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O fim do modelo tradicional do Ensino Superior: entenda por que as universidades do passado não sobreviverão no futuro

Daniella Grinbergas - 3 ago 2022 Daniella Grinbergas - 3 ago 2022
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A pandemia de Covid-19 mexeu profundamente com diversas esferas. A educação mergulhou em uma onda violenta de transformação logo no começo do isolamento social, com a migração para o ensino remoto da noite para o dia. Estávamos maduros digitalmente para isso? Definitivamente, não. Passaram-se dois anos e ainda não atingimos o preparo adequado para o ensino híbrido.

Entretanto, estamos em um caminho sem volta. Essa mudança temporária é apenas o começo de uma revolução nunca antes vivida pelo setor, ameaçando a existência das universidades que não conseguirem se adaptar à nova realidade.

Essa é uma das expectativas apontadas pelo estudo Futuro da Educação Superior, publicado pela EY a partir de pensamentos provocativos e entrevistas com líderes universitários, instituições públicas e privadas e faculdades.

Porém, muito além de mostrar como a estrutura do setor pode mudar, o material tem o intuito de ajudar os líderes universitários a enxergar o papel de sua instituição nesse novo cenário.

Por que esse caminho não tem volta?

O mundo mudou em diversos aspectos, como demográfico, na geopolítica, e, principalmente, nas demandas de trabalho atual. Some-se a isso as expectativas dos estudantes do Ensino Superior que tiveram contato com a experiência remota na educação e já compreenderam que o futuro é digital.

Entretanto, Eduardo Tesche, sócio da EY-Parthenon e líder para o setor de Educação, explica que o ensino ainda engatinha nessa direção:

“Definitivamente, o aluno esta à frente da instituição, que é mais lenta para acompanhar as mudanças do ponto de vista tecnológico e metodológico”.

Sendo assim, as necessidades dos estudantes devem ditar e moldar o futuro da Educação Superior. Os ecossistemas digitais no campo da aprendizagem e o conhecimento emergem e serão cada vez mais incluídos nessa jornada rumo à digitalização de qualidade.

E é aqui que entra um grande desafio: investir em tecnologias de qualidade não significa mudar o jeito do ensino. Muito além da inovação física, é preciso investir fortemente na capacitação dos nossos docentes, como afirma Mariane Patussi, gerente sênior da EY-Parthenon:

“Como em qualquer transição, a recapacitação das pessoas é o maior desafio. Isso porque, nós não dobramos a nossa velocidade como os microprocessadores. Inserir alta tecnologia é possível de forma ágil, mas é fundamental ter professores preparados para essa transformação”.

 Quanto valerá um diploma?

Tal qual conhecemos hoje, pouco! A ideia é romper com a formação completa e partir para o ensino personalizado, que faz mais sentido para a carreira de cada estudante. O diploma dá lugar a microcredenciais que, juntas, habilitam as pessoas.

“Muda-se a lógica que seguimos hoje. Isso porque, o grande ponto é a empregabilidade e o projeto de vida de cada um”, atesta Tesche.

O tempo também deixará de ser padrão. Primeiro, porque cada aluno poderá adaptar seu período de estudo para determinado fim e, depois, porque, mais do que nunca, o lifelong learning passa a fazer sentido. A cada mudança do mercado ou da carreira de cada um, volta-se à universidade para continuar a formação.

Como as universidades podem se preparar para essa revolução

Sabe o conceito de Futures Literacy, a habilidade de imaginar o amanhã para definir as ações disruptivas de hoje, considerado como uma das principais habilidades para o nosso século? Ele é imprescindível para começar a planejar a trajetória.

Nesse sentido, o relatório da EY apresenta cinco “E se?”, perguntas que provocam reflexões profundas que podem transformar as instituições de hoje e fazê-las encontrarem a rota certa.

1. “E se o custo do aprendizado cair para zero?

Supondo que até 2030 seja possível conquistar qualificações a custos muito baixos, o aluno pode ter acesso ao aprendizado on-line de todas partes do mundo, no ritmo que escolher. Nesse sentido, as universidades seriam apenas uma biblioteca virtual, mas esse não é o caminho. Não basta entregar conteúdo pronto. O papel do professor continua sendo fundamental, as discussões em sala são preciosas, bem como as sessões práticas e a socialização dos estudantes. Por isso, é preciso repensar o valor único do aprendizado presencial e se redesenhar.

