Quem trabalha em alguma corporação entende que nem sempre é possível dizer em alto e bom som a sua opinião sobre determinado tema. O medo de parecer pouco inteligente, desinformado, incompetente ou até mesmo desagradável é um freio para que funcionários não desenvolvam suas opiniões com transparência e não demonstrem, na verdade, quem são. Esta pressão é o que os especialistas chamam de falta de segurança psicológica no trabalho, um problema quase endêmico dentro das empresas.
Na definição da professora Amy Edmondson, da Universidade de Harvard, “segurança psicológica é a crença compartilhada pelos membros da equipe de que esta mesma equipe é um ambiente seguro para se tomar riscos interpessoais”. Segundo explicou Luana Gabriela, COO da Tribo, consultoria que faz parte do Grupo Anga, holding que desenvolve e investe em negócios orientados à geração de impacto socioambiental positivo:
“Sem uma integração do profissional e do indivíduo não há segurança: passamos 70% do nosso tempo dentro do ambiente corporativo. Não há como deixar de ser você mesmo durante tantas horas. A pressão se torna devastadora. As lideranças estão sendo chamadas para este cuidado: a integralidade dos funcionários”.
A seguir Luana falou à NetZero sobre esta pressão exercida no ambiente de trabalho, seus impactos e de que forma é possível quebrar este ciclo de falta de confiança.
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NETZERO: De que forma podemos descrever um ambiente de insegurança nas corporações?
LUANA GABRIELA: Isso acontece quando o colaborador não expressa o que pensa ou não faz perguntas, por exemplo. Ele não quer parecer ignorante, incompetente e, também para não parecer desagradável, deixa de fazer sugestões e colaborar efetivamente. Então ali cria-se um ambiente de silêncio, o que também impede a inovação. Não é mais um lugar de desenvolvimento ou de aprendizagem: está todo mundo ali com medo, inseguro. Não se trata de saúde mental – para ter saúde mental é preciso estar seguro.
Qual o impacto deste ambiente na performance da corporação?
É um impacto direto.
O que se vê na prática, em boa parte das empresas, é uma cultura de “coerção e imposição”, que faz com que uma grande parcela dos funcionários se sinta culpados, pressionados e por vezes, influenciados negativamente a aderir a um certo padrão de comportamento.
Acaba que os funcionários nesta situação não performam mais do que é esperado para seu papel, provavelmente não vão conseguir cumprir prazos, a empresa não terá mais inovação. E não haverá conforto no trabalho. Da mesma forma que, o excesso de segurança sem um direcionamento claro também pode gerar um impacto negativo.
Como assim?
A segurança psicológica precisa ser trabalhada com alta performance. Ou seja: em equipes, com direcionamento para onde se quer ir, quais as metas, os papéis de cada time. Sem clareza ou estrutura, não haverá assertividade e o resultado pode ser o oposto: colaboradores com excesso de segurança, porém sem nenhuma evolução, estagnados numa zona de conforto. O que também não é bom para ninguém. Em um ambiente com segurança psicológica bem trabalhada, o colaborador esta seguro para se arriscar, não se sente envergonhado. É a melhor versão do time, portanto, a entrega é de melhor qualidade. São pessoas que descobrem um significado maior por trás do seu trabalho, algo que vai além da remuneração financeira.
Mas na realidade prática do dia a dia não existe um receio do colaborador de perder o emprego se falar o que pensa?
Estamos assistindo a um movimento de demissão em massa e isso gera uma ansiedade quase automática. É como se o nosso cérebro entrasse no estágio de sobrevivência: a gente fica mais ansioso, mais reativo. Mas quando estabelecemos uma noção de coletivo, um time, a pessoa se sente mais segura inclusive para dialogar com confiança neste espaço. É preciso criar um espaço de confiança. Quando falamos em demissões, isso só aumenta a importância do cuidados das organizações. Não se trata do que será decidido. Não questionamos o que se faz e sim como se faz. Como o desligamento é feito, como ele vai ser comunicado, como o demitido vai ser encaminhado para outras vagas. É uma preocupação não apenas com quem sai como também com quem fica.
Qual é o sentimento de quem foi poupado da demissão? Há como ter segurança?
Se você estiver num espaço de segurança, uma decisão de desligamento não será novidade. Ela já estava sendo falada e preparada. Se já existia uma confiança, a demissão será encarada como mais uma etapa do trabalho. Caso contrário, isso vai impactar e pode se tornar irreversível, pois os funcionários travam, não se sentem seguros mais. Fica uma zona de apatia, não há mais nenhuma performance.
A recuperação destas pessoas precisam ser feitas junto com a liderança. Teria que reestabelecer toda a estrutura deste time para que elas voltem a se sentir confiantes e integradas. O líder precisa lembrar que, antes de tudo, ele é uma pessoa.
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