Nascida e criada no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Bianca Andrade tinha apenas 16 anos quando começou a postar seu trabalho como maquiadora nas redes sociais, com o objetivo de atrair clientes.
Gravar e postar com regularidade era um desafio por conta do barulho da família ou dos tiroteios no entorno… Na contramão da estética de outras influenciadoras do seu nicho, que gravavam de casa mesmo, ela resolveu apostar no sonho e alugar um estúdio. “Que bom que ouvi minha mãe que dizia que eu não sou igual a todo mundo — e não ouvi as pessoas que falavam que minha ideia não iria dar certo”
Hoje, aos 30, Bianca Andrade fatura 120 milhões de reais por ano com a Boca Rosa Beauty. A marca leva o nome do perfil com o qual Bianca postava conteúdos (no Instagram e no Youtube) sobre como misturar itens acessíveis de maquiagem para chegar ao mesmo resultado final obtido com um produto de luxo.
Com 14 anos de carreira no Instagram, Bianca mantém 19 milhões de seguidores. Ela já tinha sido capa da revista Exame e participado de uma campanha da operadora Vivo, mas sua fama explodiu de vez a partir de 2020, quando participou do Big Brother Brasil.
De lá para cá, Bianca estrelou outras campanhas (Brastemp e Itaú) e capas de revistas (Forbes, Capricho, Elle) e, em junho de 2024, após cinco anos de parceria com a Payot, lançou sua marca própria de maquiagem, com 50 tons de cor de pele para a base – rompendo um paradigma, já que as marcas brasileiras têm, em geral, de 12 a 24 opções, no máximo.
Também em 2024, uma pesquisa com 101 profissionais responsáveis pelo setor de marketing de influência em grandes empresas e 28 agências, concluiu que Bianca era a influenciadora mais relevante do Brasil, superando até a cantora Anitta, em fatores como visibilidade, awareness e engajamento.
A Boca Rosa Beauty faz parte da Boca Rosa Company, holding que abarca também uma empresa de produções artísticas e ocupa um andar inteiro de um prédio do Jardim Paulista, em São Paulo; ao todo, são 50 funcionários.
No mês passado, o Draft acompanhou a palestra de Bianca no Startup Summit em Florianópolis, promovido pelo Sebrae Startups e pela Acate, associação catarinense de tecnologia (entre outros palestrantes havia os CEOs do iFood e do Whatsapp no Brasil e o CTO da Amazon). Ela compartilhou sua história e as estratégias para transformar influência digital em uma empresa de sucesso. Confira:
Para Bianca, a principal característica que a fez crescer nas redes sociais e atrair um grande grupo de seguidoras que se transformaram em clientes foi, desde o início, proporcionar a elas um senso de pertencimento.
Hoje, sua empresa tem um núcleo totalmente dedicado a cuidar da comunidade.
“Não é difícil, mas é trabalhoso, requer ouvir o que as pessoas estão falando em todos os lugares, não só nas redes sociais, mas também pessoalmente”
Para conhecer as seguidoras pessoalmente — e viabilizar que elas se conhecessem —, Bianca começou marcando encontros em shoppings e na sua casa. “O que cria uma comunidade é realmente as pessoas se conhecerem e entenderem o que têm em comum”, diz.
Pensando em expandir sua presença e criar uma garantia de faturamento a longo prazo, ela propôs às marcas que já a apoiavam fechar um contrato para patrocinar uma turnê por vários estados brasileiros, durante seis meses. Deu certo.
“Eu fui a primeira a levar esse formato de encontrinhos pelo Brasil. Não se limite ao que você já viu no mercado: tem que fazer diferente, se questionar, sair do óbvio”
Um grupo grande no Telegram também faz parte da estratégia de serviços de comunidade. “Mas não é só isso. Tento mostrar para essas pessoas que me acompanham há 14 anos que sempre existe uma possibilidade de a gente se encontrar.”
Todo empreendedor e/ou criador de conteúdo precisa ter paixão por desempenhar papeis essenciais de seu trabalho. “Eu tenho muita paixão por falar com pessoas e me conectar”.
Ela diz que muitos criadores caem no erro de insistir em disparos de mensagens automáticas em grupos em aplicativos na tentativa de fomentar suas comunidades.
