Treta na hora de rachar as contas? Calma, a Cumbuca tem uma solução para simplificar a divisão de despesas conjuntas

Dani Rosolen - 8 nov 2023
Daniel Ruhman, cofundador da Cumbuca.
Dani Rosolen - 8 nov 2023
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Que grupo de amigos nunca passou por uma confusão na hora de rachar as despesas de uma viagem? É comprovante de Pix pingando no WhatsApp, gente que esquece de pagar e outras atribulações… Os casais também costumam enfrentar burocracias na hora de dividir os gastos, já que a conta conjunta virou coisa do passado.

Foi para facilitar esse tipo de transação que o paulistano Daniel Ruhman cofundou, em janeiro de 2022, a Cumbuca.

A plataforma resolve a vida de casais e grupos de amigos e de colegas de trabalho, simplificando a gestão conjunta de despesas — desde o pagamento do plano de saúde familiar ou de serviços como streaming e delivery de comida até a divisão de gastos pontuais com viagens, festas e churrascos.

A startup se diz pioneira no emprego do conceito de finshare (finanças compartilhadas) aqui no Brasil. Segundo Daniel, 25:

“A Cumbuca é resultado dos aprendizados que tive com outros empreendimentos. Entendi que problemas compartilhados precisam de soluções compartilhadas”

O nome da fintech, explica o empreendedor, faz menção àquele potinho (estrategicamente posicionado em algum móvel junto à entrada da casa) onde, no fim do dia, se costumava lançar as moedas que sobraram no bolso.

“Hoje, o pessoal deixa a chave de casa, cartãozinho, bala… Mas a cumbuca ainda remete a algo muito coletivo da casa.”

NERD ASSUMIDO, DANIEL APRENDEU A PROGRAMAR E CRIOU SEU PRIMEIRO APLICATIVO AOS 13

Na época do colégio, ao contrário de tantos garotos, Daniel diz que passava longe do futebol. “Eu era daqueles que quando os pais pediam para escolher um esporte para fazer depois das aulas, optava por jogar xadrez.”

Tempo de ócio? Para ele, não existia. Filho de empreendedores (a mãe tem uma loja de roupas; o pai atua no mercado financeiro), Daniel sempre acompanhou os pais no trabalho durante as férias escolares.

“Na minha casa, nunca teve o conceito de férias, de você não fazer nada, ficar olhando para o teto…”

Ou ele ia para a fábrica de roupas da mãe ou para o escritório do pai. Até o dia em que se cansou e anunciou: “Não quero mais ir trabalhar com vocês. Vou programar!”.

Ele aprendeu a desenvolver aplicativos para iPhone bem na época em que o dígito 9 passou a anteceder todos os números de celular do Brasil. E, com apenas 13 anos, criou o SP Dígito, um app que permitia aos usuários do iPhone fazerem automaticamente esse ajuste nos números armazenados na agenda do smartphone.

“Foi muito legal, cheguei a ganhar um dinheiro na época e tinha que explicar para os meus pais porque estava caindo dólar na conta deles… Acho que aí eu comecei a ter meu gostinho por empreender.”

OUTRO APP DESENVOLVIDO POR ELE NA ADOLESCÊNCIA CHEGOU A FICAR NA LISTA DOS MAIS BAIXADOS DA APPLE

Depois, aos 15 anos, Daniel desenvolveu o app do Finanças Femininas, plataforma fundada por sua irmã, a jornalista Carolina Ruhman Sandler.

Segundo ele, o app foi o mais baixado na área de finanças na Apple Store por cerca de quatro meses.

“E aí, ‘zero ego’ da minha parte”, diz. “Acho que o sucesso foi por causa da audiência da plataforma: não tinha muito a ver com o meu aplicativo.”

Na época, para não entregar que ainda era praticamente uma criança, Daniel assinava suas criações como Ruhman Studio.

“Aí um belo dia, estou de pijama em casa, num sábado de manhã, e recebo um e-mail da Apple que começava assim: ‘Dear CEO of Ruhman Studio’. Era para dar destaque ao app naquelas listas de mais baixados… Eu pensei: caramba, alguém na Apple acha que eu sou CEO de alguma coisa…!”

Chegou a época do vestibular e o jovem programador começou a assistir, como ouvinte, a aulas nos cursos técnicos de ciência da computação, administração de sistemas, entre outras graduações na área.

Mas não sentia que aqueles cursos eram para ele.

