E se as próprias bactérias que já vivem no meio aquático fossem a chave para limpar rios e mananciais poluídos, sem a necessidade de usar produtos químicos nesse processo? Essa é uma das propostas da O2eco Tecnologia Ambiental, cleantech fundada em 2018 por Luis Fernando Magalhães, em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, interior paulista.
A startup aposta na bioestimulação natural de rios, com uma solução baseada na natureza, para promover a despoluição hídrica de forma sustentável. E infelizmente, o que não falta são lugares precisando dessa tecnologia. Segundo a Agência Nacional de Águas, o Brasil tem cerca de 114 mil quilômetros de rios poluídos.
Mas a O2eco vai além: a empresa também atua com desaguamento inteligente de lodo industrial e a criação de barreiras contra plantas aquáticas “invasoras”.
Luis conta que sempre esteve ligado à natureza. “Isso me levou a estudar agronomia numa outra vida”, brinca. Ele cursou a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e, no terceiro ano, decidiu passar dois meses de férias na Austrália. “Acabei ficando 14 anos.”
Lá, estudou administração e marketing e trabalhou na área educacional. De volta ao Brasil, em 2009, auxiliou no fomento de pesquisas colaborativas entre universidades daqui e da Oceania (também foi vice-presidente da Câmara do Comércio Brasil-Austrália, no Rio de Janeiro).
Foi durante esse trabalho de pesquisa colaborativa que Luis se aproximou de soluções para o meio ambiente; conheceu então uma tecnologia australiana de despoluição hídrica e buscou entender se ela poderia servir para o cenário brasileiro. A validação da aplicabilidade, sua paixão pelos oceanos (Luis é nadador de mar aberto) e o entendimento da profundidade do problema o motivaram a empreender a O2eco:
“Hoje, 20% dos rios do bioma da Mata Atlântica estão impróprios para a agricultura, para a indústria ou o abastecimento humano. Só para se ter uma ideia, em 2040 o estado de São Paulo vai precisar usar 9 bilhões de litros de água por dia… Se os rios estão poluídos dessa forma, não vai ter abastecimento”
E aí o escopo da questão se amplia (e se complica): “A gente sai de uma conversa sobre meio ambiente para um debate sobre segurança hídrica e transição econômica, porque muitas plantações terão que mudar de lugar por falta de irrigação”.
A primeira solução da O2eco é o TWC-O2eco, baseada na tecnologia australiana. Trata-se de um sistema de bioestimulação natural que utiliza placas de parafina com nanominerais e acelera a regeneração da água, sem a necessidade de agentes químicos ou organismos externos.
“Ao serem submersas na água, essas placas atraem as bactérias benéficas que já estão naturalmente nesse meio e fazem com que esses microrganismos cresçam de forma exponencial, consumindo poluentes orgânicos e inorgânicos”
Com essa tecnologia, a startup já atuou em projetos como a recuperação de um trecho do rio Embu-Guaçu (SP), o lago da Prefeitura de São José dos Campos e o córrego Vargem do Tropeiro, em Sete Lagoas (MG), em parceria com a Ambev.
A segunda solução, batizada de Salus, surgiu de uma tecnologia desenvolvida pelo pesquisador e engenheiro civil Matheus Müller, que se tornou cofundador da empresa. Antes já tinham entrado na sociedade Newton Ferraro Júnior e Nivaldo Friol, da 2N Engenharia, que trouxeram smart money e investimentos para a startups (juntos, Nilton, Nivaldo e Luis aportaram cerca de 2 milhões de reais no negócio).
O sistema criado por Müller desidrata o lodo industrial, composto por até 98% de água, permitindo reduzir custos operacionais em até 30%, além de devolver milhões de litros para reuso.
“Com essa inovação, a gente conseguiu reduzir uma planta da Ambev que tinha 3.600 metros cúbicos de lodo para 16 metros cúbicos”
Já no shopping Vale Sul, em São José dos Campos, que precisava usar 96 caminhões por ano para retirar o lodo gerado pelo estabelecimento, a solução da startup possibilitou a utilização de apenas um veículo no processo. Entre outros clientes estão Sabesp, Novelis e Iguá Saneamento. Segundo cálculos de Luis, a startup já recuperou mais de 1 bilhão de litros de água de indústrias.
Mais recentemente, a O2eco lançou uma terceira solução: ecobarreiras em rios para evitar que plantas aquáticas que se alimentam e proliferam em ambientes ricos em fósforo e nitrogênio avancem até sistemas de captação de tratamento de água. Atualmente, a startup desenvolve, junto com a Unesp de Guaratinguetá (SP), um projeto que combina essas barreiras com as placas de bioestimulação.
Recentemente, a O2eco foi eleita a startup mais inovadora entre 100 empresas da etapa nacional na premiação Global Tech Innovator da KPMG — e representará o Brasil na disputa global, no Web Summit, em Lisboa, entre 10 e 13 de novembro.
“Com essa chancela da KMPG, mais de 40 pessoas me adicionaram no LinkedIn dias depois do anúncio. No Instagram, 30 mil pessoas interagiram de alguma forma com o conteúdo da premiação. E essa exposição abre caminho para a captação de clientes e outras oportunidades”
Este não é o primeiro prêmio recebido pela startup. Em 2023, a o2eco ficou em primeiro lugar na seleção do programa 100+ Accelerator, da InBev/Ambev, representando o Brasil na Bélgica. De lá, Luis conta que saiu com um cheque de 500 mil reais para tocar um projeto (ainda em desenvolvimento) para Ambev, Colgate-Palmolive, Coca-Cola, Danone e Unilever. A ideia é promover um raio-x do impacto da biodiversidade em rios brasileiros a serem recuperados em parceria com essas empresas.
Entre outros reconhecimentos em programas de aceleração ao longo dos últimos anos, Luis cita também a quinta colocação da O2eco no ranking 100 Open Startups, em 2024.
De olho no futuro, o empreendedor faz planos para expandir o alcance da O2eco. “Estive em um evento em Belém com a Organização dos Estados Americanos, onde fiz quatro cartas de intenção de internacionalização para Buenos Aires e Córdoba, na Argentina, Barranquilla, na Colômbia, e Paraguai”, diz Luis.
Ele afirma que na verdade a startup já atua fora do Brasil. “Estamos em Portugal em um projeto com o Grupo Indaqua, em Matosinhos [na região metropolitana da cidade do Porto, no norte do país]. E a ideia é chegar à Espanha e Irlanda. Mas também seguimos com o pé no chão, porque o próprio Brasil é imenso e já tem seus desafios.”
Em paralelo, Luis revela um projeto pessoal que, no longo prazo, sonha em tornar realidade: a criação de um mercado de crédito hídrico, inspirado no modelo de crédito de carbono.
“É inconcebível falar de reflorestamento e de crédito de carbono se não trouxermos a água para o centro da conversa”
E completa: “A gente já conseguiu organizar o crédito de carbono, que era uma coisa tão difusa. Por que não apostar que grandes empresas podem regenerar e preservar esses 114 mil quilômetros de rios poluídos a partir desses créditos com algum tipo de incentivo?”
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