“Queremos colocar as referências virtuais das pessoas a serviço de seus projetos no mundo real”

Daniela Paiva - 14 set 2015Ricardo Sangion, country manager do Pinterest no Brasil: "gosto de me manter ativo. Todo mundo acorda com as mesmas 24 horas no dia. Você decide se prefere assistir novela ou programar um novo site".
Ricardo Sangion, country manager do Pinterest no Brasil: "gosto de me manter ativo. Todo mundo acorda com as mesmas 24 horas no dia. Você decide se prefere assistir novela ou programar um novo site".
Daniela Paiva - 14 set 2015
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Por Daniela Paiva

 

Pense nos lugares mais cobiçados para trabalhar nesse mundaréu mobile e internético excitante que a vida contemporânea nos deu.

Agora pense em um quadro de cortiça “pinado” com aquelas tachinhas ao estilo do velho mundo offline. Se voltássemos a outras eras, o campineiro Ricardo Sangion, 39, teria um desses indicando cada uma de suas conquistas em alguns dos territórios mais desejados pelas novas gerações no âmbito profissional.

Ricardo Sangion é country manager do Pinterest no Brasil desde outubro do ano passado. A startup cultivada no Vale do Silício foi avaliada recentemente em 11 bilhões de dólares. Sua operação inclui nove escritórios além da sede na Califórnia – o do Brasil é o quinto fora dos Estados Unidos.

A plataforma faz uso dessa memória do quadro de cortiça com fotos e bilhetinhos pregados, aqui, em painéis digitais. Mas, está de olho no futuro, e busca se tornar um lugar de inspiração e compartilhamento de tudo o que é interessante. Hoje, conta com mais de 70 milhões de usuários.

A trajetória de Ricardo é como um desses painéis de inspiração. Antes do Pinterest, ele passou pela Microsoft. Por lá, atuou como gerente de desenvolvimento de negócios e estratégia da América Latina, com foco nas parcerias do Bing, sistema de buscas de serviço da empresa de Bill Gates.

Ele também já “pinou” outra empresa com status de “most wanted jobs”: o Facebook. Foi o primeiro funcionário contratado oficialmente para expandir a rede no país. Isso em 2010, quando a social network ainda não era a nossa amiga mais íntima.

E voltando lá atrás, Ricardo ainda trabalhou com comunicação e mobile em empresas como F.biz, Electronic Arts Mobile, Claro, Vivo, Telesp, entre outras.

Ricardo também criou junto com um amigo em 2004 o site Brejas, com 200 mil visitas por mês, de avaliação de cervejas. O projeto materializou-se em forma de Bar Brejas, em Campinas, do qual é sócio, cinco anos depois.

Até 2004, quando fez uma viagem para a Europa com amigos e descobriu que havia muito mais para além das nossas tulipas de chopp, Ricardo não curtia cerveja. Isso mesmo.“Meu pai e meu irmão falam: como é que você foi ficar com esse negócio de cerveja? Você nunca tomou cerveja na vida! Eu não gostava porque não conhecia as boas…”, diz.

Ricardo também engatou sociedade em outra empreitada, o Marauba Beach House, de hospedagem, na Praia de Itaipu, na Bahia. E trabalha em mais dois outros projetos: o Cervejômetro, um site comparador de preços, e o Hamburguerama, recentemente lançado, de avaliação de hambúrguer.

No bate-papo com o Draft, Ricardo falou sobre os primeiros passos do Pinterest no Brasil, os ensinamentos, a leveza da aceitação para a falta de solução definitiva para certos problemas, entre outros temas. Saúde!

 

Você ocupou posições cobiçadas no mercado mobile e de internet. Como chegar lá?