FRUSTRADO COM A FACULDADE, DANIEL DEIXOU O BRASIL E PASSOU UM TEMPO ESTUDANDO NO VALE DO SILÍCIO

Por falta de opção, Daniel decidiu que faria a graduação em administração de empresas, como o resto da família.

Até que o Insper abriu a primeira turma de engenharia da computação. E o jovem decidiu arriscar.

Porém, no segundo ano da graduação, o Ministério da Educação fez uma mudança no currículo desse curso, obrigando os alunos a cumprirem as disciplinas básicas de engenharia. Ele resume a frustração:

“Percebi que tinha passado um dia inteiro resolvendo fórmulas para construir pontes, sendo que meu negócio era construir softwares…”

Então, Daniel largou a faculdade aqui no Brasil e foi para o Vale Silício, onde passou um ano estudando Computação e Ciências cognitivas na Universidade de Berkeley, na Califórnia.

“De manhã, eu tinha aula de inteligência artificial, machine learning e estatística. E de tarde, estudava economia comportamental, psicologia, neurociência, antropologia…”

O PRIMEIRO NEGÓCIO, UM MARKETPLACE DE SERVIÇOS DE FAXINA, PRECISOU PIVOTAR NA PANDEMIA

Ao voltar para o Brasil, em janeiro de 2019, Daniel começou a empreender a UmHelp com Bruno Cury (que, assim como ele, havia largado o Insper para estudar fora) e Pedro Castilho, brasileiro que conheceu na Califórnia.

O aplicativo funcionava como um marketplace que conectava diaristas a clientes interessados em serviços de faxina na cidade de São Paulo.

“Foi uma jornada maravilhosa, muitas das mulheres cadastradas no app eram como família”, diz o empreendedor. “Sou padrinho de casamento de duas delas e tem uma diarista que tatuou todos os logos da empresa e deu ao filho o nome de Daniel!”

O app chegou a captar 500 mil dólares com investidores-anjos e estava começando a expandir sua área de atuação até ser “boicotado” pela Covid-19.

“Aí eu tinha o pior negócio da face da Terra: colocava estranhos na casa de outros estranhos. As pessoas falavam para fechar a operação, mas eu pensava nas diaristas, que eram minha responsabilidade maior”

A solução foi migrar para o B2B. O empreendedor passou a oferecer os serviços das faxineiras de forma a não colocá-las em risco de saúde.

A Loft, diz Daniel, contratou as diaristas do UmHelp para cuidar de toda a operação de faxina de apartamentos que estavam vazios, porque tinham acabado de ser comprados, vendidos ou reformados.

A proptech, porém, era o único cliente nesses moldes. O caminho não parecia escalável. Era hora de pivotar (de novo) o negócio.

DA COMADRE À CUMBUCA: COMO O NEGÓCIO SURGIU DO AMADURECIMENTO DE EXPERIÊNCIAS ANTERIORES

A nova aposta dos empreendedores começou como um banco para diaristas, batizado de Comadre. Logo, porém, virou uma solução mais ampla, para pessoas que não tinham familiaridade com tecnologia:

“A gente simplificava as coisas. A senha, por exemplo, era por emoji, a pessoa podia fazer um Pix por áudio e a Comadre ainda avisava o quanto de dinheiro iria sobrar na conta antes de completar um pagamento ou transferência…”

Foi assim o trio fez a mudança para o universo das fintechs. Apesar do produto ter crescido, não havia um modelo de negócio por trás.

“Essa era a minha maior dificuldade: pensar numa forma de cobrança justa e transparente para um público das classes C, D e E”

Em 2021, a Comadre entrou para a aceleração da Y Combinator e saiu de lá como Cumbuca, após uma grande reformulação, que veio com o amadurecimento do que os empreendedores tinham vivido com as outras startups até aquele momento.

Daniel diz que um pedido recorrente das diaristas — receber o depósito do pagamento do dia na conta da filha ou do marido, para que pudessem pagar uma despesa da família — gerou uma reflexão:

“Começamos a pensar quem foi o ‘gênio’ que colocou um único código de barras em um boleto para pagar uma conta de luz ou streaming, serviços que geralmente são compartilhados…”

A partir disso, os sócios decidiram que era hora de criar algo simples para resolver esse e outros problemas, como ter que ficar cobrando um pagamento de alguém de algo pelo qual vocês são responsáveis juntos.

Daniel cita o feedback recebido de uma cliente. Divorciada do pai de seu filho, ela usa a plataforma para receber o pagamento da pensão.