“Ficar mandando mensagens o tempo todo não é real — e a realidade é uma coisa muito importante na comunidade”
Bianca prefere buscar formas de fazer com que suas seguidoras mais fiéis se sintam especiais. Um exemplo: convidar essas seguidoras – e somente elas – para festejar alguma conquista em um encontro presencial.
“Isso é carinho e acesso. E está em falta. Os posts estão cada vez mais frios e o ChatGPT, mais desumano. Quem entender que o senso de comunidade é o oposto disso, vai crescer mais”
Bianca conta que quando tinha poucas seguidoras, logo que postava um conteúdo buscava saber o que elas acharam.
Mesmo para quem não se vê como criador(a) de conteúdo e usa as redes “apenas” para divulgar seu trabalho, ela insiste: cada post deve servir para iniciar uma conversa.
Um exemplo simples: uma manicure, em vez de só postar uma foto mostrando uma unha pronta, pode perguntar às seguidoras se gostaram daquele acabamento.
“Se você faz isso com frequência, começa a entender e conhecer as pessoas; a entender o que elas têm em comum, e conectá-las… O que essas pessoas gostam de assistir? Como elas assistem? Como elas consomem?”
Influenciar, afirma Bianca, não é falar só sobre si, ou fazer uma trend.
“Influenciar é se importar em ter uma troca com as pessoas, e isso hoje está muito raro, porque as pessoas focam no algoritmo, desesperadas em querer crescer em número, em querer viralizar, furar a bolha.”
Em 2020, Bianca participou do Big Brother Brasil a convite de Boninho, diretor do programa. Ela diz que topou sob uma condição: poder levar produtos da sua linha de maquiagem que tinha recém-lançado em parceria com a marca Payot.
Antes de entrar na casa, a influenciadora deixou fotos prontas em que usava as mesmas roupas, acessórios e maquiagem que levou para o programa. Assim, nas votações para o paredão, ela aparecia com looks coloridos e impactantes — e seu time logo postava fotos com a mesma estética, já engatilhadas no seu Instagram.
“Eu me arrisquei, mas tive uma estratégia, fui com um objetivo e intencionalidade. Saí do Big Brother faturando três vezes mais do que faturava na época”
O risco, neste caso, foi se aventurar em um ambiente não controlado: um reality show em TV aberta. “Fiquei feliz de ter conseguido cumprir com aquilo que eu me comprometi e prometi pra minha equipe.”
Acusada na internet de compactuar com situações machistas na casa do BBB, Bianca foi a primeira mulher a ser eliminada (após cinco semanas).
Ela diz que na ocasião perdeu centenas de milhares de seguidores — e, depois, ganhou outros milhões a mais.
“Eu passei por muitos altos e baixos. Saí canceladíssima do programa, mas já tinha lidado com isso antes”
Abordar a superação de desafios, diz, é uma forma melhor de fazer as pessoas se conectarem com você do que apenas seguir compartilhando nas redes os seus sonhos realizados. Em momentos assim, ela sugere uma comunicação transparente, dando ao público um vislumbre dos bastidores.
No fim de 2023 Bianca anunciou o fim de sua parceria de cinco anos com a Payot. Em junho do ano seguinte, lançou sua marca própria e independente. Logo enfrentou problemas em um lote de produtos recém-lançados; precisou pausar a produção, comunicar ao público o que estava acontecendo e fazer um ajuste de rota.
Além disso, as críticas que sofreu durante o BBB a fizeram levaram a estudar sobre feminismo. Isso, por sua vez, abriu não só sua cabeça, mas também oportunidades para entrevistas em revistas femininas discorrendo sobre temas que vão além de maquiagem.
“Passei a falar sobre equidade de gênero, e a relação da mulher com outras mulheres, e isso tem muito a ver com o que eu aprendi principalmente depois do Big Brother”
Hoje ela reflete sobre essas reviravoltas: “Todo o desafio eu transformei em aprendizado, o que fez com que me tornasse uma comunicadora social”, diz Bianca. “E isso também cria uma narrativa para as marcas que me apoiam no Instagram de forma natural e orgânica.”
Natalia Martins encontrou no design de sobrancelhas um nicho lucrativo e o começo de uma nova vida. Na semana do Empreendedorismo Feminino, o Draft foi conferir de perto as lições da CEO da Natalia Beauty para um auditório lotado de mulheres.
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