Quer ser um “amigo de aluguel”? No Rent a Local Friend você ganha para passear com turistas

Filipe Callil - 23 abr 2015
Que tal ter sempre um morador para te levar aos lugares mais legais da sua viagem? O Rent a Local Friend, de Alice Moura, propõe isso.
Filipe Callil - 23 abr 2015
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Você recebe um pedido de ajuda. Uma pessoa de outro país está a caminho da sua cidade e, como qualquer viajante, pretende conhecer lugares incríveis. A condição é “vivenciar uma experiência local”. Com certa autonomia para planejar o roteiro, sua missão é levá-la a um passeio que fuja de pontos turísticos. E aí, topa o desafio?

Enquanto você pensa no assunto (e sugiro que faça isso durante todo o texto), lá vai uma outra informação relevante: dá para ganhar dinheiro com essa ideia. Hoje, já existem mais de 3 000 “amigos de aluguel”, de diferentes países, cadastrados na plataforma Rent a Local Friend (RLF). A origem disso tudo se deve a uma jornalista brasileira que, meio na brincadeira, transformou em negócio algo que sempre amou fazer: descobrir lugares.

Alice Moura, 32, nasceu em São Paulo. Ainda na adolescência, se deu conta de que a sua percepção de mundo poderia ir muito mais longe. “Eu ainda estava no ensino médio quando fui morar na Austrália”, conta. Depois de um ano, retornou ao Brasil para estudar Relações Públicas. Não apenas estudou, como também conseguiu se ajeitar no mercado e trabalhar na área. Até que a vontade de ir embora, pela segunda vez, falou mais alto.

Em 2009, decidida a fazer um mestrado em jornalismo fora do país, ela se mudou para Londres, na Inglaterra. Foi então que os primeiros insights do que um dia se tornaria o RLF começaram a surgir. “Montei um blog chamado Local Life para falar de lugares que realmente valiam a pena conhecer. Dicas que dificilmente estariam em um guia de viagens.”

Alice em viagem à Índia. Ela transformou o que mais gostava em negócio.

Alice em viagem à Índia. Ela transformou o que mais gostava em negócio.

Com os estudos finalizados e uma tremenda saudade do calor, Alice foi viver em Lisboa, Portugal. Em pouco tempo, as publicações no blog ganharam mais audiência – e também sentido. “Na minha opinião, a cidade não se importava muito com os turistas. E eles, por falta de informação, ficavam rendidos a programas clichês, chatos e repetitivos. Os meus textos começaram a mostrar que tinham coisas muito mais interessantes para se fazer por lá”, diz ela. Os leitores não apenas entenderam o recado, como também começaram a pedir a companhia da escritora para ir até esses locais sugeridos. A resposta veio no título de um post:

“SE VOCÊ QUER QUE EU TE LEVE PARA PASSEAR, ME ALUGUE POR UM DIA”

Era para ser uma brincadeira. Era. “No começo, achava tudo muito bizarro. Quando postei isso, na verdade, queria dizer justamente o contrário de uma forma irreverente. Aquilo não fazia sentido algum pra mim”. Sorte a dela ter um amigo londrino, também jornalista, que pensou diferente.

Depois de visitá-la e se encantar com os lugares que pôde conhecer, ele publicou a história da amiga em uma revista inglesa na qual trabalhava. A reportagem fez com que os pedidos de “aluguel” se multiplicassem. Daí, não teve mais jeito. “Decidi abraçar a oportunidade e comecei a passear com turistas que buscavam experiências locais. Fiquei uns cinco meses lotada de trabalho”, conta. Na época, o valor cobrado era de 80 euros por 8 horas de passeio e 40 euros por 4 horas.

Em 2012, Alice resolveu morar no Rio de Janeiro. O blog já havia se transformado no site Rent a Local Friend. A partir desse ponto, ela decidiu que era hora de abandonar os passeios (ou deixar de “ser alugada” pelos turistas) para focar na estratégia e consolidação do seu negócio. Dessa fase em diante, outras pessoas começaram a ir a campo ganhar uns trocados ciceroneando turistas em Lisboa, Paris, São Paulo, Nova York, Roma e Miami. Os colaboradores recebiam os pagamentos diretamente com os viajantes e transferiam 30% do valor para a “chefe”. Mas tudo ainda de maneira bem informal.

No ano seguinte, a empreendedora conheceu o diretor de tecnologia do Catarse, Diogo Biazu. Foi o primeiro passo para transformar o serviço em algo realmente profissional. O especialista em códigos entrou para a sociedade e assumiu a frente de inovação da empresa que se formava. Aos poucos, a startup ganhou uma nova plataforma com muito mais ferramentas. Entre elas, um meio de pagamento online, o espaço para a troca de mensagens e uma ficha de inscrição para novos colaboradores.

Atualmente, a dupla possui mais três sócios: a diretora financeira Danielle Cunha e outros dois conselheiros que ajudam no planejamento estratégico do negócio. Para impulsionar o crescimento, os cinco fizeram uma capitação interna de recursos. O dinheiro foi utilizado, basicamente, para contratar funcionários e desenvolver um aplicativo mobile — que deve ser lançado ainda neste ano.

Alice à frente da equipe Rent a Local Friend, no escritório do Rio de Janeiro.

Alice (à frente) e parte da equipe Rent a Local Friend, no escritório do Rio de Janeiro.