“Ela nos agradeceu e disse que por causa da Cumbuca nunca mais tinha precisado enviar uma mensagem ao ex-marido cobrando dinheiro para comprar o material escolar ou a roupa do judô.”

COMO FUNCIONA A CUMBUCA: ENTENDA O PASSO A PASSO PARA A GESTÃO DE DESPESAS PELO APLICATIVO

Ao entrar na plataforma, o usuário pode criar seus grupos (por exemplo, “despesas do casal” e “gastos com viagens entre amigos”).

O próximo passo é transferir, via Pix, o valor que deseja alocar. Membros de grupos diferentes não veem o valor alocado em cada um, mas dentro de seu grupo a premissa é a transparência. Os participantes podem inclusive definir a proporção com a qual cada um contribuirá.

“Se você vai fazer uma viagem entre amigos, a última coisa que todo mundo quer é usar o grupo do WhatsApp para ficar mandando comprovante de pagamento. Melhor utilizar essa ferramenta para falar das coisas gostosas, organizar e mandar fotos da viagem, deixando a parte das despesas mais automatizada…”

Dentro de cada grupo, os membros decidem quem pode gerenciar o dinheiro para efetuar o pagamento das contas – atualmente via Pix e boleto – e quem pode convidar outras pessoas para a divisão.

O funcionamento, diz Daniel, é similar a um grupo de WhatsApp, mas com a finalidade de dividir as despesas, sendo que o app cuida de toda a parte gerencial. Segundo ele, geralmente todo mundo tem aval para mexer no dinheiro, mas existem exceções.

“Temos no aplicativo um grupo de 150 médicos que criaram um grupo porque estão fazendo um processo coletivo contra o SUS pela maneira como foram tratados na pandemia. Todo mês, eles depositam um valor para arcar com as despesas do processo, mas neste caso só uma pessoa fica encarregada por repassar o dinheiro aos advogados e pagar taxas do tribunal, para não dar confusão.”

Outro uso possível uso citado por ele é para a gestão da casa. A pessoa cria um grupo em que participa ela e a diarista contratada. Ali, o contratante pode alocar dinheiro para quando a prestadora de serviço precisar comprar algum produto para a limpeza, por exemplo.

OS PLANOS SÃO LANÇAR O PAGAMENTO POR CARTÃO E OFERECER O SERVIÇO SEM QUE O CLIENTE PRECISE DE UMA CONTA NO APP

O app é gratuito; assim como outras fintechs, a Cumbuca ganha rebates comerciais de pagamentos feitos no boleto, mas de resto ainda não gera receita significativa.

Mesmo assim, em agosto de 2023, a startup captou o equivalente a 15 milhões de reais em uma rodada seed liderada pelo Lightspeed Venture Partners (que já apoiou negócios como Snapchat) e Supera Capital (fundo de venture capital afiliado à Globo Ventures e a Luciano Huck).

Daniel diz que a primeira fonte de receita relevante virá da possibilidade de os clientes pagarem as contas por cartão de crédito (hoje o serviço se limita a Pix e boleto). A funcionalidade deve ser lançada ainda neste ano, segundo ele. E assim, a cada operação realizada, a Cumbuca receberá o interchange do cartão, que geralmente fica em torno de 1% do valor pago.

Outra meta para 2024 é que o mesmo serviço de compartilhamento de despesas seja oferecido sem que os usuários precisem transferir o dinheiro para uma conta da Cumbuca.

“Com o Open Finance, vamos conseguir ‘puxar’ o dinheiro direto da conta das pessoas”, diz Daniel. Isso será possível porque a startup obteve, segundo ele, uma licença do Banco Central para operar como Instituição de Pagamento (IP) na modalidade Iniciador de Transação de Pagamento (ITP).

“O nosso serviço vai muito além da questão de pagamento. Entra na parte de investimento, seguro, planejamento de patrimônio, de sucessão… Tem muitas vertentes possíveis”

Empolgação à parte, Daniel adota a cautela na hora de pensar o longo prazo. “A gente é muito novo [enquanto empresa]”, diz. “E uma das coisas que eu aprendi é que precisamos focar no agora. Sonhar grande é fácil, o difícil é executar.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Cumbuca
  • O que faz: Plataforma de divisão e gestão conjunta de despesas
  • Sócio(s): Daniel Ruhman, Bruno Cury e Pedro Castilho
  • Funcionários: 25
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2022
  • Investimento inicial: R$ 15 milhões (aporte recebido em agosto de 2023)
  • Contato: [email protected]
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