The Goodfellas. Ou como duas publicitárias reinventaram suas vidas – e seu trabalho

Mel Meira - 13 mar 2015Maysa e Carol, da The Goodfellas.
Maysa e Carol, da The Goodfellas: parceria que começou na publicidade e foi para a vida (foto: Monica Mendes).
Mel Meira - 13 mar 2015
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Em um mercado competitivo como o publicitário, é relativamente raro ver casos de companheirismo entre quem trabalha lado a lado. Porém, uma conversa com as publicitárias Maysa Oliveira, 37, e Caroline Rua, 32, mostra o exato contrário. As duas se conheceram no ambiente “sangue nos olhos” da publicidade e, conforme cada uma amadureceu profissionalmente (e também internamente, questionando o propósito de tudo aquilo), elas perceberam que tinham algo mais bacana a fazer juntas. Tornaram-se empreendedoras e fundaram a The Goodfellas, uma produtora digital que atende justamente as agências de publicidade. Mas, agora, elas estão fora. Mais livres, mais realizadas — e faturando clientes e prêmios sem parar.

Se dependesse dos pais de Maysa essa parceria nunca teria acontecido, pois o sonho deles era que a filha se tornasse médica. Influenciada pelos pais, a jovem cursou psicologia, mas já sabia que esse não era o caminho que desejava e também estudou publicidade, curso que alguns amigos faziam na época. Com os dois diplomas em mãos, Maysa acabaria se dedicando ao cirurgicamente ao universo da publicidade.

Em 2004, quando trabalhava na DM9, Maysa foi convidada para atuar na W/Brasil, com o desafio de reformular e relançar a imagem da agência no mercado brasileiro. Foi assim que conheceu a também publicitária Caroline Rua, que viria a ser sua cara metade profissional. Na época, Carol trabalhava na W/Brasil e já tinha passado pela Leo Burnett, agência onde iniciara a carreira.

As hoje sócias contam que a conexão foi instantânea, como num filme no qual tudo se encaixa e tudo dá certo no final. Elas trabalharam juntas no projeto por intensos seis meses. Ao fim do período, Maysa decidiu que era hora de ir para a AlmapBBDO — e acabou levando a parceira também. Na nova casa, Carol trabalhava nas contas com os maiores budgets, como Volkswagen e O Boticário, enquando Maysa atendia clientes como Embratel, Sagatiba, Veja e Claro. Maysa relembra desse momento:

“Foi legal porque nos tornamos amigas em uma época turbulenta, cheia de desafios, e é nessas horas que você realmente conhece as pessoas. Nada é por acaso”

A pressão, como é relativamente normal nesse meio, não dava trégua e, depois de três anos, Maysa chegou ao seu limite: estava física e mentalmente exausta, e decidiu tirar um período sabático para descansar e repensar sua vida. Sua intenção era viajar para o exterior e curtir uma temporada fora, mas por conta de seu namorado (atual marido), acabou passando esse período em São Paulo —cidade que sempre amou, mas que nunca tinha tido tempo para aproveitar. Durante os seis meses de descanso, a publicitária pensava muito na profissão. Sabia que amava publicidade, mas que não se encaixava mais no formato no qual se via obrigada a trabalhar.

The Goodfellas

The Goodfellas: elas deixaram a publicidade, mas continuam trazendo prêmios para agências e clientes.

Nessa fase em que Maysa reformulava suas ideias, Carol manteve-se firme na AlmapBBDO, onde completaria cinco anos de de aprendizados e crescimento. As duas nunca perderam o contato, provavelmente porque a intuição de ambas dizia que esse seria um período de distanciamento, mas não de separação.

COMO ATUAR EM UM MERCADO NO QUAL VOCÊ JÁ NÃO SE ENCAIXA?

Quando decidiu voltar ao mercado Maysa sabia que era necessário uma mudança e por conta disso foi procurar a colega Rita Almeida, fundadora da inovadora agência Co.r, e pediu um estágio não remunerado na área de planejamento. Passou três meses lá e não demorou para que um antigo chefe a convidasse para voltar para a DM9. Era hora de dizer não. Ela já tinha planos de passar uma temporada em Londres, dessa vez com o marido. Sempre curiosa, Maysa aproveitou para fazer cursos fora da área, como surf e canto, ainda que se mantivesse ativa, como freelancer para revistas europeias.

