A cannabis parece que veio mesmo para chacoalhar o mundo. Quanto mais é pesquisada, mais aparecem descobertas sobre seus benefícios. Ao mesmo tempo não se tem notícia de uma planta tão perseguida e tão criminalizada em toda história da humanidade. Estudos recentes agora dão conta de que, além de atuar como tratamento eficaz de uma série de doenças e comorbidades, a cannabis também pode funcionar como filtro de limpeza do solo, permitindo, por exemplo, que locais contaminados até por radiação possam voltar a ser limpos e férteis.
Esta novidade fez com que uma lâmpada acendesse na cabeça dos empreendedores Luis Quintanilha, Mario Lenhart Natália Garcia. Quintanilha, um entusiasta dos potenciais da cannabis, passava por uma transição de carreira e buscava maneiras de empreender usando inteligência artificial e blockchain. Como juntar tudo isso? O trio criou, então, um sistema para vender tokens (ativos digitais que representam ativos do mundo real) que seriam equivalentes a uma parcela da terra onde a cannabis é cultivada. Quem comprar estes tokens ganha benefícios, como descontos em produtos da rede parceira da companhia, e o valor segue para financiar a operação de redução de danos ambientais.
Esta é a síntese da Kanna, fundada em 2022, e definida, pelos próprios sócios como “uma DAO (Organização Autônoma Descentralizada) de impacto social e ambiental que une a tecnologia blockchain ao mercado do cânhamo, por meio da venda do criptoativo KNN, que carrega um lastro em solo revitalizado e CO2 compensado nestas plantações”.
LIGANDO OS PONTINHOS
Como já deu para perceber, a Kanna não é uma empresa tradicional. É preciso virar a chave mental para compreendê-la melhor. As DAOs são grupos de pessoas que têm um objetivo comum organizado sem uma liderança central e que usam a rede blockchain para a tomada de decisões. A blockchain tem sido usada com frequência para a expansão de pilares da sustentabilidade empresarial, uma vez que confere confiabilidade à estruturas que baseiam a economia circular e o mercado de carbono.
“Projetamos a Kanna para ter o ESG no centro da sua operação, aliando o impacto ambiental e econômico do cânhamo, com a transparência e a governança da blockchain”, explica Luís Quintanilha, CEO da empresa.
Na prática, segundo ele, a startup tokeniza créditos de carbono e possibilita que pessoas e empresas compensem a sua pegada utilizando a governança da blockchain e a ecoeficiência do cânhamo.
Segundo os sócios explicaram ao Projeto Draft, o esquema da Kanna funciona assim: “cada ativo digital está atrelado a uma fração de solo revitalizado pelo cânhamo. Com o diferencial de que, por não distribuir os lucros como uma empresa tradicional, 15% dos resultados são reinvestidos para a comunidade local, por meio da realização de benfeitorias na região. O restante é investido na expansão das áreas de cultivo, gerando aumento gradativo do impacto total”
O modelo é tão inovador que a startup foi uma das escolhidas para participar do Web Summit, que aconteceu no início do mês de maio, no Rio de Janeiro, e reuniu empresas do mundo inteiro.
COMO COMPRAR OS TOKENS
Os tokens da Kanna podem ser adquiridos no site da empresa por meio de uma wallet ou por Pix. As wallets são as carteiras digitais de criptomoeda que possibilitam aos usuários o acesso aos ativos armazenados em um sistema. Com elas, o usuário é dono de sua carteira e pode enviar moedas digitais sem intermediários, como os bancos.
“A Kanna tem como papel utilizar os tokens na expansão da empresa com o intuito de maximizar o impacto, podendo comercializar seus tokens, gerar mais liquidez e confiança para o mercado, investir em tecnologia ou mesmo fazer mais aportes de investimento em benfeitorias locais. Nossa intenção é construir projetos em conjunto com a comunidade”.
Como o Brasil possui uma série de limitações legais na produção de cannabis, os investimentos dos tokens são direcionados a plantações em outros países da América Latina. O objetivo, no entanto, é atuar em solo brasileiro tão logo isso seja possível, para beneficiar a economia nacional.
“Queremos atuar na transformação do sistema de cannabis no país. Ajudar na conscientização, trazer argumentos ambientais, além do uso medicinal e industrial do cânhamo”.
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