2. “E se as jornadas de estudo passarem a ser inteiramente flexíveis e customizáveis?”

Criar a própria bagagem de conhecimento já é realidade. Diversas instituições e provedores oferecem credenciais flexíveis e cumuláveis para que o estudante faça suas combinações e crie sua jornada de aprendizado e capacitação. Nesse sentido, será preciso cada vez mais abrir o leque e oferecer personalização. A saída é abraçar o papel de conselheiro de carreira e oferecer uma gama de cursos que diferenciem a universidade e atraiam os alunos, criando uma relação de longo prazo. E vale lembrar que não só as universidades credenciam, mas há novos provedores de ensino no jogo.

3. “E se os provedores de educação passarem a ser cobrados por resultado?”

Imaginando que em 2030 as pessoas vivam em constante aprendizado, basta entrar em uma plataforma de carreira, pesquisar os cursos com base nas aspirações individuais e criar a jornada de estudos. A ferramenta tem os certificados para compartilhar com empregadores e um painel de controle do retorno do investimento em educação. Nesse cenário, as universidades dividem mercado com mais certificadoras, como provedores de ensino on-line, cursos de empregadores e associações profissionais. Todos são avaliados a partir de informações compartilhadas que atribuem nota, elevando a competitividade.

4. “E se as pesquisas comercializadas se pagarem?”

O cenário proposto é que a pesquisa seja mais comercial, feita sob demanda, aproximando instituições de ensino, indústria e mercado financeiro. A receita de pesquisas comercializadas paga seus custos e as universidades passam a abordar esse segmento deliberadamente, com apoio do governo. Quem se abre para o financiamento de pesquisas comerciais deixa de depender das mensalidades dos alunos para esse fim. Outra vantagem é que essas universidades poderão se tornar hubs que se unem a startups e empresas consolidadas, aumentando sua relevância.

5. “E se a tecnologia puder resolver a diferença global entre demanda e oferta?”

O número de estudantes do Ensino Superior cai nos países desenvolvidos, ao passo que a demanda por ensino de qualidade só aumenta nos emergentes. Nessa realidade, os modelos on-line e os híbridos ganham o mercado, atraindo alunos do mundo todo, que não precisam se deslocar. Por meio de parcerias, as universidades de fora ajudam as emergentes a desenvolver e melhorar seus cursos, ou os desenvolvem sozinhas e contam com as parceiras locais para recrutar alunos e fornecer infraestrutura física.

A transformação é urgente, mas estamos prontos?

Um grande problema é que a mudança é lenta e o mercado não pode esperar. A necessidade das empresas em formar a força de trabalho é latente e, nesse sentido, muitas decidiram assumir essa tarefa. Quer exemplos? A EY está criando seus próprios cursos na área de inovação, a Afya, que abrange a cadeia de saúde de ponta a ponta, passou a olhar para o lifelong learning do médico; a A.Telecom, de soluções e serviços de TI e telecomunicação, está entrando em educação. Nessa esteira, as universidades acabam tendo de competir com mais certificadoras.

É preciso correr contra o tempo e ele é muito relativo em relação a essa reinvenção. Tesche calcula que daqui 10 anos algumas instituições de ponta já tenham alcançado esse objetivo, mas é impossível uma previsão da universalização da transformação.

Aqui no Brasil, um entrave ainda maior é a desigualdade social, um problema estrutural. Dependemos de políticas públicas para correr atrás do prejuízo e conseguir recapacitar nossa força de trabalho.

“E a pandemia gerou um impacto ainda maior na educação. A formação superior foi prejudicada, com a saída de muitos estudantes, e isso será sentido daqui três anos. E tem uma geração de crianças que ficou sem aula e diversos estudos apontam declínio cognitivo nessa população mais pobre e impactos negativos de longo prazo”, destaca Tesche.

A única certeza é a de que o futuro não comporta mais o modelo do passado. Bruce Lines, COO da Universidade de Adelaide, um dos entrevistados deste estudo da EY, aponta:

A disrupção do modelo de negócios atual chegou. Eu duvidei muito que isso aconteceria durante a minha vida, mas a mudança está aqui. Já é uma realidade”.

 

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