Por sua vez, com 14 anos de mercado publicitário, Carol também começava dar mais atenção à sua antiga vontade de empreender. Decidiu, então, fazer os cursos de Empreendedorismo e de Liderança que Abílio Diniz ministrava, ambos na FGV. Ela fala deste momento:

“Eu amava o que fazia, mas não dentro da agência. Precisava de mais desafios. Claro que existia o medo de mudar de área e não saber se conseguiria fazer outra coisa, mas eu estava decidida a empreender”

Após as novas experiências de aprendizado, Carol sentiu-se preparada para pedir demissão da AlmapBBDO. Só assim ela ficaria completamente livre para se dedicar a ter um negócio próprio. E foi assim, ainda sem a participação de Maysa, que ela criou a The Goodfellas, uma produtora digital que começou a operar no final de 2011, com o apoio de um sócio investidor.

Já em 2012, quando voltou ao Brasil, ela enfim aceitaria o convite para voltar à DM9. Por que dizer sim a uma proposta que ela mesma tinha recusado? O desafio foi aceito porque ela lideraria, ao lado de Sergio Magalhães, um projeto único: a criação do Núcleo de Design e Inovação da agência. A ideia era unir tecnologia e design para projetos de clientes, com formatos e processos diferentes do que tanto os clientes como a agência estavam acostumados a trabalhar. Maysa passou dois anos no Núcleo, que viria a ser fechado, deixando como legado a reformulação e modernização do design do prédio da própria agência.

Depois de deixar a DM9, Maysa foi se arriscou em um curso da famosa Singularity University. Passou 9 dias imersa em workshops, aulas e visitas a empresas do Vale do Silicio. Extremamente inspirada pela experiência na Singularity, e com fome de criar algo seu, ela voltou para o país e chamou a amiga Carol para conversar.

Maysa, da produtora digital The Goodfellas

Maysa, inquieta e curiosa, passou uma temporada em Londres, depois fez um curso na Singularity University… e trouxe tudo para Carol.

Era o momento perfeito, ambas queriam empreender e já tinham experiência trabalhando juntas. Carol ofereceu sociedade para Maysa, que aceitou sem hesitar. À época, a The Goodfellas já tinha clientes relevantes — como se podia prever, as próprias agências AlmapBBDO e DM9. Com esses clientes na carteira, a Goodfellas trabalhou nos projetos das revistas digitais da Billboard, Bradesco Seguros e Volkswagen.

Depois de ter passado os primeiros oito meses de operação em uma sala na casa da sogra de Carol, agora a The Goodfellas comemorava a mudança de local e o crescimento da equipe, que foi de cinco para os atuais 15 funcionários.

CRIANDO O FUTURO EM QUE SE QUER VIVER

Para as duas sócias, empatia e respeito no ambiente de trabalho são essenciais em todas as instâncias — entre elas mesmas, quando tratam com os clientes, com a equipe interna, com quem for. Se esforçar em construir, e manter, o futuro no qual se quer viver é o que torna tudo mais humano na The Goodfellas, que mesmo sendo uma empresa focada em conteúdo digital e tecnologia, não abre mão da valorização do ser humano por trás de cada função. Carol fala um pouco sobre isso:

“Nós entendemos a pressão e os prazos das agências. Por isso, montamos uma equipe que tem de matemáticos a publicitários, todos multifacetados para atender às necessidades que surgirem, tanto da parte criativa, como da tecnológica”

No dia a dia, as funções são dividas entre as sócias levando em conta o background de cada uma. A única área, porém, na qual as duas estão sempre presentes é na liderança é na gestão do business. Fora isso, Maysa fica à frente do planejamento e da área de novos negócios, enquanto Carol foca na operação, garantindo que a equipe esteja sempre em ordem e os clientes, satisfeitos.

No caso delas, cliente satisfeito significa cliente, já no primeiro ano da The Goodfellas, com um Leão de Ouro, o que prêmio que venceram na categoria de Mobile no festival Cannes Lions.

Carol e Maysa têm consciência do quanto a trajetória da The Goodfellas é inspiradora, não apenas para publicitários infelizes com suas carreiras, mas especialmente para as mulheres, que sofrem pressão em dobro no mercado de trabalho. Por isso tudo, elas conseguem achar tempo na corrida agenda para atuarem como board members do Girls In Tech São Paulo, organização presente em dezoito países que visa o empoderamento feminino, unindo profissionais de tecnologia e empreendedorismo. Sabendo a relevância da troca de experiências e do poder do aprendizado, ambas participam de projetos como esse com a certeza de que dessa maneira a cada dia que passa mais mulheres estarão preparadas para o mercado de trabalho, e que assim como elas terão o poder e a certeza de que podem atuar na área que desejarem.

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  • Projeto: The Goodfellas
  • O que faz: Produtora digital
  • Sócio(s): Caroline Rua e Maysa Oliveira
  • Funcionários: 17 (incluindo as sócias)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2011
  • Investimento inicial: R$ 150.000
  • Faturamento: NI
  • Contato: (11) 3842-0923
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