Nossa entrada no mundo das alergias alimentares começou como a de tantas outras milhares de famílias: criança alérgica com restrições e pais fazendo de tudo para que ela não se sentisse excluída.
Em fevereiro de 2002, eu e Rodrigo éramos dois estudantes de fisioterapia, na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, cheios de sonhos e vontade de fazer a diferença na vida das pessoas.
Nos casamos em 2011 e, em fevereiro de 2016, nasceu nossa primeira filha: Helena.
Como a maioria dos pais de primeira viagem, tudo era novidade naquela nova jornada. Mas eis que um evento virou nossa vida do avesso.
Durante o processo de introdução alimentar de Helena, quando ela tinha 8 meses, ao comer um purê de batatas preparado pela vovó Zezé, imediatamente os olhos e lábios dela incharam.
O corpo ficou todo vermelho e uma sequência interminável de espirros teve início. Percebi que minha pequena bebê estava com dificuldade para respirar
Entramos em pânico até recebermos o diagnóstico da pediatra: “Helena tem alergia à proteína do leite de vaca. A partir de hoje, nem você nem ela podem comer nada de leite ou derivados”, disse a doutora.
A limitação aplicava-se a mim também, já que na ocasião eu ainda amamentava.
A dor do diagnóstico ficou mais forte ao tentar encontrar produtos livres do alergênico.
Isso acontece mais do que se imagina, devido à dificuldade de leitura dos rótulos dos produtos, que muitas vezes são ilegíveis ou mesmo incorretos.
Segundo a última pesquisa realizada pela Anvisa a respeito do tema, 58% das rotulagens foram classificadas como insatisfatórias em relação a advertências sobre alergênicos.
Imediatamente, comecei a pensar em saídas para evitar que mais famílias enfrentassem o que nós passamos.
Atualmente, mais de 60 milhões de indivíduos sofrem algum problema deste tipo. Estima-se que, até 2030, metade da população brasileira apresente alergia a algum tipo de alimento.
Se pensarmos em pessoas com diabetes e hipertensão arterial, restritos ao açúcar e sódio, consequentemente, esse número já ultrapassa os 100 milhões habitantes.
Diante desse cenário, nasceu a NuRÓTULO, idealizada por mim, Maira Figueiredo, que ocupo os cargos de CEO e fundadora (Rodrigo é o COO).
O propósito da NuRÓTULO é promover a inclusão alimentar, facilitando a tomada de decisão de compra e o consumo consciente por pessoas com algum tipo de restrição alimentar — ou não. Digamos que o aplicativo é nichado, mas todos podem usar
Apesar de a startup só ter sido fundada em 4 de junho de 2020, tudo começou em 2017, quando conseguimos o investimento para o desenvolvimento do Produto Mínimo Viável (MVP).
Nesse protótipo, o aplicativo efetuava somente a leitura do código de barras dos produtos industrializados, a fim de identificar componentes alérgenos.
Dois anos depois, a GS1 Brasil (solução de padrões, entre eles o código de barras) atentou para nosso trabalho de responsabilidade social e nos concedeu um prêmio na área de sustentabilidade. E o que realmente ganhamos ali foi uma parceria que dura até os dias de hoje.
No início de setembro de 2021, demos mais um passo no caminho da inclusão das pessoas com restrição alimentar.
Atualizamos o aplicativo com a finalidade de encontrar lojas, restaurantes e profissionais de saúde capazes de acolher esse público da melhor maneira possível
Com a chegada de 2022 e a retomada dos eventos presenciais, foi a hora de botar o pé na estrada e apresentar nossa ideia para o mercado.
Com uma média de um evento visitado por mês, entre abril e julho conhecemos os principais players do setor.
Foi nessa época que encontramos outro parceiro vital em nossa trajetória: a FCJ Venture Builder. Por meio de suas verticais Varejo Ventures e Farma Ventures, nosso propósito de facilitar a vida de pessoas com restrição alimentar tornou-se cada vez mais próximo e completo.
Isso porque nosso escopo se ampliou e com a expertise dos amigos Giovanni Oliveira, Bruno Barbosa, junto a todo seu time da Farma, expandimos nossa atuação também para a leitura de rótulos de medicamentos.
Falando em amigos, não poderia esquecer também do Miller. Miller Augusto Martins é mais do que CTO e sócio, tanto para mim, quanto para o Rodrigo. É um parceiro que tem abrilhantado nossa empresa e também rotina.
Estamos trazendo para o Brasil, e quem sabe para o mundo, uma poderosa ferramenta na prevenção de sintomas relacionados à alergia alimentar e doenças metabólicas decorrentes dos maus hábitos alimentares
Não basta saber o que não pode ser consumido, é necessário saber o que consumir, onde encontrar e onde consumir. Queremos que as pessoas utilizem o app NuRÓTULO e, em um clique, recebam seus produtos, no conforto de suas casas.
Tem um relato que, até hoje, me emociona.
O projeto era novo ainda, tinha por volta de dois anos de existência, quando fomos procurados por Lucy Santos, uma mulher do interior da Bahia.
Sua filha convivia com diversas restrições alimentares e Lucy tinha muita dificuldade para lidar com essas limitações em uma cidade pequena. Sua mensagem em nossas redes sociais foi quase um pedido de socorro. E nós atendemos
Ajudamos no processo de download e configuração do aplicativo, explicamos o funcionamento e dali surgiu a ideia para uma implementação que veio pouco depois: a do cadastro de profissionais de saúde especializados em restrição alimentar no app para eventuais consultas.
Hoje, temos em nossa base pediatras, gastropediatras, alergistas, nutricionistas, psicólogos, entre outros médicos. Os usuários podem entrar em contato com eles através dos contatos cadastrados por eles mesmos para combinar um atendimento online ou presencial.
Nossa interação com a Lucy também ajudou a solidificar um pilar que já julgávamos imprescindível na NuRÓTULO: a gratuidade da plataforma
Para ela e tantas outras mães, cada centavo conta, e a democratização no acesso à saúde não pode ter nenhum tipo de barreira financeira.
Por isso, hoje, nosso modelo de negócio é o B2B2C.
A inspiradora de toda essa história, a Helena, virou nome do nosso API, que imputa e atualiza informações no Cadastro Nacional de Produtos da GS1 Brasil e dá vida ao formato omnichanel no interior das lojas.
Helena também dá vida a novos propósitos nossos, como o movimento #adrenalinaautoinjetavelja, no qual faremos parte de uma campanha nacional unindo todas as frentes em prol da comercialização da adrenalina na forma autoinjetável no Brasil.
Afinal, para pessoas com potencial reação anafilática, este pode ser o caminho mais seguro para evitar reações mais graves e até mesmo reduzir o índice de morte nos primeiros minutos de contato com alérgenos.
Helena tem hoje 7 anos e ainda sofre com reações alérgicas se tiver contato com a proteína do leite de vaca… Mas é uma criança extremamente alegre e divertida. Adora correr, dançar, brincar e comer, exatamente como qualquer outra criança da sua idade
E seguiremos trabalhando para que o futuro dela e de todos os afetados por restrições alimentares seja assim: repleto de opções seguras e liberdade de escolhas.
Maira Figueiredo é CEO e fundadora da NuRÓTULO.
