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Uma muleta dobrável que evita lesões: a sacada dos alunos de Mecânica do SENAI de Itu

Bruno Leuzinger - 17 out 2018
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Bruno Leuzinger - 17 out 2018
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Um orelhão e um semáforo gigantes ajudaram Itu a construir sua fama pitoresca de um lugar onde os objetos são desproporcionalmente grandes. A cerca de 100 km da capital paulista, a cidade reserva outros pontos de interesse tão ou mais significativos. Um deles é o Museu Republicano “Convenção de Itu”, no casarão que serviu de berço, em 1873, à criação do partido republicano paulista – responsável, mais tarde, pelo impulso decisivo para a Proclamação da República, em 1889.

Outra importante instituição ituana é a escola SENAI Italo Bologna, que oferece os cursos técnicos de Mecânica e Eletromecânica. Em 2015, Bruna Mota fazia parte da primeira turma – e, junto com colegas, desenvolveu como projeto de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) o protótipo de um produto inovador: uma muleta diferente, dobrável, com amortecimento e um apoio axilar especial que ajudam a evitar lesões.

“O SENAI de Itu é referência na questão de inclusão. Os projetos de TCC têm sempre a ver com o assunto”, diz Bruna, hoje com 20 anos, esclarecendo a escolha do tema. “Naquele ano, nosso professor comentou que havia utilizado muleta depois de uma cirurgia no joelho e que tinha sido superincômodo. Começamos a pesquisar se as muletas de fato incomodavam as pessoas – e como reduzir esse desconforto.”

O pontapé inicial do projeto se deu no finzinho de 2014, quando Bruna e os colegas estavam cursando o segundo ano do Ensino Médio, paralelamente ao curso técnico. O grupo de trabalho dedicado a reinventar a muleta tinha ao todo cinco moças e dois rapazes. A predominância feminina na classe foi um fato relevante na ocasião.

“Foi o primeiro ano que o SENAI de Itu teve mais meninas fazendo o curso de Mecânica”, lembra Bruna. “Até os professores estranharam um pouquinho, porque em geral quem faz Mecânica são os meninos. Na nossa turma de quase 30 alunos, pelo menos a metade era formada por mulheres.”

A turma do SENAI de Itu responsável pela muleta Simple Easy (Bruna é a primeira à esq.)

A hoje ex-aluna elogia o curso com foco na prática, incluindo longos períodos na oficina, manuseando torno, furadeira, serra, máquina de solda… Para o TCC, a estratégia foi criar uma muleta do zero. “Pegamos uma emprestada para tirar as medidas, estudar o formato. Depois, todo o material necessário foi comprado pela escola.”

Na fase de pesquisa, Bruna e o grupo foram a campo conversar com fisioterapeutas e ortopedistas para se aprofundar no tema, incluindo os possíveis efeitos colaterais decorrentes da utilização da muleta. E descobriram que o uso do acessório podia contribuir para uma lesão conhecida como neuropraxia do nervo radial.

“Em geral, o material da muleta – alumínio ou uma borracha dura – entra em contato direto com a pele do braço da pessoa”, diz Bruna. “E, às vezes, a pessoa que usa – ainda que temporariamente – a muleta acaba ficando com uma lesão pelo resto da vida. Começamos então a pensar no que poderíamos fazer para evitar essa lesão.”

A sacada da turma para resolver a questão veio imbuída da simplicidade que marca as grandes ideias: reduzir o atrito incluindo um sistema de amortecimento, com uma mola encaixada no pé da muleta, e um revestimento para o apoio axilar, fabricado com uma espuma maleável, que não absorve suor, coberta por couro sintético.

A portabilidade era outro ponto a ser resolvido: o grupo queria uma muleta que pudesse ser dobrada e guardada numa mochila, aos pés da poltrona do cinema ou sob a mesa de um restaurante. Inicialmente, o plano era criar um acessório com um elástico interno, à maneira das bengalas dobráveis usadas por deficientes visuais.

Parecia uma boa ideia. Na montagem, porém, acabou se revelando inviável:

“Amarrar o elástico dentro do tubo era difícil. Além disso, a bengala para deficientes visuais é só uma guia: ninguém exerce peso sobre ela, então ela não precisa de sustentação – diferentemente da muleta”, diz Bruna. Em vez de elástico, a muleta recebeu dobradiças convencionais. “O desafio foi pensar em algo realmente útil. Na teoria, parece que vai dar certo… Na prática, às vezes não funciona.”

O protótipo ganhou o nome de “Simple Easy”. Ganhou também prêmios. Em 2016, já formados, os alunos foram a Brasília para participar da etapa nacional da mostra Inova SENAI, no escopo da Olimpíada do Conhecimento. Voltaram da capital federal com um segundo lugar (entre 30 projetos de todo o país) na categoria “Inovação Tecnológica” – e a primeiríssima colocação do evento pelo voto popular.

O SENAI, que detém a propriedade intelectual da muleta Simple Easy, contatou um fabricante do interior paulista para tentar materializar o produto. A ideia ainda não prosperou. Prestes a se formar em Pedagogia, Bruna reforça a excelência do SENAI na questão da inclusão e vislumbra a possibilidade de atuar na educação de alunos com outras deficiências, como autismo e dislexia:

“Precisamos de um olhar diferenciado para essas crianças. Nem sempre elas estão incluídas, muitas vezes as próprias mães ainda estão se adaptando e preferem não colocá-las já na escola. Trabalhar com crianças com algum déficit seria interessante, é um mercado bem grande. Pode ser uma opção de trabalho.”

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