, a grande maioria quis participar por ser mais sensível ao tema. E dentre os relatos, percebemos sim que havia casos de pessoas que tinham tentado cometer suicídio, gente que havia perdido pessoas próximas…
No fim, tivemos entre os participantes uma mistura de atores/atrizes e amigos/conhecidos. Esse mix acabou trazendo uma camada extra de sensibilidade para o filme
Conseguimos também um estúdio muito bacana no centro de SP (@phonofilmes no IG – vale muito conhecer o trabalho deles) que topou entrar com a gente, cedendo não só estúdio mas também a equipe para captação.
Outra parte que tornou a experiência ainda mais marcante foi o fato de ter feito o papel de diretor junto ao Eduardo Cabral e ao Bruno Simões durante a captação.
Trabalho com o Edu em campanhas do tema desde 2019 (ele, aliás, já escreveu a respeito aqui no Draft). A gente se conheceu na faculdade: fizemos Mackenzie e fomos da mesma gestão do diretório acadêmico. Depois disso, trabalhamos juntos na Peppery também. O Bruno foi outra amizade cultivada nos tempos de Mackenzie.
Já trabalhamos com filmagens antes, mas como todos vieram da área de estratégia, não é uma tarefa que costuma ficar a nosso cargo.
Depois de algumas semanas decupando e editando o material, chegamos no resultado esperado e nos planejamos pra subir a campanha no feed do CVV pontualmente à meia-noite do dia 10 de setembro, Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio
Não tínhamos ideia de como seria a recepção das pessoas, até porque tínhamos um mini doc com mais de 2 minutos e trinta segundos de duração em mundo de vídeos de 30 segundos e áudios na velocidade 1,5x.
Para a nossa surpresa, a campanha obteve mais de 4 milhões de views em 72 horas, somando o vídeo postado no feed do CVV e outro postado no @podpah. Além disso, tivemos mais de 19 mil compartilhamentos nas redes sociais – tornando esta a maior campanha digital do CVV até hoje.
Dentro desses 19 mil compartilhamentos orgânicos e espontâneos temos uma legião de celebridades, artistas e influenciadores que – no Dia Mundial de Combate ao Suicídio – se mobilizaram para compartilhar a ação e fazer da saúde mental um tema fortemente discutido no Brasil.
Nessa lista, mesclada por diferentes gerações, temos Ivete Sangalo, Lázaro Ramos, Hugo Gloss, Fabio Porchat, Evaristo Costa, Xuxa Meneghel, Kéfera, Letticia Munniz, Whindersson Nunes, Fernanda Gentil, Jojo Todynho, Flow Podcast, Podpah Podcast, Samanta Alves, Nicolle Merhy e muitos, muitos outros
Para Bruno Simões, publicitário envolvido na causa, “os números expressivos e a entrada de ícones da cultura e da internet endossam que o principal objetivo da ação foi concretizado: quebrar o tabu de falar de saúde mental de uma maneira humana, inclusiva e próxima”.
Para Edu Cabral, que representa a causa com grandes ações há seis anos consecutivos para o CVV, o principal não é visível aos olhos:
“Uma campanha como essa não é impossível de se fazer, mas sem nenhum real, o desafio é descomunal. Contamos sempre e apenas com capital humano, o terceiro setor é muito negligenciado e arrumar voluntários que topem ter ideias, filmar, editar, produzir e colocar no ar uma campanha que não tem garantia alguma de dar certo mostra que no fim, nosso maior capital nessas produções é o humano”.
Se eu, Thiago, pudesse destacar um desafio em específico nesse projeto, diria que foi o envolvimento na parte audiovisual. Como acabamos dirigindo esse filme, a carga emocional gasta nesse processo foi absurda
Porque a gente tinha que se conectar de verdade com as pessoas, a partir de uma escuta tão ativa que nos colocava muito em contato com as histórias – e isso foi muito difícil de aguentar.
Difícil de explicar, também. Foi uma mistura de sentimentos, algo entre o gratificante e o doloroso – tudo ao mesmo tempo.
Thiago Ito é head de estratégia, criação e conteúdo na DALE, agência integrada de comunicação. Tem passagens em agências como Peppery, Tech & Soul, entre outras.
Na infância, Marina Amaral teve de mudar a alimentação e se exercitar para lidar com o ganho de peso devido ao hipotireoidismo. Adulta, ela deu uma guinada na carreira e desenvolveu o Lia, uma plataforma para fortalecer o bem-estar feminino.
Nicolle Merhy, ou Cherrygumms, deixou a faculdade para ser jogadora profissional de videogame. Aos 27, ela é hoje CEO do time Black Dragons e ainda ajuda marcas a investir num mercado que deve faturar US$ 100 milhões no Brasil em 2024.
Como ajudar, de longe, as vítimas da catástrofe gaúcha? Morador de Campo Grande (MS), Caio Kaspary convocou um amigo e desenvolveu em três dias um chatbot no WhatsApp que coleta informações de pessoas afetadas pelas enchentes.