por Carlos Pitchu
Outro dia, uma querida colaboradora de muitos anos deixou nossa empresa para empreender um negócio inovador de organização de festas de casamento.
A mensagem de despedida por e-mail foi comovente, como não poderia deixar de ser, porém algo me chamou atenção. Com muita criatividade, o texto era uma sátira a este digníssimo Projeto Draft.
A nossa ex-redatora intitulou sua despedida da seguinte forma: “Como diria um blog hipster do momento, publicitária larga carreira de sucesso para realizar seus sonhos”.
Percebi que essa notícia é tão recorrente que está virando praticamente um meme e automaticamente refleti sobre mim e sobre minha própria carreira. Notei que em 2008 também passei por isso mas com uma pequena diferença.
A minha machete Draft seria, “Publicitário abandona carreira de sucesso e abre uma agência”. Parece um contrassenso, mas posso explicar. O fato é que larguei um salário confortável pra empreender, e escolhi montar uma agência do jeitinho que eu acreditava (a Salve, agência membro do Grupo ABC desde este ano).
Analisando meu “Título Draft” tão contraditório, pensei imediatamente em dois aspectos:
1) Empreender não é necessariamente a remediação da insatisfação. Estar frustrado muitas vezes é um gatilho pra isso, mas jamais será o motivo fundamental.
Criar o próprio negócio é uma escolha dolorosa. Uma montanha russa que vai do achar que fez a melhor escolha da vida até ter certeza que foi a pior besteira do planeta.
2) A segunda coisa é que a indústria da publicidade não é um celeiro de gente insatisfeita. Muito pelo contrário. Eu diria que é um celeiro de gente motivada até demais. Pessoas criativas em busca de tudo que é novo, incluindo novos meios de operar nesta tal nova economia.
Ouvi uma frase ótima que diz que publicidade é a profissão que você fica 10 anos tentando entrar e depois mais 20 tentando sair.
É verdade! Em parte pela inquietude dessa turma e em parte pelo fim do “modelo tradicional”. Aquele do glamour e egos exacerbados, combinados ao total desrespeito com tempo das pessoas. Esse está acabando de vez, ainda bem e até que enfim.
Aí que entra a minha opção por jogar tudo pro alto para abrir outra agência. A minha aposta foi na possibilidade de dar um novo significado para uma carreira que me repelia em alguns aspectos ao mesmo tempo em que me atraía muito por outros.
Eu e meus sócios começamos a modelar o negócio a partir de algumas indagações:
É possível usar nosso capital intelectual respeitando um novo código de valores sociais?
É possível ser publicitário sem ser fútil e ridículo?
É possível respeitar pessoas num nível extremamente rigoroso?
É possível definir um modelo econômico novo que não esteja prestes a caducar?
É possível dedicar parte do nosso esforço pra construir um legado?
É possível reter a nova geração de criativos e artistas que estão deixando agências para empreender na economia criativa?
É possível ser “venture capital intelectual” para alavancar nossos próprios projetos?
Dizer sim para tudo isso foi a base da concepção do nosso negócio digital que seguimos chamando de agência até hoje.
Assim como os editores desta publicação, que, em vez de chorar o fim das revistas de papel, criaram o brilhante Projeto Draft, estamos tentando reinventar uma agência e esta divertida carreira capaz de combinar arte, estratégia, estudos sociais, tecnologia, relacionamento, conscientização em massa e mobilização de pessoas para múltiplas finalidades.
Quando alguém atinge o auge do conforto e do sucesso de sua carreira, nem sempre a solução é largar tudo. Às vezes, basta reinventar tudo.
Carlos Pitchu é sócio e CEO da Agência Salve.
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