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Reconectar os funcionários à natureza traz benefícios para as empresas (e vai muito além do clichê de “abraçar árvores”)

Dani Rosolen - 18 ago 2025
Anderson Santos e Cris Muniz Araújo, cofundadores da Simbiótica Experiências.
Dani Rosolen - 18 ago 2025
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Simbiose, do latim symbiosis, significa vida em comum, intimidade, cooperação. Na biologia, é a associação mutuamente benéfica entre dois ou mais seres vivos.

Foi esse conceito que inspirou Anderson Santos e Cris Muniz Araújo a criarem a Simbiótica Experiências, uma agência de vivências que busca inserir a natureza no cotidiano das empresas.

O projeto é um desdobramento da Escola de Botânica, já retratada aqui no Draft em 2018 — e que passou por importantes transformações ao longo dos últimos anos, incluindo a criação desse braço voltado ao universo corporativo.

A ESCOLA DE BOTÂNICA E A TRANSIÇÃO PARA O DIGITAL

A Escola de Botânica foi idealizada em 2016 por Anderson, que é biólogo e botânico.

“Foi o primeiro espaço de ensino da cidade de São Paulo — até onde a gente tem notícia — dedicado exclusivamente para falar sobre plantas”

Com cursos, aulas e oficinas, o objetivo sempre foi aproximar diferentes públicos da natureza. Em 2019, o projeto, que funcionava na Santa Cecília, região central de São Paulo, vivia seu auge.

“Tínhamos aulas todos os dias, de segunda a sábado”, diz Anderson. “Na época, passavam de 500 a 600 pessoas por mês no nosso espaço e contávamos com 70 professoras e professores.”

Naquele mesmo ano, Gisele de Oliveira, bióloga que tocava o negócio junto com Anderson, precisou se afastar por motivos de saúde e, alguns meses depois, deixou a sociedade. Então veio 2020 – e com ele, a pandemia. Anderson, que sempre acreditou na importância da presença física para o ensino de botânica, teve de se adaptar ao ambiente digital.

“A gente testou tudo que era possível, desde mandar kits para a casa das pessoas e marcar encontros online para fazermos a atividade juntos até transformar aulas que eram muito práticas em teóricas.”

O FORMATO ITINERANTE GANHOU FORÇA

Com o afrouxamento das restrições, a escola reabriu seu espaço no Centro e depois migrou para um imóvel com “cara de casa de vó”, em Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista. Apesar disso, o digital se consolidou. Em 2022, a escola registrou quase 100 alunos de outros países por conta do formato online.

O novo desafio passou a ser reconquistar o público presencial. Segundo Anderson, o medo da contaminação, a mudança nos hábitos sociais e a concorrência com outros tipos de entretenimento dificultaram o retorno. A retomada foi lenta e revelou que continuar com um espaço fixo já não era financeiramente viável.

“Decidi manter as experiências itinerantes, em espaços parceiros, algo que a gente já fazia até antes da pandemia, mas eu não dava tanto valor porque acreditava no encantamento de estar em um lugar próprio dedicado às atividades com a natureza” 

Em 2023, no entanto, após ir morar na Zona Oeste de São Paulo, Anderson conheceu o Condô Cultural, na Vila Anglo Brasileira. A Escola de Botânica manteve as parcerias itinerantes, mas passou a contar com uma base lá, usando as áreas externas coletivas do espaço cultural para muitas de suas vivências presenciais, como a oficina de secagem de flores e plantas marcada para o dia 29 deste mês.

UMA NOVA SÓCIA E UMA NOVA FRENTE DE ATUAÇÃO

Durante a pandemia, Cris (a futura sócia de Anderson) passou a atuar como voluntária da Selvagem, organização criada por Ailton Krenak, Anna Dantes e Madeleine Deschamps com foco em estudos sobre a vida de povos originários. 

A Selvagem fez eventos em parceria com a Escola de Botânica, e foi assim que Cris se aproximou de Anderson. Ela já vinha buscando uma transição de carreira após anos nas áreas de tecnologia e marketing de grandes empresas.

“Eu já tinha estudado, por exemplo, biomimética na própria Escola de Botânica e feito um curso de curadoria de conhecimento na Inesplorato” 

Em conversa com o biólogo, Cris soube de sua intenção de investir no mundo corporativo — demanda que já era atendida de forma esporádica pela escola com funcionários de empresas frequentando cursos e levando a proposta para seus ambientes de trabalho. Ela se ofereceu para ajudá-lo a estruturar essa frente. 

“Fui levantar o que a gente já tinha feito nesta área e me deparei com uma lista de 60 empresas atendidas em cerca de cinco anos”, diz Anderson. “Percebi que tinha algo importante ali para o qual eu nunca dei muito valor.”

