Verbete Draft: o que é Stakeholder

Isabela Mena - 20 jan 2016John Mackey, cofundador da Whole Foods Market e do movimento do Capitalismo Consciente, é um exemplo de aplicação ampla do conceito de Stakeholder: todos importam.
John Mackey, cofundador da Whole Foods Market e do movimento Capitalismo Consciente, é um exemplo de empreendedor que aplica de forma ampla o conceito de Stakeholder: todos importam.
Isabela Mena - 20 jan 2016
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

STAKEHOLDER

O que acham que é: Sinônimo de shareholder e stockholder, ou seja, acionista.

O que realmente é: A palavra em inglês Stakeholder é definida, no meio empresarial brasileiro, por “partes interessadas” (em um negócio). De acordo com Marcelo Nakagawa, diretor de empreendedorismo da FIAP e pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Gestão Tecnológica e Inovação da USP, há várias definições para Stakeholder, mas uma das mais relevantes, no Brasil, é a do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC): “Stakeholder são públicos relevantes com interesses pertinentes à empresa ou, ainda, indivíduos ou entidades que assumam algum tipo de risco, direto ou indireto, em face da empresa, como: sócios, empregados, clientes, investidores financeiros, fornecedores, credores, organizações que representem o meio ambiente, legisladores e comunidades envolvidas, direta ou indiretamente, com as atividades da empresa. Estão incluídas as partes afetadas pela empresa que não estão organizadas e não são capazes de ser engajadas, como o meio ambiente, outros seres vivos, crianças, gerações futuras, etc”.

O professor Wilson Nobre, membro do Fórum de Inovação da FGV, complementa dizendo que sempre que se fala em Stakeholder é preciso classificar entre os que são afetados positivamente e aqueles que são afetados negativamente pela empresa ou pelo empreendimento. Ele cita o Rodoanel Metropolitano de São Paulo para exemplificar. “O Rodoanel teve atrasos na obra e mudanças no projetos por conta do movimento ambientalista, que é um Stakeholder importante de uma obra que cria impacto ambiental afetada negativamente. Neste caso, os Stakeholders afetados positivamente são o governo, as empreiteiras e o sindicato dos caminhoneiros.”

Nobre diz ainda que, no Brasil, o mais considerável de todos os Stakeholders é o Governo que, por meio da cobrança de impostos, detém 40% do produto econômico das empresas, impondo a elas um custo bastante alto. “Em todos os lugares do mundo o Governo é um Stakeholder importante. No Brasil mais ainda porque o Governo brasileiro fica com uma parte muito grande do que a empresa gera economicamente e, em geral, não ajuda muito ou até mesmo atrapalha seu desenvolvimento”, afirma. Há Stakeholders com mais poder e outros com menos. A Anvisa, por exemplo, é um Stakeholder com um poder absoluto. Se ela suspende um produto, não há negociação. Já um concorrente de uma empresa (que seria um Stakeholder afetado negativamente pela concorrência), tem um poder relativo.

Quem inventou: Nakagawa diz que apesar da compreensão de Stakeholder ter evoluído ao decorrer dos anos, algumas pessoas recebem méritos por sua definição. São eles o professor Edward Freeman (Darden School/ University of Virginia), normalmente citado como o precursor por ter elaborado a “Teoria do Stakeholder”. “Mas o próprio Freeman cita o trabalho de Adolf Berle, da Columbia Law School, e Gardiner Means, da Harvard University, e o classifica como seminal, ou seja, o ponto em que se começa a discutir os diferentes Stakeholders de uma organização”, fala. Ele diz que o mesmo momento em que a “Teoria do Stakeholder” ficou conhecida, também crescia a importância das práticas de governança corporativa, que orientava as empresas para que fossem administradas da forma mais ética, transparente e profissional possível. Isso introduziu, de uma vez por todas, o conceito de Stakeholders nas empresas de capital aberto em todo o mundo. Nos anos 2000, o conceito de Stakeholder ganhou nova relevância ao ser considerado nas práticas de sustentabilidade das organizações.

Quando foi inventado: A Teoria do Stakeholder foi criada na década de 1980, e o trabalho “Private property and the modern corporation”, dos professores Adolf Berle e Gardiner Means, foi publicado em 1932. O uso do conceito de Stakeholder evoluiu na medida em que as organizações passaram a ser cobradas (ou se tornaram mais conscientes do seu papel) pelo seus impactos na sociedade, no meio ambiente e nas gerações futuras. Até antes da Primeira Guerra Mundial, em geral, as empresas eram pequenas e de um ou pouco sócios. Quase sempre a única “parte considerada” era a dos próprios donos e era incomum haver cobranças de outras partes (vez ou outra, os sindicatos de empregados conseguiam realizar algum movimento na exigência de melhores condições de trabalho). A partir do término da Segunda Guerra Mundial, as empresas se tornaram maiores, mais complexas e mais internacionalizadas. Na década de 1970, passaram a ser mais cobradas por seus impactos. Já no início da década de 1980, principalmente nos Estados Unidos, houve uma evolução na consciência de que havia outras partes interessadas num negócio — e não apenas seus donos, executivos e funcionários.

