por Fabiana Bernabe
E lá estava eu, mais um dia atravessando a cidade toda para ir ao trabalho e a única coisa que me fazia aguentar era o countdown no celular, que me dizia que seriam somente mais quatro meses, 12 dias e cinco horas em uma vida que eu não queria, para então poder seguir meu caminho.
Essa história começou muito antes desse dia. Fui infeliz profissionalmente por toda minha carreira e, quando olho para trás, é difícil acreditar que aguentei tantos anos fazendo o que não amava. Trabalhei quase 22 anos em quatro empresas diferentes, sempre na esperança que o novo emprego me traria a satisfação que faltava à minha vida profissional… E nunca isso acontecia.
Queria estudar Medicina e acabei me formando em Computação porque era o que dava dinheiro na época. Acabei desenvolvendo uma carreira muito bem-sucedida como diretora de marketing em multinacionais de tecnologia mas, a cada mudança, a esperança de encontrar felicidade profissional parecia mais distante.
Sempre tive bons empregos, com bons chefes, pares, equipes e salário, o que fazia com que me sentisse envergonhada por não me sentir realizada
Não conseguia me conectar, criar vínculo e achar que aquilo tudo tinha importância e propósito. A sensação era a mesma da conhecida música do Pink Floyd, Another Brick In The Wall, e trabalhar para ter um bom salário no fim do mês e pagar as contas, e os luxos, não era motivação suficiente.
Tinha uma certa inveja dos meus colegas que estavam lá, felizões na segunda-feira, achando que a vida era assim mesmo e que não havia outro caminho. Então, uma grande amiga me sugeriu tirar um ano sabático, pois percebeu como eu estava infeliz. Em um primeiro momento, me senti quase que ultrajada com essa sugestão, pois tinha várias obrigações financeiras e não poderia simplesmente parar de trabalhar e ir pensar na vida (ao contrário dela, que tinha uma condição econômica bem melhor que a minha). Porém ela era muito minha amiga e, se ela acreditava que eu poderia, talvez fosse verdade.
Fiquei com isso na cabeça e, quando comecei em um novo emprego e logo no primeiro dia de trabalho tive certeza que meu lugar não era ali e que continuaria infeliz, fui para a terapia investigar se estava louca ou tentando simplesmente fugir de uma realidade que não gostava. Conclui que não, que isso realmente poderia me fazer bem e ser o primeiro passo de uma grande descoberta! Então, em 2012, me rebelei, me enchi de coragem e decidi tirar um ano sabático para investigar o que poderia me fazer feliz no trabalho. Juntei dinheiro sem parar durante um ano para poder viajar por um ano e procurar emprego por mais um com tranquilidade.
Todos a minha volta SUPER me desencorajavam e diziam que eu não encontraria mais emprego no meu nível e, se contasse essa história na volta, as pessoas de recursos humanos achariam que fiquei louca
Mas minha vontade era maior que meu medo, então, fui com tudo! Tive uma experiência incrível, passei por 15 países, vi gente de tudo que é jeito, vivendo vidas completamente diferentes da minha e, em geral, bem mais satisfeitas com o seu dia a dia. Estudei culinária na Itália e meditação na Índia. Basicamente, minha vida se divide entre antes e depois desse período. Voltei para o Brasil com emprego garantido, pois meu chefe decidiu me dar uma licença não remunerada (ainda bem que não ouvi os medrosos) e continuei investigando meus caminhos de carreira, agora com a certeza da direção: queria ajudar as pessoas a terem mais satisfação, a terem uma vida recompensadora, saudável e feliz — mas não tinha a menor ideia ainda de como faria isso.
A conclusão que cheguei foi que, quando estamos na direção certa, os caminhos vão se abrindo
Então, comecei a ligar os pontos e cheguei no Health Coach. Minha melhor amiga na escola de culinária na Itália era Health Coach, minha melhor professora na pós-graduação em gastronomia funcional, que fiz quando voltei ao Brasil, era Health Coach, e minha melhor mentora no curso que fiz no Natural Gourmet Institute em NYC também era Health Coach. Fui investigar o que era essa profissão e EURECA!!! Era isso que eu queria fazer da vida. Fiz o curso por um ano e me formei. Mas logo em seguida veio a dúvida: o que fazer com isso agora?
Primeiro comecei a aplicar em mim todos os conceitos que aprendi com a culinária saudável, a meditação e o health coach e comecei, ainda no mundo corporativo, a me sentir muito melhor, equilibrada e realizada.
As pessoas à minha volta começaram a perceber a minha mudança e a me pedir para aplicar nelas meus aprendizados. Nos meus primeiros atendimentos, tive uma explosão de alegria. Nunca tinha sentido isso antes na vida. Então, tive certeza do quanto realmente era infeliz no trabalho e tive compaixão por mim mesma, por ter conseguido aguentar algo tão longe da minha essência por tanto tempo, por ter medo de ficar sem dinheiro.
Esse foi o motivo que me segurou tanto tempo em algo que não tinha a ver comigo de verdade, foi meu grande desafio nessa travessia. Sempre tive pânico de ficar sem dinheiro, de passar necessidade de não conseguir pagar as contas e ajudar minha família e lidar com esse sentimento foi (e às vezes ainda é) muito difícil.
Abrir mão de uma carreira bem-sucedida para iniciar um projeto era assustador, mas não conseguia mais me enganar e viver sem nenhuma satisfação, só por status e dinheiro
Sentia meu coração explodindo de alegria por ter encontrado meu caminho e não podia ignorar esse sentimento que busquei por tanto tempo somente para manter a ilusória segurança. Então, me enchi de coragem mais uma vez, fiz um bom pé de meia e FUI! No dia programado pelo countdown do meu celular, pedi demissão e comecei minha nova jornada.
Os primeiros meses foram bastante “bagunçados”. Tinha tanto tempo livre que nem sabia o que fazer com ele! O medo de ficar sem dinheiro me consumia e precisei usar muito minhas técnicas de meditação para ver o dinheiro só baixando da conta e não pirar e nem sempre consegui segurar a onda. Chorei, tive medo de estar fazendo a coisa errada e depois não conseguir reverter. Mas lembrei dos conselhos de um chefe que tive, que me dizia que ninguém morre por perder o emprego. Não perdi, decidi deixá-lo e fazer outra coisa da vida, então, o jeito era respirar fundo e sempre me lembrar dos motivos que me trouxeram até aqui e encarar que se tratava de uma nova construção. Então, mãos à obra construir o novo e desapegar do “seguro” velho.
Nesse meio do caminho, decidi me mudar para a Espanha e estruturar minha empresa de Health Coach aqui. Depois que você dá o primeiro passo rumo a uma vida incrível, se sente muito mais seguro para se jogar e confiar que o melhor vai acontecer. Hoje, Equilibra Health Coach está estruturada, temos até uma diretora de marketing (que não sou eu!) e, às vezes, como agora, sinto um nó na garganta e tenho vontade de chorar, mas é por sentir meu coração cheio de alegria por estar sentada no meu escritório trabalhando no que amo fazer.
Meu grande sonho é podemos ajudar mais e mais pessoas a viverem uma vida que parece impossível, mas não é. Viver com saúde, de forma equilibrada, com relações felizes, fazendo o que se ama e tendo dinheiro para uma vida decente é o que todo mundo merece e deve ter.
Fabiana Bernabe, 41, foi executiva de marketing de empresas como Telefônica, Ericsson, General Electric e Pixeon. Passou por um processo de descoberta do que realmente queria fazer com sua vida profissional e fundou a Equilibra Health Coach.
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