Algumas foram boas coincidências, outras aconteceram por procurar e ir atrás. No meu primeiro emprego em uma grande empresa, respondi um anúncio de jornal. É uma coisa que faço sempre: vejo o que tem de oportunidade, o que está aparecendo, o caderno de empregos… Também são os contatos que você faz na indústria. Participei de uma seleção no Google e a vaga foi congelada. Adicionei pessoas que falei no LinkedIn, uma delas tinha mudado para o Facebook e havia uma vaga aberta. As coisas deram certo, fiquei lá quase 3 anos, e fui para a Microsoft em um processo de headhunting. Foi a primeira vez que alguém bateu na porta. Já no Pinterest um amigo que trabalhou comigo no Facebook indicou. Mas, na Microsoft a pessoa só me encontrou porque eu tinha o perfil super atualizado no LinkedIn. Tem gente que não dá muito valor a isso, não atualiza as coisas, só põe onde trabalhou, não fala os projetos que fez.

Ao longo da sua carreira, volta e meia você concorreu com o Google. Como é isso?

Sim, sempre. É muito legal. O Google é uma super empresa. É desafiador. Quando comecei no Facebook, a rede tinha menos de 5 milhões de usuários no Brasil, e o Orkut, 40 milhões. Ninguém queria ouvir falar. Era engraçado. Só que o Facebook tinha um produto melhor, o que tornava mais fácil. E o Google não dava tanta atenção para o Orkut, que não estava no core business deles. Depois ficou tarde demais. Na Microsoft, eu cuidava do Bing na América Latina,e aí era o Google com o seu produto core, que gera a receita para custear outros projetos de inovação. A Microsoft é muito persistente. Nos EUA, eles têm um produto diferente do que é oferecido em outras regiões, e com um market share bem grande. Aqui no Brasil estávamos dando os primeiros passos. A empresa não tinha a pretensão de ser a primeira. Queria ser um bom mecanismo de busca para quem usa seus produtos e serviços. Sabíamos exatamente qual era a missão.

Qual foi a sua primeira ação no Facebook?

Éramos muito focados em encontrar canais onde pudéssemos convidar mais gente para entrar. A primeira coisa foi fazer teste de ponta à ponta. O que funcionava ou não. Quando convidávamos os amigos, se eles recebiam o email, conseguia importar contatos do Uol, do Terra, do Bol, Globo.com. Para garantir que as coisas básicas não estavam quebradas. Imagina se os e-mails enviados para o Yahoo.com.br caíssem na caixa de Spam. É todo um investimento perdido.

E a primeira coisa que você fez no Pinterest?

Eu já comecei em uma semana que tinha um encontro com todos os country managers, as pessoas responsáveis pelo Pinterest fora dos EUA, então a primeira coisa foi desenhar um plano estratégico. Bem mais amplo. E as ferramentas são diferentes. A forma de crescer do Pinterest é bem diferente do Facebook. São duas plataformas de mecânicas diferentes.

Qual é a sua principal missão como country manager do Pinterest?

Manter uma plataforma saudável e atraente para todo mundo. Tem que ser atraente para os usuários, principalmente, que são o centro da atenção. Mas também precisa ser interessante para marcas, e-commmerce, blog, especialistas. São vários componentes dessa plataforma como um todo. Então o principal objetivo é manter tudo isso funcionando de maneira harmoniosa e que todo mundo fique super satisfeito.

Que ações você está tomando para realizar essa missão?

As empresas do Vale do Silício compartilham de uma visão que diz respeito a times pequenos de alto impacto, com foco em resultados. Quanto maior o time, maior a dispersão. Nós também acreditamos nisso. Aqui, no Brasil, temos a Bruna Toni, focada em comunidades e influenciadores, e a Mariana Sensini, a primeira funcionária do Google no Brasil, que cuida do relacionamento com empresas, marcas, agências e veículos. Uma das nossas missões é educar o usuário para que ele tire o melhor proveito da plataforma. Hoje o leque de estratégia digital é tão grande, com coisas tão inovadoras e diferentes, que se você não deixar claro qual é o seu propósito com cada uma delas, as pessoas acabam se confundindo. Ou elas acham que não precisam daquilo, porque já estão em outra, ou fazem uma abordagem errada.