Para que serve: Para guiar decisores no planejamento e gestão de empresas, iniciativas e/ou projetos (privados ou públicos, com ou sem fins lucrativos). “Isso para que atendam, na medida do possível, todas as partes interessadas da melhor forma possível. Também serve para que as partes interessadas se envolvam e cobrem medidas e resultados que beneficiem a todos”, diz Nakagawa. Nobre diz que o Stakeholder cria a ideia de que todas as partes são importantes e tenham que ser consideradas para um empreendimento, qualquer que seja ele. “Serve para que se preste atenção a todas as partes importantes, aquelas que ajudam a alavancar o empreendimento e aquelas que ajudam a impedir sua realização”, afirma.

Quem usa: “À medida que a democracia foi avançando, mais as partes interessadas passaram a ter poder de negociação”, diz Nobre. De acordo com o professor, no governo militar brasileiro, o movimento ambiental, por exemplo, não tinha poder, e órgãos reguladores tinham apenas poder relativo, já que estavam subjugados ao poder autoritário. “Hoje, há inclusive escolas e cursos que ensinam a prestar atenção a todas as partes interessadas”, diz.

De acordo com Nakagawa, quem mais tem utilizado o conceito de Stakeholders são as empresas de capital aberto, que precisam, por regulamentação, atender não só aos seus Stockholders (acionistas), mas também às outras partes interessadas. “Mas organizações que melhor utilizam o conceito e buscam expandir seu uso são as que, voluntariamente, se propõe a serem mais sustentáveis. Estas são mais ativas e inovadoras na forma de encontrar melhores modelos de negócios, cadeias de valor e formas de engajamento para ter melhores impactos para seus Stakeholders”, diz. O professor conta que merece destaque o trabalho prático de John Mackey, cofundador da Whole Foods Market e do movimento do Capitalismo Consciente (pregado por, além da Whole Foods, empresas como Interface e The Container Store), que criou uma lógica de implementação de uma visão mais ampla e ativa dos Stakeholders na gestão e nos resultados dos negócios. “Aqui, os stakeholders não são partes apenas legalmente exigidas ou estrategicamente incluídas, mas membros obrigatoriamente ativos (ativistas) e cujos interesses também precisam ser (muito bem) atendidos”, fala Nakagawa.

Efeitos colaterais: Não considerar o(s) Stakeholder(s) pode ocasionar em perda total, atraso ou aumento de custos de um projeto. “Por exemplo, ignorar um órgão regulador, lançar um produto e tê-lo tirado do mercado, por ser classificado pelo órgão como proibido ou não considerar um movimento ambientalista na construção de uma obra pode atrasar sua execução, como no caso do Rodoanel”, diz Nobre. Segundo Nakagawa, o desafio é sempre colocar o conceito de Stakeholder em prática de forma eficaz e justa, já que há uma tendência de cada parte querer ser privilegiada em detrimento a outra. “Aqui entra o ‘Dilema do Prisioneiro’, muito citado em processos de negociação: se uma parte buscar o privilégio, todos perdem. Mas se cada parte ceder, todo ganham, mesmo que parcialmente”, fala.

Quem é contra: Nakagawa fala que buscar atender os interesses de diferentes partes interessadas em uma organização pode encontrar diversos tipos de barreiras. A primeira, é a ausência da necessidade da reflexão sobre a importância de atender os Stakeholders. “Muitos políticos, gestores públicos e donos de empresa simplesmente não acreditam que o conceito seja relevante e que pode até ser prejudicial, por levantar discussões que, para eles, inexistem”, diz. Segundo o diretor de empreendedorismo da FIAP, nas empresas de capital aberto, que precisam lidar com os Stakeholders por regulamentação da autoridade mobiliária, muitos executivos podem ser contra uma visão mais holística (como ocorre no Capitalismo Consciente e B Corps) por entenderem que isso significa aumento de saídas de caixa e consequentemente, redução nos lucros. “Muitos gestores, mesmo que gostem do conceito, podem levantar barreiras na sua adoção por entenderem que será algo polêmico e complexo”, diz.

Para saber mais:
1) Leia, na seção Business Studies, da BBC inglesa, um texto que explica o que é Stakeholder e fala sobre seus conflitos de interesses.
2) Assista aos vídeos “How to Align and Inspire Your Stakeholders” e “How to Engage Your Stakeholders” linkados no texto introdutório Build a Breakthrough Brand: Align, Inspire & Engage Stakeholders, na Business Insider.
3) Veja o slideshare (31 slides) Innovation and Susteinability in the National Implementations of e-Health: an International Perpective on the role of Stakeholders.

tecnisa

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