“Você pode deixar a Coca-Cola, mas ela não vai te deixar, e estará presente em qualquer lugar onde você estiver”

José Ney Lanças - 9 ago 2019
José Ney Lanças trabalhou na Coca-Cola por mais de 20 anos. Sua experiência e imaginação renderam material para o livro "7X Sabor de Emoção – a fórmula secreta finalmente revelada".
José Ney Lanças - 9 ago 2019
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por José Ney Lanças

Essa, sem dúvida, é a máxima que persegue dez em cada dez “ex-cocacoleiros”… Diferentemente do que acontece com pessoas que tenham trabalhado em outras empresas, não há um só lugar no planeta onde você queira ir que a marca não esteja presente.

Sua onipresença chega a incríveis 99% dos países do mundo (só não está em Cuba e na Coreia do Norte, oficialmente). Penso que, se o homem habitasse a Lua, ou Marte, certamente lá haveria um “Beba Coca-Cola” bem grande na chegada dos terráqueos, para que todos se sentissem em casa logo de cara. (Detalhe: a bebida foi a primeira a ser consumida a bordo de uma espaçonave).

Com isso posto, eu ter escrito um livro sobre a empresa, dar palestras sobre o tema, mesmo depois de ter saído da companhia 20 anos atrás, é quase uma redundância. Entrei na Coca-Cola em 1981, como estagiário de Engenharia Mecânica, com 23 anos, e lá fiz uma carreira crescente, saindo como Diretor Corporativo no exterior.

Talvez, minha diferença para meus colegas é que o tema Coca-Cola, sua história, seus personagens, seus segredos e sua enigmática presença sempre me encantaram, me seduziram e me aguçaram a curiosidade. Tudo isso me levou a ler muito sobre o negócio, viver os anos que estive na empresa com muita dedicação e aprendizado, sendo, inclusive, a um dos poucos brasileiros a ter estado no Centennial Celebration, em Atlanta, evento comemorativo dos 100 anos da empresa.

Com minha experiência sobre a companhia e um pouco de criatividade, escrever o livro 7X Sabor de Emoção – a fórmula secreta finalmente revelada foi um pulo. A história já existia, e a estória foi criada, “derramada” na minha mente, como se uma grande garrafa de Coca-Cola fosse despejada sobre mim. Veio do nada (ou de tudo!).

Na obra misturo, como se preparasse a bebida, informações que trago de tantos anos dedicados a conhecer o negócio, com outras tantas que criei. A mistura envolve fatos históricos, ação, aventura, romance e ficção, e se passa em Atlanta, predominantemente, justamente na semana em que a Coca-Cola comemora seu centenário, em maio de 1986.

Um crime de extorsão mundial coloca em risco a empresa centenária como nunca antes houvera acontecido e os executivos da empresa estão com as mãos atadas, sem conseguir encontrar uma solução plausível para a ameaça.

Leia um capítulo da obra de José Ney Lanças (que no livro assina como J.N. Spears) selecionado para o Projeto Draft:

Na sede da empresa, em Atlanta, estado da Geórgia, Elizeu Gonzáles, CEO, Chairman e Presidente da The Coca-Cola Company, estava em seu gabinete da torre principal do complexo da empresa, no 29º. andar do cruzamento da North Avenue com a Luckie Street. Como sempre, a temperatura ambiente era muito baixa, próxima de 15 graus centígrados, uma determinação e gosto de Gonzáles, o que obrigava a todos que trabalhavam nesse andar a se vestirem como se todos os dias do ano fosse inverno. Era fácil descobrir quando ele estava despachando de seu gabinete, apenas observando a vestimenta de todo o seu staff e demais pessoas que trabalham à sua volta. Se as pessoas estivessem com roupa normais, era porque Gonzáles não estava presente.

“7X Sabor de Emoção” é vendido no site da Amazon.

Sozinho, com o semblante abatido, olhava de sua janela até onde a vista alcançava, com toda Atlanta a seus pés, e o futuro da empresa que liderava sobre a sua cabeça. Não era fácil ser ímpar naquele momento e não ter ninguém com autoridade como a dele para compartilhar assuntos daquela natureza. Mesmo sendo diretor conselheiro em várias empresas de porte, o assunto que ele estava tratando era só da Coca-Cola, e de mais ninguém.