E quais são os desafios do Pinterest hoje?

O crescimento internacional, fora dos Estados Unidos. Começamos a ter um investimento maior nesse último ano, quando abrimos escritórios no Brasil e na Alemanha. Já tínhamos no Reino Unido, França e Japão. Esse movimento só se intensificou. Nos Estados Unidos, somos uma plataforma bem conceituada, reconhecida. Todo mundo tem no cardápio – siga-nos no Pinterest. O Brasil é um mercado super importante para qualquer um desses players.

Qual é o propósito do Pinterest e como tornar isso real?

Dizemos muito que queremos ajudar as pessoas a colocarem em prática os seus projetos e ideias. Que elas coloquem as referências do mundo online em prática no mundo offline. Quando pegamos uma pessoa que está colecionando receitas, queremos que ela faça essa receita. Quando vemos esse círculo se fechando, nosso objetivo foi cumprido. É uma combinação de fatores. Conteúdo de altíssima qualidade, curadoria feita por pessoas, recomendações e a descoberta. Você entrou lá pensando em um projeto de decoração, mas encontrou um painel que fala de uma dica bacana de como organizar o guarda-roupa, os brinquedos das crianças. Esse processo é muito difícil de encontrar em qualquer outro lugar. Você está procurando uma coisa, mas aparecem outras que te surpreendem.

Qual é a principal virtude que você procura em qualquer profissional para trabalhar com você?

Procuro pessoas persistentes. É uma qualidade que sempre busco. Calmas, que não se afobam, não ficam nervosas, que quando tem um desafio, não se desesperam. Que tenham bagagem e tragam experiências que vão agregar. E que realmente consigam resolver problemas, conectem ideias para chegar a uma solução. E obviamente que sejam boas, fáceis de se relacionar, positivas, bem humoradas. Acho que é uma combinação.

E o que seria um defeito profissional para você?

Não colocaria como um defeito, porque o que é defeito em uma situação pode ser qualidade em outra, mas tento procurar pessoas que coloquem a mão na massa, façam as coisas acontecerem, que andem. Se você quer que as coisas progridam, alguém tem que fazer, e em qualquer esfera. Os exemplos mais simples. Eu mandei o e-mail. A minha parte eu fiz, agora o negócio tem que acontecer por si só porque a outra pessoa vai receber o e-mail. Esse tipo de interpretação eu tento evitar.

Ainda faz sentido se deslocar, conviver de modo confinado em um escritório? Como você vê essa questão do home office?

Acho que o mix dos dois modelos é importante. Faço muito home office. Segunda e sexta são dias de home office, terça, quarta e quinta de escritório sem horário. Você ajusta algumas coisas. Temos um almoço toda quinta-feira para ter convivência. Fazemos um happy hour pelo menos uma vez por mês. Mas estar em casa é muito bom para a qualidade de vida. Mas existem coisas que só acontecem no escritório, porque você está no convívio. Acho meio utópico conseguir fazer tudo em home office.

Você já teve medo na sua carreira? Como superar?

Já. A gente toma muitas decisões, principalmente quando você muda de uma empresa para outra. Por exemplo, o Facebook foi uma decisão superdifícil porque saí de uma agência em que estava estável, era legal. O contrato com eles era temporário, de seis meses, mas poderia ser renovado. Acho que a confiança de que você é capaz de fazer um bom trabalho (ajuda). Quando fui para a Microsoft, as pessoas falaram: você saiu da empresa que todo mundo quer trabalhar e vai para uma que não conseguiu emplacar no mundo de celulares. Poxa, é um super desafio você conseguir tirar o Bing de 1% de market share contra o Google no terreno deles, onde eles são os melhores dos melhores. Essa motivação de conseguir provar que é competente te deixa mais tranquilo.

Você tem vários projetos paralelos. O que não te deixa sair do mundo corporativo?