A dupla decidiu sair daquela posição passiva e prospectar ativamente. Mas enfrentaram resistência, lembra o biólogo:

“Quando nos apresentávamos como Escola de Botânica, muitos não compreendiam o valor da proposta. O nome parecia criar uma barreira”

Foi assim que surgiu, em 2023, a Simbiótica — nome inspirado em estudos da biologia e no livro Planeta Simbiótico, de Lynn Margulis, que defende que a vida nasce das relações. “Tivemos que repensar também o discurso”, afirma Cris. “Quando falávamos em ‘experiências com a natureza’, muita gente achava que iríamos apenas abraçar árvores.”

DE BANHOS DE FLORESTA A AÇÕES COM INFLUENCERS: O QUE A SIMBIÓTICA OFERECE

A Simbiótica cria experiências personalizadas, geralmente para áreas de marketing ou RH, com foco em promoção de bem-estar e saúde mental; estímulo à criatividade e inovação; fortalecimento da comunicação e colaboração entre a equipe; e engajamento entre diversidades. 

Uma das experiências entregues pela Simbiótica na Coty.

Ao longo dos anos, a empresa já levou suas experiências e vivências a 115 organizações. Os sócios citam, por exemplo, o banho de floresta realizado para funcionários da Caixa Vida e Previdência, em São Paulo e Alphaville. A prática japonesa Shinrin-Yoku propõe caminhadas silenciosas em ambientes verdes para promover bem-estar e pode ser adaptada para lugares onde não exista propriamente uma floresta, como conta Cris:

“No escritório de São Paulo, o prédio já conta com uma grande área verde em torno do condomínio. Então, foi possível fazer esse momento de pausa, respiração e observação de pássaros e plantas lá mesmo. Já em Alphaville, onde não há uma área verde, a gente levou a floresta para dentro do escritório por meio de vários elementos táteis, olfativos e sonoros, além de uma conversa”

Segundo Anderson, a ideia é gerar um momento de pausa interior: “É emocionante ver as pessoas se conectando com memórias e compartilhando experiências a partir da natureza. Isso ajuda também a criar vínculos e fortalece os laços entre colegas de trabalho”.

Outro projeto envolveu o lançamento de uma fragrância da marca Chloé, da francesa Coty, no Museu da Casa Brasileira. A Simbiótica criou um “laboratório dos sentidos” para as 100 influenciadoras convidadas para o evento, onde elas puderam cheirar as matérias-primas do perfume e escrever sobre as sensações despertadas. Anderson lembra:

“Uma dessas influencers se emocionou ao lembrar da avó a partir da experiência e postou sobre a nossa vivência durante toda a semana” 

Também houve ações voltadas à inspiração criativa, como a realizada com a Lunelli Têxtil, de Santa Catarina. A Simbiótica promoveu atividades com pigmentos naturais feitos de plantas frescas para ajudar designers a pensar novas estampas. Além desses projetos mencionados, a Simbiótica já levou seus serviços para o grupo Capim Santo, L’Occitane en Provence, Museu do Jardim Botânico de São Paulo, entre outros.

Os valores das experiências, segundo Cris, variam de 2 mil a 30 mil reais, dependendo da customização e do número de participantes envolvidos.

NA TEORIA, TODO MUNDO SABE OS BENEFÍCIOS DA NATUREZA. FALTA SENTIR NA PRÁTICA

Na visão de Anderson e Cris, a pandemia, de fato, fez aumentar a percepção das pessoas sobre os benefícios do contato com a natureza — mas também aumentou a reclusão.

Por outro lado, as empresas começaram a reconhecer a importância do verde e da saúde mental, porém muitas ainda não sabem como agir em relação ao tema.

Experiência realizada com parte da equipe do Capim Santo na sede do Condô Cultural.

Cris afirma: “Gosto de uma provocação do Anderson que nos faz lembrar que a última vez que estudamos botânica foi provavelmente no colégio, quando colocamos um feijãozinho no algodão. Depois, a gente vai se afastando do tema.” Anderson complementa: 

“Fazer essa reconexão é um desafio, ainda mais no mundo corporativo. As pessoas acham que só podem se reconectar com a natureza nas férias. Mas dá para fazer isso na cidade e dentro das empresas”

Para os empreendedores, a atualização da NR-1, norma que estabelece diretrizes para a saúde e segurança no trabalho, agora com foco em saúde mental, ajuda a reforçar a relevância desse tipo de iniciativa.

“Nos últimos anos, conseguimos mostrar que é possível, sim, criar espaços de bem-estar a partir do encantamento com a natureza no mundo corporativo”, afirma Cris. E conclui com um chamado à conscientização ambiental tão simples quanto potente:

“Quando você se encanta com a natureza, involuntariamente começa a cuidar dela”

No fundo, essa é a simbiose básica da qual depende toda a nossa existência.

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