Numa das salas de reunião do mesmo andar, com móveis clássicos do início do século XX, tapetes persas e quadros na parede com a imagem dos personagens históricos da companhia e que fizeram parte dos primeiros 100 anos, nada em Elizeu lembrava os momentos de glória, coincidências positivas e sorte da companhia. Todos os principais vice-presidentes e os mais destacados conselheiros e acionistas da empresa ali trabalhavam, dia e noite, na tentativa de encontrar uma solução para o problema que vinham enfrentando.

E esse problema tinha um nome, uma identidade, mas ninguém conhecia sua face, sua localização, sua origem e nem mesmo a motivação para tal atitude, a não ser ganhar dinheiro, muito dinheiro.

O Alquimista, como se autodenominava o cérebro por trás da ação terrorista que ameaçava a empresa, tinha controle absoluto de tudo. E pior, já que além de cérebro tinha braços enormes, tentáculos que podiam alcançar qualquer parte do mundo, e pôr em prática as suas ameaças, ao mesmo tempo, como se fosse onipresente. O Alquimista poderia ser qualquer pessoa, qualquer grupo criminoso ou
mesmo terrorista, mas seu poder de ação demonstrava que tinha capacidade financeira para tal, e poderia se espalhar fácil e rapidamente, como vinha demonstrando.

A ameaça maior, contaminar os produtos e distribuí-los em vários pontos do mundo, simultaneamente, como vinha acontecendo, era um mistério difícil de equacionar e entender, por sua amplitude e dificuldade operacional.

Como ele conseguia se infiltrar nas fábricas e sabotar os produtos em tantos países diferentes? Em que momento entrava em contato com os produtos para contaminá-los durante o processo de produção, já que esse era todo fechado hermeticamente?

Com a desculpa do centenário, todas as fábricas do mundo estavam operando com segurança reforçada, principalmente com câmeras e duplo efetivo de supervisão nas salas de produção e estoque. Nenhuma pessoa estranha poderia adentrar nas dependências das unidades fabris sem serem devidamente identificadas, e ninguém que não fosse funcionário poderia entrar nas áreas de produção. A hipótese de contaminação de produtos dentro dessas unidades era praticamente impossível.

Se não fosse na produção, como ele conseguia violar as embalagens no mercado, para contaminá-las e depois lacrá-las novamente, sem deixar vestígio de que as embalagens haviam sido abertas? Todas as embalagens investigadas no mercado, em amostras aleatórias, não mostravam nenhum problema.

Estaria usando o próprio concentrado roubado em alguns países para fazer a bebida? E de onde ele teria tirado as informações de como fazer o produto final?

Embora fosse possível responder SIM para todas as hipóteses mencionadas, dada à sofisticação de como o Alquimista trabalhava, os locais onde haviam surgido alguns casos de contaminação não eram os mesmos dos sequestros de concentrados, como o que ocorrera no Brasil. Além disso seria preciso mais do que os concentrados para se fazer a bebida, já que havia todo um processo produtivo por trás, várias etapas de preparo, de inclusão de ingredientes, de resfriamento da bebida, enchimento das embalagens e lacração, entre outras muitas ações.

O Alquimista tinha que ter conhecimentos de processo produtivo, e também ter conhecimento de algo que ninguém tinha, além daquelas poucas 5 pessoas da própria The Coca-Cola Company, informação essa guardada a sete chaves: a fórmula secreta

A resposta a essa pergunta veio na primeira ligação que Elizeu atendeu do Alquimista, algum tempo atrás. Junto com a resposta, uma série de outras perguntas intrigantes surgiriam, embaralhando ainda mais o caso.

 

José Ney Lanças, 61, é formado em Engenharia Mecânica. Começou como estagiário na Coca-Cola, tendo ocupado o cargo de diretor de desenvolvimento estratégico e vice-presidente de distribuição para a América Latina da empresa.

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