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Ela transformou a menopausa em um ponto de partida para repensar o envelhecimento e a sociedade latino-americana

Maisa Infante - 29 set 2025 Miriam De Paoli, fundadora da startup No Pausa, criada para oferecer informação acessível e confiável para mulheres na menopausa.
Miriam De Paoli, fundadora da startup No Pausa, criada para oferecer informação acessível e confiável para mulheres na menopausa.
Maisa Infante - 29 set 2025
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Quando tinha 48 anos, Miriam De Paoli, hoje com 55, se viu dentro de uma máquina de PET scan, um tipo de tomografia que detecta sinais precoces de doenças. Convencida de que poderia estar com demência senil — em sua família, pessoas que passaram dos 80 anos desenvolveram o problema —, ela se apavorou com a frequência dos esquecimentos.

Felizmente, não era demência. Aqueles esquecimentos eram, na verdade, sintomas da perimenopausa, fase de transformações hormonais que chega para todas as mulheres e antecede a menopausa.

Natural do Paraná, Miriam vive em Buenos Aires, na Argentina, há 30 anos. Ela relembra:

“Demorei um ano e meio para entender o que estava acontecendo. Na verdade, achei que estava ficando louca. Tive muito problema com o sono, cognição, anemia e até problema nos dentes por causa da retração de gengiva, que é comum nessa fase, mas eu não sabia. Tudo isso junto e sem entender o que estava me acontecendo foi muito explosivo. Até porque há seis anos ninguém falava de menopausa” 

No dia em abriu os resultados de alguns exames dentro do táxi e pela primeira vez leu a palavra “perimenopausa”. Achou que era uma doença relacionada à menopausa e correu para pesquisar na internet. Acabou encontrando mais dúvidas. “Só encontrava informações 100% médicas ou no estilo ‘vamos abraçar uma árvore e dançar pelo sagrado feminino’…”

Foi para preencher essa lacuna que nasceu o No Pausa, startup criada para oferecer informação acessível e confiável para mulheres nessa fase da vida.

O negócio começou apenas em espanhol, uma vez que Miriam mora na Argentina há 30 anos, mas logo ganhou uma versão em português. 

Com o tempo, o No Pausa ganhou novas funções. Hoje, é uma plataforma de atendimento integral especializada desde a perimenopausa até a pós-menopausa, que oferece teste de sintomas e acesso a profissionais e planos especializados, porém ainda sem operação no Brasil. A femtech também está entrando no mercado de suplementação, mas, por enquanto, apenas no Uruguai.

MOVIDA À PAIXÃO

O fio que atravessa a trajetória de Miriam é a paixão. Foi a paixão, aliás, que a tirou do Brasil em 1995, quando se casou com o também jornalista Ariel Palacios e se mudou para Argentina, onde ele foi trabalhar. Separados desde o início deste ano, eles seguem parceiros na criação da filha de 14 anos.

Na época, Miriam tinha pouco mais de 20 anos. Desde então, trabalhou como correspondente internacional da americana CBS e da rádio CBN, assessora na Televisa até chegar, em 2008, à comunicação empresarial na metalúrgica multinacional Tenaris, onde ficou por 13 anos.

E foi também por paixão — ao tema, às descobertas e à necessidade de falar sobre isso — que deixou o mundo corporativo em 2021 para se dedicar integralmente ao No Pausa, que ela havia criado em 2019 ao lado de Milagros Kirpach

Na mesma época, imersa no tema, ela se juntou à equipe do hub de pesquisa, tendência e inovação sobre economia da longevidade Data 8, para pesquisar o envelhecimento na América Latina. O resultado foi o estudo Tsunami Latam, um mapeamento com insights de consumo dos maduros 50+ em seis países da região.

“Comecei a ver que estávamos vivendo num mundo dicotômico, no qual o que acontecia com a gente não aparecia nem nos estudos de mercado, nem nas soluções oferecidas por ele”

Assim como a menopausa pode provocar um tsunami de transformações na vida de uma mulher — afinal, o estrogênio que começa a diminuir está ligado a funções que vão do sono à temperatura corporal, passando pela memória e composição física —, as descobertas sobre o impacto do envelhecimento populacional foram transformando a vida de Miriam.

A pesquisa abriu sua visão para algo ainda maior: não era apenas sobre menopausa ou saúde da mulher, mas sobre como o envelhecimento populacional redefine consumo, comportamento e negócios. 

PARA IR ALÉM DA SAÚDE FEMININA

Em 2023, ao ver uma pesquisa do British Fashion Council mostrando que, embora mulheres acima de 45 anos fossem as que mais gastavam em fast fashion, tinham apenas 3% de representatividade nas campanhas, Miriam percebeu que queria se aprofundar nesse campo de estudos.

“Não pode ser que a gente continue estudando um mundo que já não existe, que a gente continue criando produtos e serviços para um mundo que já não existe…”

No início deste ano, ela deixou a operação do No Pausa — mas continua sócia da startup — para se dedicar ao Data 8 Latam, braço do Data 8 focado na América Latina. 

Miriam conta que saiu porque o No Pausa que sonhava em construir não era o mesmo que os investidores estavam dispostos a financiar. “Eu queria um No Pausa que chegasse para mulher não privilegiada, que continuasse apoiando os programas para as mulheres em situação de vulnerabilidade”. 

Ao mesmo tempo, ela percebeu que sua grande motivação era escrever, pensar e provocar reflexões — atividades que se alinham melhor com o Data 8 Latam e também com a sua vida acadêmica como professora convidada da Universidade San Andres, onde lidera o tema de Novas Demografias.

“Meu objetivo com o Data 8 Latam é mostrar que existem inúmeras oportunidades de negócio ligadas ao envelhecimento, que vão muito além da menopausa. Uma mulher de 50 anos não tem as mesmas necessidades de outra com 70, e precisamos refletir isso em produtos e narrativas. Se é para falar de saúde, lingerie ou exercícios, que seja com recortes mais realistas”

Seja falando sobre menopausa, novas demografias ou modelos de negócio, Miriam parece sempre se mover pelo mesmo impulso: transformar experiências pessoais em conhecimento coletivo. Para ela, compreender o envelhecimento não é apenas uma necessidade de mercado, mas também um convite a abandonar a romantização do tema. 

“Quando a gente romantiza a longevidade, perde a real oportunidade de criar soluções. Ninguém gera produtos e serviços para personagens da Turma da Mônica, mas para gente real.”

Agora, aos 55 anos, ela também iniciou um doutorado em Ciências Políticas e já projeta os próximos passos: 

“Daqui a cinco anos, quero ver se conseguimos entrar em associações público-privadas e ajudar a formular leis. Não é fácil, mas eu quero me meter nisso”

Se virar paixão, tem tudo pra dar certo.

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