Não me considero empreendedor. Consigo apostar desde que, se tomar um tombo, não vá senti-lo. Então meu perfil de investimento é montar um site aqui, usar o meu tempo livre acolá, e tudo bem. Se não der certo, não deu certo. De certa forma, a minha visão é a de que muitas vezes o foco exagerado te prejudica. Certas coisas demoram a acontecer. Dependem de inúmeros fatores: o mercado, o momento ideal para os parceiros e clientes trabalharem contigo. Você pode acabar atropelando o processo. Quando você tem um suporte financeiro por trás que te mantém sano, não pensa naquele negócio todo dia. Então, não deu certo, deixa mais um pouquinho lá. Para algumas coisas, o tempo e a falta de foco ajudam, o contrário do que todo mundo fala. Mas não dá para ter o mesmo tipo de abordagem para um projeto como o do Bar Brejas.

O que o executivo ensina ao empresário, e o que o empresário ensina ao executivo?

Muito. Não foi decisivo, mas fui bem visto quando entrei no Facebook pelo fato de ter o Brejas, que é uma mini rede social focada em cervejas. O site é um laboratório, então todas essas coisas de botão curtir, essas integrações, faço primeiro lá, que tem volume suficiente. Até o Facebook, eu nunca tinha trabalhado em empresas que eram veículos de mídia, então tudo o que aprendi de formatos de publicidade para internet, plataforma para servir e-mail, como é que funciona o fluxo de pedido de inserção, de pagamento, de percentual de agência, foi com o Brejas, que é um pequeno veículo.

O que te atrai nos projetos?

O aprendizado. Gosto muito de me manter ativo. Não gosto de ir para casa ficar assistindo TV. Tem um painel meu no Pinterest sobre o tempo, só de pessoas que reclamam que não têm tempo. Costumo falar que todo mundo acorda com as mesmas 24 horas, cada um decide o que faz. Várias obrigações são decisões que você tomou no passado. Algumas são trazidas pelas circunstâncias. Você decide se quer assistir novela ou programar um site.

Um livro, um filme, uma música que tenham feito a sua cabeça recentemente?

Eu ouço livro, não leio. Ouvia correndo, agora ouço quando vou e volto de Campinas.  Um que eu gostei muito e comecei a entender várias coisas de maneira diferente é O Poder do Hábito (de Charles Duhigg), e ele fala como somos moldados por várias coisas que são simples hábito. Em casa, ouço lounge music. De filme, vou falar um de anteontem que foi muito inspirador, O Menino da Internet: A História de Aaron Swartz.

O que te tirava o sono e não tira mais?

Sempre fui um cara muito lógico e muito exato. O que me tirava o sono era não ter solução para coisas que não têm solução. No marketing, muitas vezes você não chega em uma resposta exata. Você tem que estar confortável com aquilo. Por exemplo, onde você coloca o horóscopo? É notícia, entretenimento, cotidiano? Ninguém sabe. Não tem uma resposta certa. Aprendi que tudo bem não ter uma resposta exata. Em cada situação você vai ter uma aplicação diferente. Vale para muitas coisas, e isso torna a vida mais leve.

Onde você quer estar daqui a 10 anos?

Uma boa resposta seria estar em um lugar que eu não sei onde estarei. Porque a vida te leva. Comecei trabalhando com programação. Virei designer, depois gerente de produto, relacionamento, desenvolvimento de negócio…. Se eu puder estar em um lugar completamente diferente, que não imagino hoje, seria muito legal.

E o que te deixa feliz no dia a dia?

Dá muita satisfação quando você vê algo que pensou e planejou dar certo, principalmente quando ela traz um bom resultado para a empresa. Fico animado no dia em que vejo algum número para um projeto. Você fala: yes!

 

Para saber mais sobre o Pinterest no Brasil, assista as entrevistas que Ricardo concedeu para o Draft. Ele falou sobre comportamento do brasileiro e também sobre anúncios na plataforma.

 

 

 

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