“A genética é a vacina do século 21 para os pets.” Com essa frase de efeito, o carioca Eduardo Lemos, 38, resume o horizonte de atuação de sua startup.
Fundada há dois anos, a Petgenoma analisa o DNA de cães para identificar predisposições a doenças e ajudar no diagnóstico precoce. E sonha em tornar testes genéticos parte da rotina veterinária no Brasil:
“A gente consegue proporcionar aos veterinários uma capacidade muito maior de fazer uma análise completa e contribuir para uma vida mais longa e saudável do animal”
A empresa mantém um laboratório próprio (instalado no CIETEC, centro de inovação da USP) e desenvolveu uma tecnologia que mapeia mais de 300 variantes genéticas — incluindo riscos de doenças cardíacas, renais, endócrinas, neurológicas, oftálmicas e gastrointestinais.
O teste, feito a partir de um swab bucal (o famoso “cotonete”), também revela traços comportamentais e a composição racial do animal. Atualmente, a startup vende cerca de 600 testes por mês, que custam entre 590 e 790 reais.
A Petgenoma conta hoje com uma equipe de 21 pessoas, uma parceria com a Illumina (multinacional líder em genotipagem e sequenciamento) e investimentos que somam 4,5 milhões de reais.
A expectativa é alcançar o break even em julho. Além disso, Eduardo prevê fechar 2025 com um faturamento mensal de 1 milhão de reais – e chegar ao fim do ano que vem acumulando 18 milhões de reais em receita.
A empresa anuncia que já tem um projeto piloto em andamento no Chile e, a partir de 2026, quer expandir para México, Colômbia, Peru, Argentina e Uruguai.
Antes de fundar a Petgenoma, Eduardo teve uma trajetória executiva tradicional. Foi trainee na Whirlpool, gestor na L’Oréal, diretor de estratégia na Pearson e gerente geral na PlayKids.
Aquela carreira corporativa, porém, não o empolgava:
“Sempre fui ‘cambaleando’ de emprego [em emprego], porque eu era muito desajustado mesmo. Não tinha o menor tesão, o menor prazer no que eu fazia”
Foi na Pearson, onde passou a trabalhar em 2015, que algo começou a mudar. Ao assistir a uma palestra interna sobre educação, ele diz que se emocionou e teve a primeira sensação de estar conectado a um propósito.
Em 2017, depois de ver um documentário sobre genética, Eduardo propôs à empresa um projeto de testes genéticos para crianças, com foco em predisposições cognitivas e estímulos personalizados.
A resposta foi curta: “‘Cara, você tem um big fish to fry, fica quieto aí e vamos bater a meta do ano’.”
A ideia de criar testes genéticos para crianças não saiu da cabeça. Em 2020, ele trocou a Pearson pela PlayKids, onde participou de um M&A com a Sandbox. No ano seguinte, deixou a empresa para empreender e criou a Ubuntu Gentec, que trazia aquela proposta inicial para o mercado.
Entretanto, o produto enfrentou resistência; segundo Eduardo, os pais, aparentemente, tinham receio de descobrir informações delicadas sobre os filhos. “Isso rechaçava o impulso de compra.”
Com a operação por um fio, ele decidiu adaptar o projeto para outro universo: o dos pets. “Sou um apaixonado por animais, sempre fui, já tive três cachorros”, afirma. A mudança foi tanto estratégica quanto emocional. E deu certo.
A Petgenoma ganhou corpo em junho de 2023, com mais três sócios vindos da Ubuntu: Fabiana de Andrade (geneticista-chefe), Douglas Maia (CTO) e Paula Rohr (doutora em genética). Pouco depois, o time ganhou o reforço de Darylene Tyska, zootecnista especializada em melhoramento genético.
O investimento inicial veio de nove investidores anjo. E a empresa, afirma Eduardo, rapidamente ganhou tração no mercado.
O teste da Petgenoma é feito a partir de uma amostra de células da gengiva do animal.
No laboratório próprio da empresa, o material passa por um processo de genotipagem que gera um relatório dividido em duas frentes: uma mais lúdica, que aponta a composição racial e os traços comportamentais do pet; e outra voltada à saúde preventiva, com o mapeamento das predisposições genéticas para doenças.
Na prática, o exame oferece ao veterinário informações que permitem antecipar diagnósticos e planejar intervenções com mais segurança.
“Ele pode salvar a vida do animal em uma cirurgia entendendo como ele metaboliza dezenas de fármacos e anestesia. Por exemplo, o animal pode entrar em choque por anestésico. É uma questão genética, que não está no exame de sangue periódico”
Além dos profissionais de saúde, criadores usam o teste para reduzir o risco de doenças hereditárias em novas ninhadas. E os tutores, além de cuidar melhor dos animais, costumam buscar o exame por curiosidade sobre a origem dos pets adotados.
Hoje, o produto está disponível apenas para cães; em agosto, a empresa deve lançar a versão para gatos.
Outro projeto em desenvolvimento é um painel oncológico específico para pets – uma demanda de veterinários e tutores.
Segundo Eduardo, o câncer é uma das principais causas de mortalidade entre cães e gatos. Identificar, por meio de um teste, uma eventual predisposição genética pode permitir ao tutor mudar completamente a rotina de saúde do animal.
“Se eu descobrir uma pré-disposição para câncer de mama que ocorre em algumas gatas, por exemplo, vou fazer um ultrassom a cada três meses para acompanhar. Mas eu não descobriria isso em um exame clínico, observando o animal saudável”
A longo prazo, o plano é usar os dados coletados para oferecer serviços personalizados, como suplementos e rações sob medida. “Com a quantidade de dados que a gente tem na mão, vamos poder contribuir muito para a indústria alimentícia, farmacêutica e laboratorial”, diz Eduardo.
Até 2030, a Petgenoma espera recomendar exames periódicos específicos para cada animal e até programas de adestramento personalizados, com base no perfil genético. A ambição é se tornar referência em saúde animal personalizada, para além dos testes genéticos:
“O mais bonito é que temos um modelo de negócio onde todos ganham: tutores, veterinários, criadores e, claro, os próprios pets.”
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