 

Mesmo com as novidades, o modelo de negócio mantém-se o mesmo desde o princípio. Mas agora, além da comissão de 30% dos 180 dólares que são gerados, em média, em cada passeio, o site cobra uma taxa anual de 100 dólares dos Local Friends cadastrados. “Assim, permanece em nosso sistema apenas quem realmente está interessado em fazer parte”, afirma Alice. Gente interessada é o que não tem faltado. Já são mais de 3 000 colaboradores, espalhados em 100 cidades de diferentes países.

Basicamente, qualquer indivíduo pode se candidatar a uma vaga de “amigo local” e, depois de preencher todos os dados, aguardar a aprovação – ou não – feita pelos curadores do site. Mesmo não existindo um perfil padrão pré-estabelecido, é praticamente fundamental que a pessoa interessada tenha um certo domínio de outros idiomas (pelo menos inglês) e realmente goste do trabalho.

Por questões de segurança, a plataforma pede inúmeros documentos aos colaboradores. Inclusive, o número do passaporte. Os contratados também recebem reviews (avaliações) dos turistas após os passeios. E, além disso, alguns Local Friends da “velha guarda” costumam marcar encontros com os novatos de suas cidades para conhecê-los melhor.

Pegar um passeio e dar de cara com um turista chato, caloteiro, assediador ou até mesmo perigoso, em tese, é um risco que faz parte do jogo. Mas até hoje não houve problemas sérios nesse sentido. De todo modo, o Rent a Local Friend exige que toda a negociação do roteiro seja feita via sistema para poder ajudar em uma situação inesperada. Recomenda-se, também, que o ponto de encontro seja um local púbico como, por exemplo, o lobby de um hotel.

Após pouco mais de um ano de operação, praticamente todos os dias acontece pelo menos um tour do site. Este número costuma subir exponencialmente durante eventos importantes. Durante a Copa do Mundo ano passado, por exemplo, a busca pelo serviço cresceu 13 vezes. “Eram mais de 90 pedidos por semana e o site faturou 20 mil dólares somente naquele mês”, conta Alice. Ela está 100% focada no negócio e, no tempo livre, aproveita para curtir a filha Olivia, de oito meses, praticar yoga, meditar e conhecer lugares no Rio de Janeiro — cidade que a adotou e que ela não cansa de explorar.

Até o final deste ano, os sócios esperam alcançar a marca de 10 mil Local Friends e, proporcionalmente, aumentar também o faturamento da empresa. Nos planos também está conseguir uma nova rodada de investimentos, para expandir ainda mais esta rede virtual de amigos alugáveis pelo mundo.

QUER ALUGAR O SEU TEMPO?

No início do texto, te pedi para pensar em como seria estar no papel de local friend, certo? Explico: eu já um fui um deles. A primeira vez que ouvi falar do Rent a Local Friend foi em 2013. Como eu trabalhava em televisão e tinha uma rotina totalmente flexível, achei que seria interessante ser um “amigo local”. Durante um ano, realizei mais de 20 passeios em São Paulo com pessoas de diferentes países e culturas. Realmente, foi uma experiência incrível. Mais do que o dinheiro, valeram os contatos que pude fazer. Abaixo, listei os “bônus” e “ônus” que descobri na prática.

1) Ganhar dinheiro

Bônus: é uma grana relativamente fácil de se ganhar. Você passeia 4 ou 8 horas com uma pessoa e, assim que o período acaba, já está com o dinheiro em mãos. E estamos falando de dólar (que está valendo três vezes o real).

Ônus: se você está desempregado ou quer mandar o seu chefe para aquele lugar, sinto muito, o RLF não resolverá o seu problema. Da mesma forma que em um determinado mês podem aparecer dezenas de chamados, em outros, pode não rolar nenhum. Essa renda precisa ser encarada – sempre – como um extra.

2) Fazer passeios

Bônus: provavelmente, você vai começar a gostar mais da sua cidade e perceber que ela pode ser tão fascinante como qualquer capital europeia. Vale a pena aproveitar os passeios para observar os pequenos detalhes na ótica de um turista. E visitar os lugares onde sempre quis ir, mas que nunca teve tempo.

Ônus: é fundamental ter uma agenda bem flexível. Alguns “contratantes” podem ter algo já planejado para fazer e que nem sempre será no horário que você quer. Ah, e prepare-se para andar. Muito.

3) Praticar outro idioma

Bônus: não existe escola de idiomas melhor do que a vivência. Nesse aspecto, ser um Local Friend é praticamente fazer um intercâmbio sem sair do país. De forma amigável e natural, os visitantes vão te ajudar a ganhar mais vocabulário e a pronunciar melhor as palavras. No perfil de cadastro, você pode descrever em quais idiomas está apto a fazer os tours.

Ônus: se você não tem conhecimento suficiente para manter conversação em língua estrangeira, não vai ser legal. Pense que, durante o passeio, o seu “novo amigo” vai querer puxar assunto e conversar sobre tudo – como é morar na sua cidade, o que você gosta de fazer, quais as principais influências culturais da região etc.

Agora você já pode responder. Topa o desafio?

DRAFT CARD

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  • Projeto: Rent a Local Friend
  • O que faz: "Alugam" locais para ciceronear viajantes
  • Sócio(s): Alice Moura, Danielle Cunha, Diogo Biazus, Fred Paiva e Daniel Bento
  • Funcionários: 11 (incluindo os sócios)
  • Sede: Rio de Janeiro
  • Início das atividades: fevereiro de 2014
  • Investimento inicial: Aporte de capital e mão de obra, de valor não divulgado.
  • Faturamento: NI
  • Contato: [email protected] e [email protected]
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